Olá! Nesta nossa campanha de erguer bem alto o nosso vocabulário vernáculo, registo, com todo o gosto, o comentário da Maria António Hörster, docente na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que muito agradeço: Há alguns casos de anglicização da nossa língua, que me incomodam muito, muito mesmo. Mas já (quase) desisti de lutar ou, simplesmente, de me revoltar. Um deles é o uso de "realizar" no sentido de "capacitar-se de". Por exemplo: "Já realizaste que não tens hipótese nesse caso?". O outro, mais recente, mas para mim mais doloroso ainda, é o uso de "submeter", no sentido de "apresentar". Penso que a FCT tem muitas culpas no cartório, porque na sua correspondência e nos seus formulários, se usa exclusivamente (e com muita ignorância) a fórmula "submeter uma proposta" (como tradução do "submit" inglês), quando até há uns 10-15 anos, toda a gente "apresentava uma proposta". Este dói mesmo. Ando, há anos, a tentar reconstituir o vocabulário dos meus Pais, ambos falecidos há muito. Hoje, registei a expressão "não dar prego sem estopa", que, por curiosidade, envio. Fui ver à rede e o sentido que apresentam coincide com o que a minha Mãe lhe dava. Aí vai: Tem o sentido de ser prevenido, tomar todos os cuidados, não fazer nada antes de certificar-se de que o resultado será certo. Por amor de Deus! – protestará alguém – o que tem estopa a ver com prego? Muito. O termo é originário de Portugal, onde, por tratar-se de uma nação de marinheiros, os brocardos freqüentemente têm conotação náutica. No caso, sempre que um prego ia ser cravado no casco de madeira de um navio, havia necessidade de vedar o furo, utilizando estopa com betume. Ou então, a caravela iria ao fundo…). Em mensagem posterior, veio a referência a algo muito mais próximo de nós do que os pregos e a estopa dos Descobrimentos e da ciência náutica. Ora leia-se: «Por puro acaso, e muito contra o meu costume (talvez para tentar contrariar imagens do pesadelo que estamos a viver) fiquei a ver, há cerca de dez dias, a primeira eliminatória do Festival da Canção. Fiquei a saber que tinham sido admitidas dez canções, umas porque os seus autores / intérpretes tinham sido convidados pela organização, outras admitidas por "livre submissão". Não é bonito? Imagino que muitos portugueses, aqueles que não têm o privilégio de contactar com a FCT, nem tenham percebido o que seria aquilo da "livre submissão". Acudiram-me imagens de martírio, de machados e de cepos, e de gente ajoelhada por "livre submissão"... Mas, pelos vistos, o disparate veio para ficar». |
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