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[Museum] Pós-colonial, "decolonial"... ou neocolonial?

To :   museum <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Museum] Pós-colonial, "decolonial"... ou neocolonial?
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Sat, 04 May 2024 09:18:19 +0100

PUBLICO

Pós-colonial, “decolonial”… ou neocolonial?

Intencional ou inadvertidamente, alguns activistas e académicos querem-nos fazer iludir o cerne da questão colonial contemporânea, ou seja, a de que vivemos um tempo neocolonial e não “pós-colonial”.



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Ocaminho que sigo é estreito, reconheço. Ele situa-se entre o nacionalismo ultramontano, saudoso dos impérios coloniais, que abomino, e o “activismo decolonial”, astuto na dissimulação, obtuso ou simplesmente ingénuo, que igualmente repudio. Ora, a intervenção do presidente da República aproxima-se aparentemente desta última posição, resta saber em que exacta modalidade. Deixo por isso por um momento descansados os reaccionários e colonialistas de todos os matizes para me concentrar naquilo que constituiu a leitura corrente das incontinências presidenciais.
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No entretanto, enquanto alguns “activistas” assim confrontam a ciência, dita ocidental e por isso menor ou até perniciosa (tão perniciosa como a vacinação, dizem ao mesmo tempo outros “activistas”), os verdadeiros donos da iníqua ordem neo-colonial internacional esfregam as mãos de contentamento. Quando na aparência alinham com as agendas “decoloniais” não existem neles nenhuns "grandes princípios" humanistas ou filantrópicos. Apenas dissimulação e cinismo. E a melhor prova de que assim acontece é a lista de países que subscreveram a mais recente Convenção sobre Bens Culturais Exportados Ilegalmente ou Roubados, providenciando a sua restituição, a UNIDROIT de 1995: apenas 54 (!!!) o fizeram até hoje, ficando de fora por exemplo a Alemanha, os Países Baixos, o Reino Unido, os EUA ou o Canadá. Já a mais antiga Convenção de Prevenção do Tráfico Ilícito de Bens Culturais, de 1970, foi subscrita por 145 países, entre os quais todos estes. Compreende-se que assim seja: a Convenção de 1970 limita-se a proclamar princípios gerais, sendo largamente inconsequente, enquanto que a UNIDROIT é a única com algum sentido prático efectivo, aplicável também aos domínios sacrossantos do comércio e do coleccionismo privado, algo muito mais incomodativo do que  "fazer flores" com os museus públicos, que é sempre mais fácil.

Mais palavras para quê, poder-se-ia perguntar. Mas, no ponto em que estamos, a pergunta deverá ser outra: até quando um certo “activismo decolonial” irá continuar a fazer o jogo dos opressores neo-coloniais?

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