Quando for possível formular (mesmo que aproximadamente) as três seguintes “modelizações” --- o «modelo de compreensão do comportamento humano», o «modelo do ciclo de vida de um objecto-real na cognição»
ou «modelo de compreensão de um Objeto/Realidade», e o «modelo da deteção das diferenças no espaço-tempo» -- será possível matematizar «o que atualmente os humanos fazem». E, consequentemente, criar um programa-algoritmo (no sentido
da “complexidade de Chaitin e Kolgomorov”) que leia e mimetize isso. Logo, permitiria construir uma máquina-universal (computador) que executasse esse «programa». Nesse momento estaríamos (talvez) mais próximos de criar um «comportamento humano robotizado»
afastado de «o que atualmente os humanos são».
Refiro-me aos seguintes três Modelos:
«Modelo de compreensão do comportamento humano»
(Pedro Manuel-Cardoso, 2022):
Variável 1
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Variável 2
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Variável 3
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Variável 4
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Variável 5
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®
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®
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®
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®
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¯
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CORPO
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COGNIÇÃO
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COMPORTAMENTO
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REGULAÇÃO SOCIAL
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RELEVÂNCIA-VALOR
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suporte e infraestrutura herdada, memória codificada
a priori
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atividade não-visível provocada pela gradual complexidade do cérebro
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atividades visíveis, acções, técnicas e práticas físicas exteriorizadas
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institucionalização do efeito coletivo e colaborativo dos comportamentos individuais
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escolha, hierarquização e classificação daquilo que é “património” e deve permanecer em
memória
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↑
[A «escolha da Relevância» (“património”) interfere com a
Variável 1, e Re-inicia a condição inicial do processo).
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¬
“Homo habilis, há 2,4 milhões de anos, cérebro com 600cm3 ... Cérebro dos atuais humanos (média) 1450cm3” ... “O que é sentido
pelo corpo é transmitido ao cérebro. A resposta é coordenada pelo córtex e executada pelo corpo. Tudo acontece tão rapidamente que parece ser instantâneo”
(“Cérebro”, 2019, F.C.Gulbenkian, p.36)
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¬
“Comportamento (gestus) é um movimento (motus) com uma determinada forma (figuratio) que procura um efeito-resultado (agendi, acção) e um valor (habendi,
atitude)”. [Hugues de Saint-Victor (1117-1141) “De institutione novitiorum. De virtute orandi. De laude caritatis.
De arrha animae”]
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¬
“Human Evolution: the rise of the innovative mind” … “It’s not how smart you are. It’s how well connected you are" (M.Thomas)…
“The ability to pass on knowledge from one individual another” … “Worked collaboratively” (H.Pringle, march2013,
Scientific American)
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¬
“It was an enhancement of
working-memory capacity that powered the final evolution of modern mind.” (Wynn & Coolidge, 2010, “Working Memory: Beyond Language and Symbolism”,
Current Anthropology, vol. 51, Sup. 1, June 2010, p.S5).
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«Modelo de compreensão daquilo que se designa por Objeto/Realidade» (Pedro Manuel-Cardoso, 2010):
TIPOS DE
OBJETOS
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NOME DO OBJETO EM CADA TIPOLOGIA
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1.
Objeto-Natureza
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®
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OBJETO (ORIGINAL) NATURAL
(no caso de não ser uma criação humana: refere-se à matéria/química/energia utilizada na formação-criação-construção do Objeto independentemente da acção
humana)
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2.
Objeto-Imaginado
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®
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OBJETO (ORIGINAL) CONCEPTUAL
(no caso de ser uma criação humana: refere-se ao Objeto que existe na ideia, intenção, imaginação, cognição, perpetração humana)
(a representação-codificação do Objeto na percepção. O que o cérebro e o sistema perceptivo captam e formalizam)
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3.
Objeto-Construído
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®
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OBJETO CONSTRUÍDO
(o Objeto exteriorizado e formalizado numa construção-criação, servindo-se de um
Suporte)
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4.
Objeto-Representado
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®
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OBJETO DOCUMENTAL
(o Objeto sujeito a uma operação de identificação, nomeação, classificação, documentação, arquivística ou musealização)
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5.
Objeto-Comunicado
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®
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OBJETO-INFORMAÇÃO
(o Objeto que é usado como Informação no processo de o comunicar)
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6.
Objeto-Relevante
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®
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OBJETO-PATRIMÓNIO
(o Objeto que é escolhido para ser classificado como «Património»)
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7.
Objeto-Memória
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®
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OBJETO-MEMÓRIA (TRANSMISSÍVEL)
(o Objeto que fica na Memória --- nos neurónios, nos percursos sinápticos, no hipocampo, no ADN, ou num museu/arquivo/biblioteca/base-de-dados --- para ser
acedível pela Cognição dos presentes e vindouros, em qualquer dimensão do espaço-tempo, e em qualquer época ou contexto ambiental e geográfico)
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«Modelo de deteção das diferenças no espaço-tempo»
(Pedro Manuel-Cardoso, 2011):
Existe, em termos matemáticos, para um tempo/espaço quantificado (R), e para um objeto/facto particular (N), uma qualquer
diferença (X) entre [O1, O2, O3], ou [U1, U2, U3], ou [R1, R2, R3]?
