In memoriam do Professor Julio Mangas Conheci Julio Mangas em Abril de 1984, quando ainda era professor na Universidade de Oviedo, por me haver convidado a participar no V Colóquio de História Antigua. E desde então mantivemos frequente e mui salutar contacto. Sabia da áspera recensão que Robert Étienne fez do seu livro Esclavos y Libertos en la España Romana, publicada nas Acta Salmanticensia, 62, Salamanca, 1971. A crítica foi inserida em AEA 49 1976 211-224, e, aliás, muito viria a contribuir para dar a conhecer o trabalho de Julio Mangas. Tivemos ocasião de a comentar, tendo ele várias vezes dito que, para não molestar os colegas portugueses, o título deveria ter sido Hispânia Romana e na Espanha Romana. Aliás, nesse âmbito, desde logo se escusaram, naturalmente, os lapsos então cometidos, por estarmos – recorde-se – nos primórdios do renascer da ciência epigráfica entre nós e essa era a publicação da tese de doutoramento que defendera em Salamanca no ano de 1969! Os dois mui densos volumes de Debita Verba (mais de 1500 páginas) que reuniram, em 2013, os estudos que lhe foram dedicados pelos amigos, numa edição conjunta da Complutense e da Universidade de Oviedo, com edição da responsabilidade de Rosa María Cid López y Estela García Fernández, patenteiam as amizades que granjeou. Dele traçam aí as editoras, nas p. 15 a 27, o que foi a sua intensa actividade em prol dos estudos sobre História Antiga hispânica – e para essas páginas ora se remete. Em todo o caso, importa dizer que foi um dos primeiros discípulos de José María Blázquez Martinez, que lhe dirigiu a tese de doutoramento, em cuja honra Julio Mangas (em estreita colaboração com Jaime Alvar) promoveu a publicação de 6 volumes de homenagem (foi o 1º publicado em 1983). Depois de Salamanca, foi ocupar, em Oviedo, com apenas 33 anos de idade, a cátedra de Historia Antigua Universal y de España. Devem-se-lhe, nessa universidade, os mui concorridos Colóquios de Historia Antigua, cujas comunicações haviam de ser prontamente publicadas na revista Memorias de Historia Antigua (I nº em 1977). Quantos tiveram a dita de participar nesses colóquios, revêem-se, sem hesitação, no que Estela Cid e Rosa Cid escreveram a esse propósito (Debita Verba I p. 20): «Durante unos días y en un ambiente donde predominaba el diálogo y la cordialidad, que es la marca personal que Julio Mangas confiere a su quehacer, Oviedo se convirtió en el punto de encuentro de profesores (y estudiantes) que se relacionaban profesional e intelectualmente en libertad y que, desde planteamientos historiográficos que iban desde el marxismo ortodoxo hasta el positivismo, discutían sobre formaciones sociales, relaciones de dependencia o formas de intercambio durante la Antigüedad». De Oviedo partiria para Madrid e o seu nome ficará indelevelmente ligado à criação do Archivo Epigráfico de Hispania, em cujo seio surgiu a Hispania Antigua Epigraphica (I volume em 1982), hoje uma referência bibliográfica fundamental. Bastem estas palavras – redigidas (que o são!) na dor de quem acaba de perder um Amigo do peito, companheiro de muitas andanças – para, em muito pálida imagem, se aquilatar do que foi a obra inesquecível de um militante operário da História Antiga! Requiescat in pace! José d’Encarnação |
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