Human-Machine Coevolution: the future objects of museums
Coevolução Humano-Máquina: os futuros objetos dos museus
coord. Pedro Manuel-Cardoso
debate and exhibition
debate e exposição
No momento (e à medida) em que for possível exteriorizar o processo de memória e de codificação da
relevância – através do aperfeiçoamento de um modelo semelhante àquele que o
Museu do Ser-Humano formulou, e do seu controlo por uma equação matemática – as competências dos profissionais de Património (sobretudo as dos ‘museus’) terão que incluir essa realidade.
Qualquer
Reforma da política de Património (re-organização dos recursos técnicos existentes, investimento, reconfiguração dos atuais museus noutros que incorporem partes dos anteriores e criem novos tipos mais adequados aos desafios das pessoas e da sociedade,
perfis profissionais, formação científica de base, plano de formação dos recursos humanos, novo enquadramento legislativo, etc.) não poderá deixar de incluir essa mudança técnica e profissional.
As instituições museológicas terão de trabalhar numa parceria muito próxima com quem (instituições e laboratórios) os sabe ajudar a colocar em memória (a nível físico e químico) «aquilo
que se escolher como sendo relevante para transmitir ao futuro».
A possibilidade de robotizar parte da lógica do funcionamento humano será um salto evolutivo enorme. Pois será possível produzir as repetições dessa lógica de funcionamento aplicadas
a cada assunto da vida que se quiser, sem a espécie humana ter de esperar pelo processo longo de maturação individual.
Por exemplo, é relativamente simples submeter esse ‘modelo’ a um programa de IA que faça as seguintes tarefas aplicadas ao que quer que seja: 1. Reduzir sistematicamente a incerteza
(estabelecer a diferença entre o que se considera ser uma ‘certeza’ e o resto); 2. Registar as semelhanças e as diferenças entre o antigo e o novo; 3. Simular exteriormente, num nível ainda simples, o funcionamento das sinapses e neurónios copiando o modo
como comunicam no cérebro; 4. Preencher sistematicamente as lacunas no Conhecimento (sobre qualquer assunto) à medida que chegam novos contributos; 5. Usar um ‘modelo de comportamento’ (idêntico ao que o
Museu do Ser-Humano formulou para constituir a sua Exposição Permanente) para experimentar e pesquisar os efeitos do comportamento humano. Neste momento, por exemplo, uma área da pesquisa do
Museu do Ser-Humano consiste na experimentação do modo de ‘classificar o valor’ através dos oito critérios descobertos na ‘estrutura da relevância’ (Pedro Manuel-Cardoso, 2010) codificada na cognição humana.
A robotização, computação e exteriorização dessa parte do comportamento humano permitirá que seja replicado e aplicado quantas vezes se quiser, e à velocidade que for mais adequada. Os
‘ciclos comportamentais’ (isto é, os re-ínicios da Variável 1 no ‘modelo’ formulado pelo
Museu do Ser-Humano, e a passagem pelas outras quatro Variáveis já com a incorporação das novas relevâncias/valores em cada um) serão repetidos exponencialmente. Aquilo que demorava a experimentar 100 anos através de nascimentos humanos biológicos
(ditos ‘naturais’) passará a demorar 1 dia (ou menos).
Mas este processo não é uma coisa nova. Sempre cá esteve desde o início da estratégia eucariote da Vida (há cerca de 2 mil milhões de anos). A própria definição atual de “Vida”
adoptada pela Ciência refere este processo de exteriorização, de re-cópia de si-mesma, e de evolução (passo a citar): “Um sistema químico autónomo capaz de seguir uma evolução darwiniana, originado a partir de matéria inerte através de processos de auto-catálise
(moléculas com a capacidade de criarem cópias de si mesmas) e de processos de auto-organização (moléculas com a capacidade de criarem espontaneamente estruturas mais complexas a partir de estruturas mais simples)” (Gerald Joyce, NASA, 1994/2013; Otto Sijbren,
4jan2016, Nature Chimestry).
Aliás, tal como o
Ser-humano sempre fez com as ferramentas e os objetos da sua ‘Cultura Material’, muitos dos quais podemos visitar nos ‘museus etnográficos’.
O trabalho e a missão dos profissionais de Património e Museus não se alterarão. Continuará a consistir em conseguirem incorporar (através da codificação numa memória possível de ser acedida
pelos vindouros) o legado de «aquilo que é mais relevante».
A missão principal do trabalho de
Gestão do Património continuará a ser a mesma que ocorreu no início da estratégia eucariote da Vida: «Preservar no núcleo da célula, protegidas por uma membrana, as informações vitais a transmitir à geração seguinte». Aquilo a que nós, no
Museu do Ser-Humano, chamamos: «o primeiro museu».
É esse contributo – para a transformação e para a construção de «aquilo que há-de vir» e de «aquilo que se há-de transformar» (como a foto desta mensagem sugere) – que
a Sociedade espera da gestão patrimonial e museológica.
É esse trabalho técnico de codificação e transmissão que continuará a ser necessário prosseguir. Agora, de um modo ‘artificial e consciente’, mas, obrigatoriamente, em co-evolução
com o que antes foi ‘natural’ (por exemplo, aquilo que designamos por
ADN). ‘Natural’ ou ‘artificial’ é tudo a mesma coisa: é tudo uma ilusão conceptual antropocêntrica. Como se alguma vez o Ser-humano se pudesse ou se tivesse desligado da Vida e da Natureza.
Talvez seja para esta
mudança, que valha a pena uma reforma de uma política de Património.
fábrica do Impronunciável|
factory of the
Unpronounceable
junho 4, 2023
|