Gostei muito e concordo com a reflexão. E, em relação à questão que coloca, atrevo-me a responder que sim: - é possível sentir felicidade quando se visita, por exemplo, uma
exposição num museu. Despertar esse sentimento nos públicos-alvo deveria ser um objetivo transversal ao planeamento de qualquer ação de mediação, seja esta uma exposição, uma visita guiada, uma
oficina, um catálogo, um programa de inventário, a organização de outros espaços públicos como a biblioteca, a loja, a cafetaria. Tudo o que um museu faz tem como alvo o público, que na realidade se trata de uma categoria plural e dinâmica. Arrisco a fazer mais duas questões: - o museu está disposto a privilegiar e a conhecer de facto os seus públicos de forma a saber o que os faz ou poderá fazer felizes (tal como se dedica ao seu acervo)? - o museu está disposto a privilegiar técnicos dotados de sensibilidade e com formação para o fazer? Sandra Silva De: museum-bounces@ci.uc.pt [mailto:museum-bounces@ci.uc.pt]
Em nome de Pedro Leite
Um dos sintomas da decadência dos museus portugueses é a atroz impossibilidade de neles se manifestar o Riso.
Ao entrarmos num museu, raros são os sorrisos que vemos nos seus visitantes. Não há espaço para nos rirmos. Os objetos plasmados nos seus plintos, muitas vezes isolados em vitrinas,
não suscitam qualquer sorriso. Quando saímos dos museus em Portugal não será raro sentimos qualquer felicidade. Embora os “inquéritos à satisfação dos visitantes”
[1]sejam uma das ferramentas atuais do que se podemos chamar o “marketing cultural”, eles nunca perguntam se ficamos
felizes. É certo que perguntam, numa escala de 1 a 5 se gostámos da exposição/objeto, se iremos voltar, se recomendamos a um amigo, etc. Mas a categoria relacionada com o sentir é uma ausência. Muito embora a felicidade seja um critério de satisfação, os inquéritos
nunca perscrutam a dimensão do sentimento da felicidade. Se nos rimos com a proposta. O museu é uma coisa séria!
Na atual deriva da comunidade do ICOM, na busca duma estabilização por uma novo conceito de museu (https://icofom.mini.icom.museum/zoom-meeting-with-co-chairs-of-icom-define/),
verificamos a mobilização da dimensão da felicidade e do riso no museu também está ausente. Poderemos então verificar uma correspondência entre esta ausência de substantivos ou adjetivos diretamente relacionados com árvore generativa do riso (e da felicidade)
e as práticas da chamada museologia (tradicional ou dos objetos)?
O que procuro demonstrar, em tese, é se existe uma possibilidade de ser e sentir felicidade nos museus? Qual é o lugar do Riso no museu? E por consequência, se formos mais felizes,
estaríamos mais próximos do tal museu integral proposto vai para cinquenta anos
[2]. Há hoje, na economia, um indicador de felicidade por país[3].
A economia da felicidade é um indicador útil para analisar o bem-estar dum país. Assim sendo, não será pensar como a felicidade está presente no museu. Não será esse indicador relevante para o processo museológico alcançar relevância para a sociedade (para
além da mera recoleção de objetos de memórias hegemónicas que a tradição atualmente propõe). E há vários exemplos dessas experiencias.
No filme de Jean Luc-Godard “Band à Part” (1964) os protagonistas Anna Karina, Samy Frey et Claude Brasseur, tentam bater o record da visita mais rápida ao Louvre. (https://youtu.be/J9i771qYngY).
Essa experiencia que é uma pratica de felicidade e bem-estar, alertava, nos contestatários anos sessenta do século passado, sobre a necessidade de abrir os museus ao mundo. “Deixem o Sena atravessar o Louvre” escreveram os rebeldes soixante-huitard
nas paredes do Museu. Era então um sinal de mudança, que a Declaração de Santiago procurou interpretar.
[2]
Nos termos da Declaração de Santiago do Chile, nos idos de 1972, que no próximoa ano celebrá meio seculo de existência. Pedro Pereira Leite ( Ph. D ) |
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