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[Museum] Evocação de Andrea Martins

To :   "histport" <histport@uc.pt>, "archport" <archport@ci.uc.pt>, "museum" <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Museum] Evocação de Andrea Martins
From :   José D´Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Mon, 8 Jul 2024 17:13:32 +0100

                Com a devida vénia, reproduzo o que a Professora Mariana Diniz acaba de divulgar no boletim informativo da UNIARQ – J. d’E.:

 

IN MEMORIAM
Andrea Martins (1979-2024)

 

É que hoje perdi um amigo. E coisa mais triste no mundo não há.

 

Fotografia

 

Andrea Martins – 1979-2024
As datas são estas.
Este foi o tempo de Andrea Martins que, vitima de uma doença voraz, nos deixou no dia 22 de Junho, no fim de uma tarde do principio do Verão. As datas e o Tempo são, como sabemos nós praticantes de uma ciência cronológica, decisivos e aqui porque o Tempo foi excessivamente breve deixa, com esta partida, o sabor ácido de um caminho cortado ao meio, mais ácido porque acaba de chegar uma personagem principal à história da Andrea.
Escrevo por isso um In Memoriam que não precisava de ser convencional, porque não é convencional este fim. Escrevo quando sinto, ao lado de uma tristeza imensa que partilho com o César e com toda a família e a rede de aço dos amigos da Andrea, uma sensação de irrealidade sobre o facto que continua a parecer um equívoco.
Mas deve, nestas circunstâncias, invocar-se o percurso da vida académica e da vida profissional dos que partiram. Conhecemos bem os textos das lápides funerárias e cito a Andrea para descrever factualmente o que foi o seu trajecto:
“Concluiu o Doutoramento em Arqueologia em 2014/09/22 pela Universidade do Algarve - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Publicou 63 artigos em revistas especializadas. Possui 43 capítulos de livros e 1 livro. Coordena as publicações da Associação dos Arqueólogos Portugueses, nomeadamente da revista "Arqueologia & História" e das "Monografias AAP".
Organizou 49 eventos, destacando-se diversos congressos/workshops/sessões de arte rupestre, bem como os quatro congressos da AAP, evento que reúne dezenas de arqueólogos. Participou em 73 eventos, sendo convidada como keynote em vários congressos de arte rupestre, bem como membro de Comissões Científicas. Faz parte de comissões científicas editoriais, como da Revista Portuguesa de Arqueologia. Foi convidada como avaliadora de diversas revistas de arqueologia, bem como do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos promovido pela tutela. Encontra-se a coorientar 2 teses de doutoramento e 3 dissertações de mestrado. Coorientou 3 trabalhos de conclusão de curso de licenciatura. Recebeu 2 prémios, um dos quais relativo à tese de doutoramento. Participou como Bolseira de Doutoramento e Bolseira de Pós-Doutoramento em diversos projectos, colaborando com várias instituições. Investigador em 11 projetos e Investigador responsável em 6 projetos. Atua na área de Humanidades com ênfase em Arqueologia, Arte Pré-Histórica e História de Arte, realizando também inúmeras acções no âmbito da Arqueologia Pública e Arqueologia Experimental. Nas suas atividades profissionais interagiu com numerosos colaboradores em coautorias de trabalhos científicos, tendo durante diversos anos trabalhado em arqueologia preventiva e empresarial” in https://www.cienciavitae.pt/1417-5E3B-5753
Acrescento, a  UNIARQ e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa perdem uma Investigadora de excelência de cujo dinamismo e audácia ainda esperávamos muito nos domínios da Arte Pré-histórica, da interpelação às silenciosas personagens pintadas nos abrigos e representadas nos objectos, nos domínios da investigação sobre as sociedades do 4º e 3º milénio AC, formalizada nestes últimos anos no projecto VNSP3000, de que já não assistirá ao lançamento das Actas do Encontro Vila Nova de São Pedro 1971-2021, nos domínios da Arqueologia Pública e da Arqueologia Experimental, defensora incansável da partilha de conhecimento e do papel fundamental da recriação na discussão dos gestos e dos cenários do passado, nos domínios da ciência multidisciplinar, marcada no seu trajecto pelas parcerias com colegas de outros campos do conhecimento. A comunidade arqueológica nacional perde também um dos seus membros mais activos com uma energia e capacidade de mobilização única – vejam-se os Congressos da Associação dos Arqueólogos Portugueses de que foi uma impulsionadora decisiva.

Por tudo isto, a nossa paisagem fica mais pobre, rasga-se, com a morte da Andrea, o lugar onde estava. E é por isso, e não pela listagem ou números dos seus feitos, mesmo que estes sejam impressionantes, que choramos.
Como se atribui a um poeta japonês que riscou as letras da palavra Perda gravadas numa pedra, sobre esta não é possível escrever, mas apenas sentir…

 

Mariana Diniz

 


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