[Histport] Cinzel com 2.900 anos

[José D´Encarnação <jde@fl.uc.pt>]

Na exposição das FACAS COM HISTÓRIA, nas Caldas da Rainha, estiveram ESPADAS COM LAMINAS DE LINGUA DE CARPA, umas de ferro e outras de bronze que são contemporâneas e datam há cerca de 3 mil anos.

A única novidade do artigo que agora surgiu é a demonstração do atraso nas investigações da parte dos encartados.

Cinzeis destes não são raros é difícil porém data-los quando não se sabe onde foram encontrados.

No Museu das Minas de Sal de Salzburg na Áustria estão expostos as ferramentas de trabalho dos mineiros que foram achados dentro da montanha, junto aos corpos de mineiros do 2º milénio antes de Cristo, que tinham, ferramentas diversas tanto em madeira, bronze, pedra como ferro, precisamente escopros muito idênticos aos que ainda se vendiam nas feiras no século passado.

 

Não foram os romanos que trouxeram o ferro, este já na Lusitânia estava a ser batido nas bigornas muito antes da existência de Roma!

O primeiro povo que equipou as suas forças com espadas e adagas de ferro foram os Hititas que venceram um enorme exército egípcio e se apoderam do Egipto graças às vantagens do golpe de uma lamina de ferro cortar uma lamina de bronze.

Cerca de 1.300 antes de Cristo os egípcios tiveram de se vergar perante os Hititas por causa destes possuírem armas de ferro e os egípcios não. Com única excepção a adaga de Tut Ank Amon que teve no seu tesouro, a tal adaga de lamina de meteorite em mistura de ferro e níquel, caída do céu.

As armas de Viriato (século 2º antes de Cristo) eram todas de ferro, tanto as falcatas, as adagas afalcatadas, as lanças e as chapas de reforço nos escudos de madeira.

Um dos grandes centros lusos da fabricação de ferro foram precisamente os vales do Jamor e a Ribeira de Barcarena, onde  havia muito minério de ferro e a força da água, para instalarem azenhas com pilões para baterem as chapas de ferro, até os pregos se faziam aqui , como as ferraduras e as pontas dos arados. Estribos, esporas, cravos e pontas de flecha e de virotes fabricavam-se à volta dos Castros Lusitanos de Carenque há cerca de 2 km do nosso Museu Luso-Alemão há 3 milénios. Não foi para admirar que D. Afonso V mandou instalar aqui a nossa indústria férrea no vale do Jamor e no da Ribeira de Barcarena  cujo conjunto era então denominado de FERRARIAS DEL REY. Todos os pregos das nossas naus saíram daqui. A importância dos pregos de Barcarena era tão grande que Vasco da Gama mandou queimar uma das suas naus no regresso da Índia para Lisboa porque não tinha mais tripulação suficiente. Arearam uma boa nau , transportaram o que era aproveitável dividiram pelos restantes navios e queimaram a nau para lha retirar os grandes pregos que eram fundamentais para eventualmente construir outra nau . Desde que tivessem os pregos o resto era fácil para nossos carpinteiros navais.

Na internet há um filme da minha palestra que dei na Fábrica da Pólvora Negra de Barcarena onde falei perto de uma hora acerca da importância dos pregos de Barcarena na época dos descobrimentos.

 

Rainer Daehnhardt

  14 Março 2023      14:46

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  SOCIEDADE  HÁ QUASE 3 MIL ANOS QUE CIRCULAM FERRAMENTAS DE FERRO NO ALENTEJO

Há quase 3 mil anos que circulam ferramentas de ferro no Alentejo

Redação Alentejo 3911 artigos

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REDAÇÃO ALENTEJO

Uma descoberta recente causou surpresa aos cientistas: um cinzel de grande qualidade, encontrado no Alentejo há duas dezenas de anos, indica que o ferro já existia na Península Ibérica antes da chegada dos romanos.

Este cinzel de ferro, que conta com 2900 anos e que foi descoberto no início do milénio na região alentejana, tinha passado despercebido até ao início deste mês, altura em que passou a ser uma peça essencial para atualizar, de alguma forma, a história. Isto porque esta ferramenta de 18 centímetros poderá ser, de acordo com o jornal Público, a primeira prova de que o ferro de alta qualidade já era utilizado na Península Ibérica muito antes do que se pensava, mais concretamente desde o final da Idade do Bronze. Afinal, nesta altura e ao contrário do que se pensava até ao momento, a siderurgia já poderia ser uma prática em pequenas comunidades do Alentejo e da Estremadura espanhola.

O arqueólogo Rui Mataloto, que falou ao jornal Público, dedica-se há já várias décadas ao estudo dos conjuntos arqueológicos na margem direita do rio Guadiana, como a Rocha do Vigio, em Reguengos de Monsaraz, que se encontra atualmente submersa pelo Alqueva. Ainda assim, foi neste espaço que foi encontrado o cinzel que agora vem relançar o debate sobre as ferramentas que os humanos utilizavam há milhares de anos.

