Recorto, com a devida vénia, os primeiros parágrafos do despacho de Sofia Parissi, publicado na Sábado do dia 6:
Arqueólogo amador descobre sistema de "escrita" da Idade do Gelo
Sofia Parissi 06 de janeiro
A investigação sugere que os desenhos rupestres eram usados para registar informações sobre o tempo dos ciclos reprodutivos dos animais.
O restaurador de móveis e arqueólogo amador, Ben Bacon, descobriu um sistema de "escrita" primitivo usado por caçadores-recoletores da Idade do Gelo. O investigador analisou marcas em desenhos com 20 mil anos e concluiu que faziam parte de um calendário lunar.
Estas pinturas rupestres do Idade do Gelo de espécies como renas e bovinos já extintos foram encontradas ao longo dos anos em várias cavernas espalhadas pela toda a Europa. Nessas mesmas imagens foram identificadas sequências de pontos e marcas, que Ben Bacon decidiu descodificar, através da análise de investigações e imagens antigas disponíveis na Biblioteca Britânica.
A investigação sugere que os desenhos rupestres eram usados para registar informações sobre o tempo dos ciclos reprodutivos dos animais. A equipa deduziu que o número de marcas associadas aos animais da Idade do Gelo faziam parte de um registo, por mês lunar, de quando decorria o acasalamento. Os investigadores consideraram que a inclusão de um sinal "Y", formado pela adição de uma linha divergente a outra, significava "dar à luz".
Este sistema não se considera "escrita" porque transmite apenas informações numéricas e não representa traduções do discurso. Por essa razão é considerado um sistema de "proto-escrita", que consiste na utilização de marcas para transmitir informação.
Citado pela BBC News, Ben Bacon afirmou que foi "surreal" descobrir pela primeira vez o que os caçadores-recoletores estavam a tentar transmitir.
Apesar de ser um arqueólogo amador, o investigador contactou uma equipa de académicos com a sua teoria e foi incentivado a prosseguir com a pesquisa. Ben Bacon trabalhou em conjunto com professores das universidades de Durham e College London, para publicar um artigo no Cambridge Archaeological Journal.
O professor Paul Pettitt, arqueólogo da Universidade de Durham, afirmou, citado pelo jornal The Guardian: "Os resultados mostram que os caçadores-recoletores da Idade do Gelo foram os primeiros a usar um calendário sistémico e marcas para registar informações sobre os principais eventos ecológicos dentro desse calendário".
E acrescentou: "Por sua vez, podemos mostrar que essas pessoas, que deixaram um legado de arte espetacular nas cavernas de Lascaux, em França, e Altamira, em Espanha, também deixaram um registo de cronometragem precoce que acabaria por se tornar algo comum na nossa espécie".