[Atped] Fw: Dispositivo deixa cegos 'ver' pessoas e objectos
Artigo no DN
http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1702315
Técnica inovadora permite aos invisuais recuperarem uma visão limitada, mas
útil para o dia-a-dia. Está em desenvolvimento uma segunda versão do
protótipo
Uma equipa de 19 cientistas liderada pelo professor Eberhart Zrenner, do
Centro de Oftalmologia da Universidade alemã de Tubinga, realizou um
conjunto de testes em três voluntários cujos resultados indicam "forte
evidência de que as funções visuais dos doentes cegos, devido a distrofia
hereditária da retina podem, em princípio, ser recuperadas em grau
suficiente para serem usadas na vida diária", lê-se no estudo publicado por
estes cientistas na mais recente edição de Proceedings of The Royal Society
B, publicação académica especializada (peer review) britânica.
Considerando que a retina interna não sofre alterações nos casos de
degeneração macular - que atinge sobretudo pessoas de mais idade - e de
retinite pigmentosa - doença genética na origem de situações de cegueira
incurável -, a equipa de Eberhart Zrenner tentou a restauração parcial da
visão, recorrendo a estímulos eléctricos sobre o conjunto da retina.
A novidade do método utilizado nesta experiência encontra-se no recurso a um
implante colocado na zona afectada do interior da retina. O implante
destina-se a substituir as células fotorreceptoras da- nificadas,
transformando a luz de cada imagem, ponto por ponto, em pequenas correntes
proporcionais ao estímulo da luz.
Designado como implante sub-retinal electrónico (ver gráfico), o dispositivo
é formado por mais de 1500 microfotodíodos, cada um com os seus respectivos
ampliadores e eléctrodos para estímulo local. O dispositivo permite a
projecção directa no chip colocado sob a retina. O chip gera então um
estímulo eléctrico dependente da intensidade da luz do objecto, que permite
a sua identificação pelo doente.
Nestas condições, os voluntários da experiência, dois homens
(respectivamente de 40 e 44 anos) e uma mulher (de 38 anos) conseguiram
identificar vários objectos e, como notam os autores da investigação, de
forma imediata, conseguiram localizar e aproximar-se de pessoas numa sala.
Sem preparação prévia, e após vários anos de cegueira, sublinha o texto
publicado no Proceedings of The Royal Society B, conseguiram também
identificar letras e ler palavras completas.
Foram estes três voluntários que obtiveram os resultados mais animadores,
pois num primeiro momento da experiência, envolvendo a participação de 11
pessoas - e com o chip colocado numa área menos profunda da retina -, houve
algumas melhorias, mas nitidamente inferiores aos resultados alcançados
pelos envolvidos na segunda fase da experiência.
Um dos três participantes nesta segunda fase, o finlandês Miikka Terho,
afirmou que, quando tinha luz diante dos olhos, "podia ver o seu brilho,
algo até agora impossível". Foi Terho a ir mais longe nos resultados, sendo
ele a identificar palavras e a ordem correcta de letras numa sequência
deliberadamente confusa.
Para Terho, que irá receber em breve uma nova versão do protótipo, o
dispositivo "é importante para orientação e visualização do espaço, ainda
que não se perceba todos os detalhes". O finlandês afirma ter recuperado "a
espectacular sensação de poder focar o olhar nalguma coisa".
A equipa do professor Zrenner mostra-se confiante de que, perante estes
resultados, o dispositivo sub-retinal pode permitir que pessoas cegas
recuperem uma percepção visual útil na vida diária. Segundo o estudo, é
"possível passar de um estado de cegueira total para uma visão
significativa. Especialmente nos doentes em que não se revelaram produtivos
os tratamentos genéticos ou em casos em que se torna impossível recorrer a
agentes neuroprotectores. Em paralelo, o implante sub-retinal, a ser
desenvolvido pela empresa alemã Retina Implant AG, foi testado em termos da
viabilidade da sua implantação cirúrgica, através de técnicas específicas e
dos diferentes níveis de compatibilidade com o paciente".