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[Archport] Consulta pública do RECAPE das Ruínas Romanas de Troia

To :   "museum" <museum@ci.uc.pt>, "histport" <histport@uc.pt>, "archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Consulta pública do RECAPE das Ruínas Romanas de Troia
From :   <jde@fl.uc.pt>
Date :   Wed, 26 Oct 2022 00:04:19 +0100

Olá!

 

Está aberta até ao dia 28 a consulta pública acerca do projecto na envolvente das Ruínas Romanas de Troia (apenas até 28 de outubro!):

https://participa.pt/pt/consulta/recape-da-ocupacao-turistica-da-unop4-de-troia

 

Com a devida vénia, dou conhecimento da tomada de posição da Dra. Adília Alarcão acerca deste momentoso assunto:

 

[…] Também eu felicito Patrícia Brum pela sua iniciativa e pelo memorando que, com toda a clareza e indiscutível argumentação, defende a

existência de um museu (monográfico) para as Ruínas de Troia de Setúbal, rejeitando a proposta do centro de interpretação incluído no projecto que se encontra em consulta pública. 

 

Pessoalmente, não posso deixar de lamentar que o prazo da consulta seja tão curto e termine dentro de dois dias, esperando que outros, que do assunto tiveram conhecimento mais cedo, tenham tomado as medidas de crítica construtiva e acautelamento que se impunham.

 

Quando a IMOAREIA (Grupo SONAE) solicitou o apoio de Jorge Alarcão (J.A.) como consultor científico, foi elaborado um plano estratégico para o desenvolvimento do conhecimento, salvaguarda e apresentação pública do Sítio.

Entre outros temas, então abordados, propunha-se a criação de uma equipa permanente de arqueologia, um novo percurso de visita, devidamente equipado e a conservação dos edifícios romanos exumados em diferentes momentos da história da descoberta deste complexo arqueológico. Tais requisitos começaram a concretizar-se a partir de 2007. Em 2011 já o percurso de visita, dotado de paineis informativos se encontrava finalizado, sucedendo-se a conservação de grande parte das ruínas e diversos trabalhos de escavação ainda em curso.

A conversão do chamado palácio Sottomayor a hotel de charme—um objectivo muito acarinhado pela Empresa, foi liminarmente rejeitado por J.A. devido à óbvia inadequação de tal serviço à localização do imóvel junto da basílica paleo-cristã, de um cemitério tardo-romano e outras, certamente importantes, ruínas cobertas pela Capela de Nossa Senhora do Rosário.

Dados a dimensão, custos e dificuldades inerentes à localização e natureza do terreno deste Sítio, J.A. propôs que ele fosse aberto à cooperação científica internacional.

A necessidade de uma estrutura de apoio técnico-científico a escavações em larga escala e a importância das Ruínas Romanas de Troia justificavam, desde logo, em sua opinião, a criação de um museu.

Como se verifica, as últimas opiniões não foram acolhidas.

 

O projecto de execução, actualmente em discussão, apresentado pela PROMONTÓRIO, representa uma notável melhoria em relação ao documento anterior que lhe serviu de base, sendo muito pertinentes as justificações que estes arquitectos apresentam para a supressão ou alteração de algumas valências.

Contudo, o projecto está ferido à partida, pela natureza do programa, ou seja, não se deve construir equipamento hoteleiro no interior do espaço arqueológico e um centro de interpretação das ruínas é insuficiente para a importância e exigências técnico-científicas do Sítio.

 

Idealmente, a casa da família Sottomaior, construída nos anos 1920, deveria desaparecer, pois o seu valor histórico-arquitectónico não se sobrepõe à perturbação visual e compreensão do lugar em que se ergue. Também a Capela é perturbadora, mas impõe-se pelo  seu significado antropológico, como permanência no tempo da memória de um lugar sagrado, de oração.

 

É de louvar que o Grupo Troia Resort e a Câmara Municipal de Grândola se empenhem em tornar o sítio arqueológico de Troia atractivo e rentável, mas a importância deste Monumento Nacional (desde 1911) exige que todas as intervenções nele realizadas se pautem pelos critérios mais actuais e exigentes da Arqueologia, da Museologia, da Conservação e da Paisagem. Ao Ministério da Cultura, por intermédio dos seus Serviços competentes, compete garantir essa exigência.

 

A inscrição aceite pela Comissão Nacional da Unesco do Complexo Industrial Romano de Salga e Conserva de Peixe, as Ruínas Romanas de Troia, na lista indicativa de Portugal ao Património Mundial, aumenta a obrigação de ser exigente.

 

Adília 


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