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OBJETO/FACTO
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USO
(acção/comportamento)
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RELEVÂNCIA
(valor/significado)
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PASSADO
Antes
Anterioridade
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O1
Objetos/Factos tal como existiam no
Passado
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U1
Uso dado no
Passado
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R1
Relevância/Valor que tinham no
Passado
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PRESENTE
Agora
Contemporaneidade
Coetaneidade
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O2
Objetos/Factos tal como existem no
Presente
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U2
Uso dado no
Presente
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R2
Relevância/Valor que têm no
Presente
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FUTURO
Depois
Posterioridade
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O3
Objetos/Factos que se propõem para o
Futuro
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U3
Uso que se propõe para o
Futuro
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R3
Relevância/Valor que se deseja que venham a ter no
Futuro
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Se, a estes três parâmetros (“modelos”) fossem introduzidos nesse «robot humano», e lhe acrescentássemos:
1. Uma Aplicação capaz de o ligar permanentemente às bases-de-dados das mais reputadas publicações científicas dos dez atuais domínios de produção de Conhecimento humano (axiologia, cosmologia, ciência,
epistemologia, ética, estética, metafísica, ontologia, política, teologia). De modo que actualizasse, em tempo real, todos os contributos publicados pela ciência e cultura em todo o mundo;
2. Um algoritmo de interpretação dos dados, baseado na junção do «método de Aristóteles apresentado no
Organon» com os actuais “cinco modos dos autómatos aprenderem a aprender” (concretamente: i) preencher as lacunas no conhecimento existente; ii) simular o funcionamento do cérebro;
iii) simular o processo de “evolução”; iv) reduzir sistematicamente a incerteza; v) registar as semelhanças entre antigo e novo);
Então, estaríamos perante uma «máquina universal de perguntas-e-respostas», que poderíamos designar
por: «máquina do Conhecimento». Pois seria capaz de
responder a todas as perguntas sobre qualquer assunto, atualizar-se permanentemente, ser lida e carregar-se autonomamente à distância, e correr numa qualquer máquina universal (computador) cada vez mais
aperfeiçoada.
Todavia, se fossemos capazes de fazer isto, não estaríamos a fazer nada de novo. Porque, estaríamos a fazer a mesma operação cognitiva que os “Pragmatistas” fizeram no início do séc. XX (C.S.Peirce, William
James, et alli), ao substituírem o debate sobre a “consciência e a transcendência” pelo do “comportamento”.
E, estaríamos (talvez) a ser capazes de passar para um nível de complexidade evolutiva pós-humana (no sentido pós-linguístico e pós-simbólico que Wittgenstein e Gödel, e outros, anteciparam).
Seja como for, demore o que demorar, seja possível chegar a esse momento ou não, é já, agora, que a relação entre Museu e Património pode ser matematizada e robotizada:
X = Log b(Y).
Em concreto, X transforma B em Y.
Ou seja:
1. O Património é o logaritmo da Relevância. E o Museu o logaritmo do Património.
1.1. Um «MUSEU» (X) é o logaritmo do PATRIMÓNIO (Y) (património, entendido como «a relevância a preservar e transmitir aos vindouros») cuja base (B) é: [Estudo
e Investigação; Conservação e Documentação/Codificação; Divulgação e Sensibilização; Educação e Acessibilidade; Valorização Cultural]. X transforma B em Y. Ou seja, X = Log b(Y).
1.2. No «PRÓXIMO MUSEU» é R (Robotic Engineer, Robotic Controller, Research Develop, Code Tec, Build Control, Create-Edit, Present-Share) que faz (executa,
calcula) B. O «PRÓXIMO MUSEU» poderá vir a ser um robot.
2. O Património ser o logaritmo da Relevância, tem por consequência permitir a convergência científica e técnica entre
museus, coleções, monumentos, sítios, arquivos, bibliotecas, centros de documentação e interpretação, e todas as outras infraestruturas patrimoniais.
3. Um MUSEU deixa de ser (apenas) «o sítio onde os objetos estão», mas «aquilo que vai aos objetos, estejam
onde estiverem, e os transforma em património». No sentido, de que um MUSEU é uma
relação, não é apenas uma infraestrutura/edifício. Um MUSEU passaria a ser aquilo que permite estabelecer uma
Relação (informacional, comunicativa, sensorial e educativa) entre, e com, os
Objetos. Deste modo, a «um MUSEU» é o processo cognitivo e comportamental capaz de ir aonde estiverem os
Objetos que as pessoas desejem que sejam Património.
5. O PATRIMÓNIO (quaisquer que sejam os objetos/factos/coisas/imagens/documentos a que se refere, em quaisquer sociedades
e épocas históricas) será sempre um exemplo de Relevância.
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Esta alteração conceptual e de definição de «o que é um Museu e o Património» permitiria – desde que substituíssemos “man” por “ser-humano” – olhar a intuição do
Cartaz, que estava afixado, em 1981, no Centro Georges Pompidou, com outros olhos ...
Cartaz de Guy Bleus e Willy Dé, 25/10/1981.
O Cartaz confrontava o visitante com a pergunta:
- Não será o ser humano, afinal, o único e o verdadeiro Património?
A época que se aproxima, não viabilizará ainda mais esse destino dos Museus? Isto é, o
futuro dos Museus não será migrarem (codificados e robotizados) para dentro do corpo do ser-humano?
Pedro Manuel-Cardoso
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