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[Archport] Bruno J. Navarro (1977-2021)

Subject :   [Archport] Bruno J. Navarro (1977-2021)
From :   Uniarq <uniarq@letras.ulisboa.pt>
Date :   Mon, 1 Feb 2021 08:53:55 +0000



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Com profunda consternação recebemos a notícia da morte de Bruno Navarro, Presidente da Fundação Côa Parque e investigador colaborador do Centro de História da Universidade de Lisboa.


Bruno Navarro era desde 2017 o dinamizador de um novo e dinâmico conceito de intervenção, investigação, valorização da paisagem arqueológica do vale do Côa -  https://arte-coa.pt/fundacao/


Nessa óptica quis e soube associar à Fundação diversos organismos, instituições, empresas, de entre as quais o Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq), que integra investigadores da Fundação.

Apresentamos à sua família, à Fundação Côa Parque e a todos os seus colaboradores, os mais sentidos pêsames, por esta dolorosa perda.


João Zilhão e Bruno J. Navarro na assinatura do protocolo de cooperação entre a Fundação Côa Parque, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e a UNIARQ, em Dezembro de 2019


A melhor forma que encontramos para homenagear Bruno Navarro é reproduzir o texto que entregou à newsletter da Uniarq do passado mês de Novembro e que, nestas trágicas circunstâncias, assume verdadeira dimensão de legado, que sentimos a obrigação de honrar:


Os desafios do projecto cultural do Vale do Côa

Bruno J. Navarro


A descoberta das gravuras rupestres do Vale do Côa e, sobretudo, o reconhecimento nacional e internacional deste que é o mais importante conjunto de figurações paleolíticas de ar livre até hoje conhecido, teve uma repercussão muito significativa na estrutura económica e social da região e, como sabemos, alterou o paradigma do que era, até esse momento, o conhecimento científico normalizado.
O Côa é hoje uma referência mundial na gestão do património cultural, integrando as mais diversas redes de cooperação nacional e internacional, nas áreas da Cultura, Educação e Ciência. Temos hoje um forte movimento turístico, alavancado por este bem patrimonial, inscrito desde 1998, na Lista do Comité do Património Mundial da UNESCO, que era impensável há vinte e cinco anos. Há negócios nas áreas da hotelaria, comércio e operação turística que muito provavelmente não existiriam nesta região se não tivessem sido descobertas, salvaguardadas e preservadas as gravuras rupestres do Vale do Côa. E sabemos que, de um modo geral, todos os stakeholders da região olham finalmente para nós como interlocutores incontornáveis para a desejada projecção desta região interior de Portugal, que desempenham um papel muito significativo na prossecução de projectos que visem contrariar a tendência de empobrecimento e desertificação deste território.
Não podemos pois deixar de fazer um balanço positivo da história recente do projecto cultural do Vale do Côa, apesar de todos os constrangimentos e solavancos bipolares que têm marcado o seu percurso, desde a corajosa decisão política da sua salvaguarda, preservação e valorização, em detrimento do milionário investimento hidroeléctrico, que ali começou a ganhar forma no início dos anos noventa do século passado. Se é verdade que, não raras vezes, a gestão do Museu e Parque Arqueológico marcou passo e até regrediu, em resultado de uma postura de acomodação, conformismo, inércia e até negligência, é mais do que justo reconhecer também o empenho inabalável de muitos actores, nas mais variadas áreas de intervenção, que nunca deixaram de reivindicar as legítimas aspirações que a comunidade regional, nacional e internacional depositou na missão da Fundação Côa Parque, herdeira institucional do Parque Arqueológico do Vale do Côa e do Centro Nacional de Arte Rupestre.   
Sem nunca esquecermos, por isso, esse passado que nos trouxe até aqui, o nosso foco não se desvia, por um segundo, dos desafios que o futuro coloca a esta instituição – porque a história deste projecto tem de continuar a fazer-se no presente e no futuro.


Os próximos anos serão cruciais para a definitiva consolidação do projecto cultural do Vale do Côa, de modo a que se cumpram, numa lógica de sustentabilidade, os desígnios que estão na sua génese:

  1. ser um projecto de salvaguarda, preservação e valorização do património cultural e natural da região, com capacidade de mobilização de parceiros e instrumentos financeiros, públicos e privados, que garantam o prosseguimento e reforço dos seus objectivos, nomeadamente em matéria de investimento que permita aprofundar e diversificar as suas áreas de actuação;
  2. ser um pólo de criação, irradiação e disseminação de conhecimento científico transversal e multidisciplinar, capaz de afirmar uma agenda de I&D que consiga atrair o interesse dos investigadores e das instituições académicas e científicas, nacionais e internacionais;
  3. ser um Centro Ciência Viva particularmente empenhado na formação humanista para a defesa do património cultural e ambiental, um verdadeiro parceiro das instituições educativas, comprometido com o apoio aos currículos escolares das diferentes áreas disciplinares e níveis de ensino, que inspire novos públicos para os valores da cidadania;
  4. e ser um agente económico dinâmico e descomplexado, que se posiciona como verdadeira plataforma de valorização de recursos endógenos de uma região alargada, contribuindo para a inversão daquelas tendências de desertificação e empobrecimento, propiciando a fixação das populações, o empreendedorismo, o crescimento e a criação de riqueza.

    Essa vocação estratégica deste projecto cultural terá, por isso, de se afirmar nos planos local, nacional e internacional:
  1. no plano local, pelo aprofundamento da sua relação com as instituições e as comunidades, promovendo uma efectiva política de cooperação, que inspire confiança e renove a esperança dos agentes políticos, económicos e sociais da região;
  2. no plano nacional, pelo estabelecimento de parcerias nas áreas da cultura, ciência e educação com outras instituições de referência que acrescentem valor aos objectivos, visão e missão desta instituição;

e no plano internacional, pela diversificação de parcerias com instituições congéneres, estimulando e replicando as melhores práticas de gestão patrimonial, e pela integração em redes de cooperação que coloquem o Vale do Côa no lugar que lhe cabe por direito próprio: o de ser uma região ímpar, de características únicas, plena de potencialidades e recursos, um exemplo paradigmático de afirmação do espírito transnacional, inclusivo e cosmopolita da Arte, da Cultura e da Ciência.


(in uniarq digital 45 - https://www.uniarq.net/uniarqdigital45.html#NAVARRO)


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