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[Museum] Em prol da língua vernácula!

To :   "archport" <archport@ci.uc.pt>, "museum" <museum@ci.uc.pt>, "histport" <histport@uc.pt>
Subject :   [Museum] Em prol da língua vernácula!
From :   <jde@fl.uc.pt>
Date :   Thu, 3 Mar 2022 16:26:45 -0000

                Tive, felizmente, muitos ecos favoráveis ao meu pedido de que se passe a usar terminologia portuguesa em vez de estranha (atalho em vez de ‘link’, cartaz em vez de banner…). Também acho que pouco a pouco se deixará de afirmar que a conferência é às 17 horas (quando o que está previsto é que comece às 17); e que, nas contingências dominantes, se não diga ‘vai ter lugar’ mas sim «está prevista a realização de…».

                Um dos comentários chegou-me do Doutor Rui Cascão, que, com a devida vénia, passo a transcrever:

               

De: Rui Cascão

Enviada: 19 de fevereiro de 2022 12:03

Tens toda a razão.  A linguagem portuguesa do quotidiano está cheia de palavras e expressões incorretas e (ou) usadas fora do contexto, em grande parte criadas e difundidas pela "comunicação social", em especial nos domínios da televisão (até em estações aparentemente tão conceituadas como a SIC), do desporto (em especial do futebol) e da política. 

A lista é interminável. O caso mais frequente, e também o mais irritante, é o do uso indiscriminado da palavra situação, que é uma espécie de gazua (e que, como tal, serve para tudo), não esquecendo a "erudita" expressão "Temos uma panóplia de situações". Chega a ser aflitivo ouvir uma conversa em que, em dez frases, se pronuncia cinco vezes  aquela palavra.

Outra palavra de que se faz uma utilização anárquica é onde, que serve de advérbio de tempo, de modo, etc.

Temos ainda derivado de (em vez de devido a), de que (recorde-se a já clássica expressão de um conhecido dirigente desportivo "Penso eu de que..."), à última da hora e por aí fora. Uma outra "moda" é a proliferação, geralmente descontextualizada, de mais-valia

Também é muito comum a confusão entre ter de e ter que.

Outro hábito, cada vez mais frequente, é o de suprimir elementos de ligação de uma frase: "(...). Dizer que (...)".

Não podemos esquecer as atrocidades que todos os dias são ditas e escritas (nomeadamente em legendas e rodapés)  nos espaços noticiosos da televisão. Ainda há poucos dias, a propósito de um atentado que estaria em iminente preparação, um "jornalista" afirmou que o suspeito estava armado com vários instrumentos potencialmente letais, entre os quais uma bêsta de dardos [coloco acento circunflexo em besta para se perceber melhor a enormidade].  

Já não falo de termos que são habitualmente usados por pessoas ligadas ao desporto (jogadores e treinadores), como Mister (usada inicialmente como forma de os jogadores portugueses se dirigirem a um treinador inglês e que hoje serve também para os treinadores portugueses ou de outra nacionalidade que não a inglesa), dérbi e outros. Também temos a inevitável frase "Temos de respeitar o adversário", etc., etc.

Sabemos que as línguas não são estáticas, pois estão sujeitas a variações no tempo e no espaço, mas há limites para a inovação e para o mau gosto.

 

 

 


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