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[Museum] Reis e espadas... de vários gumes

To :   museum <museum@ci.uc.pt>, archport <archport@ci.uc.pt>, histport@uc.pt
Subject :   [Museum] Reis e espadas... de vários gumes
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Tue, 08 Nov 2022 12:02:12 +0000

Público
(digital e papel)
8.11.2022

Reis e espadas... de vários gumes
Luís Raposo
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"Ao que parece, ninguém agora colocou grandes questões filosófico-religiosas de fundo quanto à sua (re)abertura [da arca tumular de D. Dinis] e tudo se tem resumido a saber onde colocar a espada do rei, uma espada que assim condensa em si os vários gumes que na verdade a transcendem, ou seja, os de saber da legitimidade da abertura (outros dirão “profanação”) de sepulturas humanas (outros dirão que somente reais ou de pessoas ilustres) e do estudo e subsequente destino dos seus conteúdos, sejam eles restos físicos ou mobiliários funerários."
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"Estamos aqui perante “um tema complexo em que importa reflectir”, como já escrevi noutra ocasião (Patrimonio.pt 20.1.2020). A apresentação pública de restos humanos e de mobiliários funerários, provenientes ou não directamente da escavação ou reabertura de túmulos, preenche todo o gradiente que vai do “aceitável” ao “inaceitável”.
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"Nuns casos, sobretudo na Europa e relativamente a europeus brancos, toma-se privilegiadamente a opção que decorre do Espírito da Luzes, ou seja, a da apresentação em museus, opção sufragada por códigos éticos e tribunais, mesmo quando pode causar algumas dúvidas (cite-se o exemplo do chamado “Homem de Lombroso”, em Turim). Noutras latitudes, ou mesmo na Europa relativamente a colecções ultramarinas (e nomeadamente coloniais), adopta-se com frequência crescente a solução temerosa da retirada de exposição ou mesmo da entrega para enterramento ou cremação, de corpos e mobiliários acompanhantes. E a pergunta que fica é a de saber se não estaremos assim, tratando de modo simples, populista, aquilo que é complexo, a contribuir para o regresso de uma espécie de Espírito das Trevas. Seria como, no caso da espada do “Rei Trovador”, cometer o absurdo de, depois de restaurada, voltar a colocá-la no túmulo, deixando-a destruir-se, em vez de a expor em museu nacional apropriado ou, melhor ainda, em museu a organizar no próprio mosteiro de Odivelas."


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