Esta descoberta ficou a dever-se às estelas antigas, que são monumentos na vertical que medem dois metros de altura e se caracterizam por ter inscrições gravadas. Estas estelas eram produzidas em arenito de quartzo silicatado, um elemento que não poderia ser trabalhado com recurso a ferramentas de bronze ou de pedra, como seria habitual há cerca de três mil anos, devido à sua dureza. Datadas dos finais da Idade do Bronze, entre os séculos IX e VIII antes de Cristo, estas estelas foram encontradas na bacia do rio Zújar, afluente do rio Guadiana que passa perto de Badajoz e, por isso, de Reguengos de Monsaraz, numa distância inferior a 300 quilómetros.

Esta curta distância sugere que as gravações feitas nas estelas poderão ter beneficiado da existência do ferro e de cinzéis como o que foi encontrado, uma vez que teriam de ter sido feitas através da utilização de ferramentas duras.

“O ferro já foi identificado em alguns sítios portugueses no final da Idade do Bronze. A diferença que existe nesta produção da Rocha do Vigio é a sua grande qualidade e parece que já estamos perante uma produção metalúrgica com grande qualidade do ferro”, esclarece Rui Mataloto, arqueólogo da Câmara Municipal de Redondo que integra, juntamente com o cientista português Pedro Baptista, das universidades de Coimbra e Friburgo (Alemanha), a equipa internacional responsável pela elaboração de um artigo científico publicado na revista Journal of Archaelogical Science. 

Apesar da descoberta, o arqueólogo Rui Mataloto sublinha que ainda há muitas questões que têm de ser respondidas. “Não temos nenhum indício de que esta seja uma produção local, ou seja, o cinzel pode ser uma importação. O mais provável até é que seja uma importação que ocorreu em contextos culturais na Idade do Bronze”, afirma.

A análise mais pormenorizada ao cinzel encontrado na Rocha do Vigio, realizada agora e que não foi possível nos últimos 20 anos, revela a existência de um ferro com uma grande qualidade e a utilização de uma técnica de produção avançada, embora contenha algumas impurezas.

Rui Mataloto refere que a existência de ferro desta qualidade na Península Ibérica é “uma grande novidade”, que altera a história, porque coloca as ferramentas de ferro de grande qualidade em circulação no Alentejo e na Estremadura espanhola há pelo menos 2900 anos. Ainda que possam ter chegado a estas regiões através da importação, fica agora provada a existência e a circulação destas ferramentas nestes territórios no período da Idade do Bronze.

“Este cinzel aparece-nos numa cabana, por volta do século IX ou início do século VIII antes de Cristo [há cerca de 2900 anos], num contexto funcional de uma habitação”, explica o arqueólogo, que também esteve nas escavações onde foi encontrado este objeto em ferro. 

“No ano passado, quando foi feita a análise deste ferro, ficámos verdadeiramente perplexos com a sua qualidade. Mas não restaram dúvidas nenhumas sobre a sua antiguidade”, nota também.

O início desta investigação foi impulsionado pelas estelas que foram encontradas em Espanha, que eram diversos monumentos verticais, gravados com textos ou desenhos e elaborados com rochas que as ferramentas típicas da época, de pedra ou de bronze, não conseguiriam trabalhar.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores avançaram com a construção de réplicas que mostram como seriam os cinzéis daquela altura. Neste processo, foram usados quartzos afiados, para simular um picador, martelos com as pontas de quartzos afiados e cinzéis de bronze. No final, nenhum conseguiu obter o mesmo efeito na gravação da pedra, exceto uma réplica do cinzel de ferro da Rocha do Vigio. 

A existência da produção de ferro está comprovada há mais de 4000 anos, mostram as provas mais antigas (artefactos encontrados num sítio arqueológico em Anatólia, na Turquia), que foram divulgadas no ano de 2005 e que são ainda mais antigas do que o cinzel encontrado na região alentejana. No entanto, o que mais surpreende é, de acordo com Rui Mataloto, a qualidade do ferro utilizado: “Conseguimos encontrar a agulha no palheiro. Conseguimos documentar um cinzel de ferro de grande qualidade em contextos semelhantes àqueles em que foram gravadas as estelas do Sudoeste de Espanha”.

Ainda assim, o arqueólogo mostra-se cauteloso, devido à pouca investigação que tem sido realizada sobre a arqueologia dos metais, o que não permite saber muito sobre o final da Idade do Bronze nas referidas regiões.

Rui Mataloto afirma ainda que acredita que os artefactos de ferro poderiam ser mais frequentes do que aquilo que se pensa. Contudo, a sua distribuição seria também limitada.

Os resultados desta investigação, que agora foi publicada, contribuem para relançar a discussão sobre a ideia de que foi a invasão do Império Romano que possibilitou a disseminação das técnicas de utilização do ferro e da produção marcada pela qualidade no território europeu.

Quando foi descoberto o cinzel de Rocha do Vigio, foi levantada a hipótese de que o início da siderurgia, com produção e arrefecimento do ferro, se tenha dado através da utilização de tecnologias que circulavam de maneira independente nas pequenas comunidades da Península Ibérica, isto antes da chegada dos romanos, uma vez que esta aconteceu no século II antes de Cristo. Ainda assim, esta é uma hipótese discutida no artigo científico, hipótese que ainda necessita de confirmação.

Quanto ao futuro, Rui Mataloto salienta que será importante promover a investigação em território português e no Sul de Espanha, até porque novos dados poderão surgir através de análises mais detalhadas, como aconteceu com o cinzel da Rocha do Vigio