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[Archport] RE: Archilovers e a notícia de (mais) um achado romano em Londres

To :   Archport Archport <archport@ci.uc.pt>, Archport Archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] RE: Archilovers e a notícia de (mais) um achado romano em Londres
From :   Jorge Feio <jorgefeio77@hotmail.com>
Date :   Mon, 28 Feb 2022 22:10:03 +0000

Boa noite a todos!

Assim de repente, lembro-me da maior diferença de todas entre Portugal e Inglaterra: Em Portugal, 85% dos arqueólogos trabalha a recibos verdes e, pagos os impostos no final do mês, ficam com um vencimento inferior ao ordenado mínimo nacional. E depois de pagas todas as contas (gasóleo/gasolina, desgaste do carro - que foi colocado ao serviço da empresa que o sub contratou -, alimentação, renda da casa - que muitas empresas não pagam porque o sub contratado é "empresário" -, seguro de trabalho, medicina no trabalho) ainda tem de pedir dinheiro "emprestadado" aos pais ou ao cônjuge. Isto quando algumas empresas não se esquecem de lhe pagar o vencimento...

Em Portugal, alguns coordenadores auferem 50€ "brutos" ao dia, para trabalhos equivalentes àquilo que alguns coordenadores ingleses auferem 120000 libras ao ano. Sim há quem aufira na arqueologia essas verbas. Mas um coordenador em Portugal, por vezes em grandes obras realizadas em grandes cidades portuguesas, de elevado grau de responsabilidade, pode auferir 50€/dia. No máximo, há quem aufira nesse tipo de obras 1750€ ou 1800€... a recibos verdes!!! Feitas as contas no final do mês, o arqueólogo que aufere uma destas últimas verbas, entre aquilo que retém na fonte (25%) e o que paga à Segurança Social, paga ao Estado cerca de 48% daquilo que recebeu. Imaginemos que fica com 900€. Parece muito, não parece? Quanto custa um aluguer de um quarto em Lisboa? No mínimo, e com muita sorte à mistura, 300€. Quanto custa o desgaste do carro e o estacionamento? Ou, em alternativa, o passe para os transportes públicos? E a alimentação? Com quanto fica no final do mês? Zero euros. Não tem direito a 13º mês, ou ao subsídio de Natal. E quanto lhe pagam para fazer o relatório? Muitas vezes nada! E já vi arqueólogos a serem contratados por 800 euros/mês por empresas de subcontratação de pessoal. Num dos casos, o Dono-de-Obra pagava 4300€/mês por arqueólogo ao empreiteiro. Mas a tal empresa de subcontratação pagava 800€...

Apenas mais uma comparação: quando um arqueólogo (ou outro qualquer técnico superior, entra na função pública em Portugal, começa por auferir cerca de 1215€ mais subsídio de alimentação, ficando em cerca de 1315€. Mas o patrão ainda paga mais 30% do vencimento à segurança social, para que o seu colaborador possa vir a ter direito a todos os subsídios e a uma reforma condigna. Neste caso paga mais 303.75€. Ou seja, o trabalhador em início de carreira aufere limpos 964€, mas custa ao patrão 1618.75€/mês (21855€/ano, acrescentando os subsídios de férias e de Natal). Por ano, o trabalhador contratado, com tudo legal, recebe 13998€ limpos, juntando os supraditos subsídios (resulta em 1166.5€/mês). Quantos, entre os tais 85%, recebem isto? Muito poucochinhos

Creio que nada disto se passa em Inglaterra. Lá não há recibos verdes, a carreira de arqueólogo tem categorias e pagam bem.

Percebemos agora a razão de ser dos grandes males que afectam a arqueologia portuguesa? Quem é que pode pensar em publicações se todos os dias tem de andar mais preocupado em sobreviver (na real assunção da palavra) e em tentar fazer sobreviver a profissão que escolheu?

Coloquemo-nos no lugar destes colegas de uma vez por todas a ajudemos a melhorar a situação.

Um abraço a todos

Jorge Feio

Arqueólogo


De: archport-bounces@ci.uc.pt <archport-bounces@ci.uc.pt> em nome de vasco gil mantas <vsmantas@gmail.com>
Enviado: 28 de fevereiro de 2022 18:16
Para: CARLOS FABIÃO <cfabiao@campus.ul.pt>
Cc: porras <pporras@der.ucm.es>; archport <archport@ci.uc.pt>; José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Assunto: Re: [Archport] Archilovers e a notícia de (mais) um achado romano em Londres
 
Sem dúvida! Tantos relatórios de escavação "guardados" sem qualquer circulação, mesmo mínima.
Realmente, alguma coisa está mal, ou melhor, continua mal.
Vasco Mantas

Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião <cfabiao@campus.ul.pt> escreveu no dia segunda, 28/02/2022 à(s) 16:47:
Bonito, de facto.
Diria que a principal diferença entre o que acontece por lá e o que acontece em Lisboa reside justamente na informação / divulgação.
Por lá, vai-se sabendo, por cá, nem por isso... Infelizmente. 
Não é bom para o conhecimento do passado e nada bom para o prestígio social / público da actividade arqueológica.

<jde@fl.uc.pt> escreveu no dia segunda, 28/02/2022 à(s) 16:34:

A notícia que o acesso https://www.archilovers.com/stories/29955/an-incredibly-well-preserved-mosaic-uncovered-near-the-shard-in-london.html?utm_source=lov&utm_medium=email&utm_campaign=lov_news&utm_content=lov_world nos abre transporta-nos para Londres. E, se dúvidas houvesse, também por lá as obras (pequenas e grandes, privadas e públicas) descobrem fatias do Passado. Um mosaico romano, mostra algum do seu antigo esplendor.

 

Umas tesselas granditas, aquelas…

 

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