Asistentes de sala: nova desavergonha nos museus nacionais
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Chegados aqui, pensámos que mais fundo não poderíamos bater. Erro, afinal. Nos últimos anos inventou-se uma nova categoria para manter as exposições abertas ao público: “assistente de sala”, algo que lembra irresistivelmente os arrumadores no cinema (não os dos parques de estacionamento, porque esses ganham muito mais) e que pela simples enunciação não sabemos bem se nos faça rir ou nos faça chorar. Algo que antes começou a existir em museus privados ou fundacionais e agora o Ministério da Cultura adopta despudoradamente. Trata-se, sejamos claros, de dar o salto em frente na direcção da completa uberização dos museus: entrega-se a contratação dos vigilantes-recepcionistas a empresas de angariação de mão de obra e estas colocam anúncios nos jornais a dizerem que dão preferência a quem tenha licenciaturas em áreas mais adequadas a cada museu (coisa estranha para a função, mas afinal compreensível porque no estado a que chegámos é mais fácil recrutar licenciados a beira de ataques de nervos do que… canalizadores ou pedreiros), oferecendo-lhes contratos a prazo, com vencimentos na ordem dos… 5 euros à hora!
Atingimos o ponto em que o Estado decidiu abdicar de todos os princípios. Comete desde logo a irresponsabilidade de entregar as colecções nacionais a pessoas que naturalmente nunca se interessarão em estabelecer com elas os laços de responsabilidade e empatia que, entre o mais, constituem a base da sua segurança. E promove depois a mais degradante exploração dos trabalhadores, que neste caso são sobretudo muitos jovens licenciados e frequentemente mestres ou até doutores, graduados em áreas de emprego difícil, os quais, antes de emigrarem ou de procurarem outras ocupações, tentam ainda desesperadamente manter alguma ligação às instituições e aos sectores que um dia constituíram os seus sonhos de vida.
Enfim, uma degradação de quase vómito. Que só é ultrapassada pela vista grossa que colectivamente fazemos à exploração e quase escravização de milhares de imigrantes por esse país fora. Só que aí os exploradores são privados e chamamos-lhe patrões. Aqui, para vergonha nossa, é público e chamamos-lhe Ministério a Cultura.
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