Homenageando Mário Mesquita, um autor de sempre do nosso jornal e um membro fundador da cooperativa Outro Modo, propomos a leitura de três artigos seus, bem como de um elogio da autoria de José Bragança de Miranda.
É com profundo pesar que o Le Monde diplomatique – edição portuguesa e a cooperativa cultural Outro Modo recebem, hoje, a notícia da morte de Mário Mesquita, aos 72 anos. Mário Mesquita foi um grande amigo, um mestre e um colaborador de sempre deste projecto. Autor de artigos no jornal, participante dos seus debates e conferências, foi um dos cooperadores fundadores da Outro Modo, em Setembro de 2006.
Neste momento tão difícil, homenageamos o inigualável jornalista, professor, autor de artigos e livros fundamentais, cidadão empenhado nos combates do seu tempo, desde a luta contra a ditadura. Um homem profundamente culto e reflexivo, sério e sábio, tão corajoso quanto generoso.
Convidamos os nossos leitores a revisitar e a partilhar alguns artigos de Mário Mesquita, que colocamos aqui em acesso livre. São acompanhados por um texto de José Bragança de Miranda que condensa este «sismograma do nosso século» que é a obra de Mário Mesquita, ao mesmo tempo que retrata algumas das mais marcantes qualidades do intelectual e do homem: a tenacidade crítica, a curiosidade e a diversidade do seu conhecimento, o compromisso com o jornalismo autónomo e com a democracia.
Os três artigos que oferecemos foram publicados nas nossas páginas em 2001, 2016 e 2022. Mário Mesquita escreveu sobre jornalismo de uma forma tão sólida e tão interligada que mantêm toda a actualidade e o prazer da leitura. A sua paisagem interna também parecia feita de ilhas e de mares. O primeiro artigo, «Rumos do jornalismo na era da hipérbole», ajuda-nos hoje a pensar, sem ingenuidades epistemológicas, a importância do recuo crítico para a possibilidade de interpretação e de explicação. O segundo, «Transparência e opacidade no jornalismo português», leva-nos a reflectir sobre conceitos como independência ou autonomia jornalística. No terceiro, «Do prazer da “boa história” ao sonho do mapa-múndi», deixa-nos uma observação sobre alguns dos temas que sempre o interessaram no jornalismo (formas de legitimação da profissão, relação com os poderes), cruzando disciplinas e saberes (história, literatura ou filosofia).
Devemos lê-lo, nos seus artigos, nos seus livros, em todas as suas intervenções. Até as suas declarações de voto na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) são uma oportunidade de aprendizagem das melhores práticas que pode ter quem faz e quem pensa o jornalismo e a comunicação social. O seu exemplo de dedicação ao conhecimento e a sua verticalidade são um exemplo, seja para o jornalismo, para as universidades ou para os debates no espaço público.
À família e aos amigos, o Le Monde diplomatique – edição portuguesa e a cooperativa Outro Modo endereçam as nossas mais profundas condolências.