O Ministério da Educação respeitou a data para a divulgação das
listas de colocações dos docentes para o ano lectivo que está prestes a
começar. Na segunda-feira à tarde, muitos docentes "colaram-se" à
Internet para saberem qual a nova morada de trabalho. Até ao momento, foram
colocados 17.300 professores, 10 mil dos quais por renovação do contrato.
Mais de 30 mil candidatos continuam à espera.
A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) não tardou a reagir às
colocações dos docentes, embora tenha já marcado uma conferência de imprensa
para 1 de Setembro, na qual promete uma posição final e
"pormenorizada" sobre as listas. De qualquer forma, na sua página
da Internet, a FENPROF fala em "quadros desajustados" nas escolas e
num aumento de níveis de contratação.
"Confirma-se, mais uma vez, que o Ministério da Educação (ME), para
garantir a estabilidade do corpo de docentes das escolas, não tem alternativa
que não seja a realização de um concurso, em 2011, para ingresso nos quadros,
como, aliás, já se encontra previsto, na sequência de negociações realizadas
com as organizações sindicais", escreve no seu sítio da Internet.
Para a FENPROF, o número de professores e educadores colocados nesta fase
comprova uma realidade: os agrupamentos de escolas têm os seus quadros
subocupados ou subdimensionados. "Tal resulta sobretudo do facto de, nos
últimos quatro anos, terem entrado menos de 400 docentes nos quadros, apesar
de se terem verificado mais de 16 mil aposentações", adianta.
A estrutura representativa dos professores revela ainda que há dúvidas quanto
à legalidade de algumas renovações de contrato e promete saber quais os
critérios que foram adoptados. Quanto a possíveis erros, a FENPROF garante
que há reclamações relativas a ultrapassagens. "Falta saber, contudo, se
elas se devem a erros cometidos ou a graves injustiças que decorrem da consideração,
na opinião da FENPROF, ilegal, da avaliação nos concursos."
Ao EDUCARE.PT, Mário Nogueira, secretário-geral da FENPROF, adianta que, a
breve trecho, as escolas viverão um clima de instabilidade por terem um
"número elevado de professores contratados a prazo que deviam estar nos
quadros". "E isto começa a ser uma situação insustentável para as
escolas que hoje têm de lidar com respostas precárias e transitórias",
afirma. O responsável recua ao ano de 2006 para lembrar que, nesse ano, foram
colocados 2700 professores em regime de contrato. Um número que subiu para
mais de 17 mil em 2010.
"Em quatro anos, aposentaram-se 16 mil professores e entraram nos
quadros menos de 400", diz. Para Mário Nogueira, continua a haver
necessidades que não são preenchidas. "Neste momento, há escolas com
quadros subocupados e, em alguns casos, subdimensionados". Por outro
lado, o secretário-geral da FENPROF revela que cerca de cinco mil professores
foram retirados do concurso por não terem manifestado preferência. Uma situação
que está a analisar.
A Federação Nacional de Educação (FNE) fez as contas e adianta que há cerca
de 20 mil docentes em regime de contrato e, por isso, tal como a FENPROF,
defende a realização do concurso extraordinário de contratação de professores
que dê uma efectiva resposta ao sistema educativo nacional. João Dias da
Silva, secretário-geral da FNE, refere, ao EDUCARE.PT, que este concurso veio
confirmar "a manutenção do regime de instabilidade e precariedade, para
o qual é preciso encontrar uma solução".
"Verificamos que cerca de 20 mil professores estão agora a ser colocados
em regime de contratação. É um número excessivo para o nosso sistema
educativo que precisa de ter mais professores em regime de permanência",
avança. Na sua opinião, há um desrespeito neste processo. "É uma falta
de respeito não atribuir às escolas os recursos humanos de que precisam para
trabalharem", acrescenta.
O responsável lembra ainda que, ao longo do ano lectivo, será necessário
substituir professores, por várias razões, e que essas situações trarão, uma
vez mais, dificuldades para os estabelecimentos de ensino. Casos que,
sublinha, poderiam ser evitados "se, em cada agrupamento de escolas,
houvesse uma bolsa de professores, quer para as substituições temporárias, quer
para o desenvolvimento de mecanismos de apoio à promoção do sistema
educativo".
Os professores colocados começam a ocupar os seus lugares. Carla Madureira,
professora de educação especial, apresenta-se hoje na sua nova escola.
Professora contratada com horário completo, a docente está satisfeita com a
sua colocação, numa estreia no ensino especial. E nada a assinalar quanto ao
processo. "Correu tudo bem. No meu caso, não houve qualquer
irregularidade", refere.
Carla Barbosa, professora de Educação Visual e Tecnológica, foi reconduzida
na escola que leccionava no ano passado, a cerca de 30 quilómetros de
casa. A entrar no oitavo ano como docente contratada, Carla Barbosa
apresenta-se amanhã no estabelecimento de ensino. Quanto ao processo, garante
que foi tudo pacífico, mas, na sua opinião, a tutela deveria dar mais atenção
às datas. "Na questão das listas, acho que deveria haver a indicação de
uma data, uma vez que é um bocadinho complicado para quem, de um dia para o
outro, tem de fazer as malas e ir dar aulas para longe de casa", repara.
Este ano, o concurso de colocação de docentes voltou a merecer algumas
críticas. A FENPROF chegou a apontar o dedo a ilegalidades e a erros
técnicos. O ME admitiu, no seu site, que a Direcção-Geral dos Recursos Humanos
da Educação (DGRHE) detectou que a aplicação informática fez uma importação
incorrecta de códigos de zona pedagógica, que deverá ter afectado 12
candidatos que, entretanto, foram contactos para rectificarem a sua
candidatura.
A tutela sempre assegurou que o concurso de docentes decorria na normalidade,
que estava a cumprir a lei e a cumprir os procedimentos para a colocação
atempada dos professores. Além disso, garantiu que foi dada "resposta
atempada a todas as reclamações", que "os docentes notificados
podem consultá-las no sítio da Internet da DGRHE" e que o próximo ano
lectivo "se iniciará com toda a normalidade dentro dos prazos fixados na
lei".
(Por Sara R. Oliveira, in Educare)
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