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Porcelanas Ming de Um Navio Português Foram Vendidas por Cem Mil Euros Por LUCINDA CANELAS Público, Quinta-feira, 20 de Maio de 2004
Uma série de discos de ouro e um lote de 13 taças da dinastia Ming recuperadas dos destroços de um navio português dos finais do século XVI, foram ontem vendidas em leilão na Holanda por cem mil euros.
As peças fazem parte de um conjunto de 2000 que permaneciam numa das 18 embarcações identificadas pela empresa Arqueonautas WorldWide-Arqueologia Subaquática, SA ao largo de Moçambique. O valor da venda foi transmitido ao PÚBLICO pelo director da Arqueonautas, Nikolaus Sandizell.
A empresa, que em 1999 estabeleceu um acordo de concessão com Moçambique para a exploração das águas que rodeiam a ilha, é agora alvo de duras críticas por parte da comunidade arqueológica por ter ficado com inúmeras peças em seu poder e, sobretudo, ter promovido a sua venda.
O acordo, prolongado no ano passado até 2006, permite à Arqueonautas, em consórcio com a Património Internacional, Sarl (80 por cento do capital é do Estado moçambicano e 20 por cento é de privados desconhecidos), pesquisar as águas numa extensão de 700 quilómetros.
O problema é que, segundo os especialistas que acusam a empresa de promover a "caça ao tesouro", o acordo lhe dá direito a parte do espólio recuperado, tornando possível a venda em leilões como o de ontem. Tudo porque a legislação moçambicana - ao contrário da portuguesa que diz que todos os bens arqueológicos subaquáticos pertencem ao Estado - divide o património cultural encontrado no fundo do mar em "inalianável" (artefactos únicos considerados património nacional que devem permanecer no país) e "alienável" (objectos que, por estarem "repetidos" ou não terem grande valor patrimonial, podem ser comercializados).
Nikolaus Sandizell, da Arqueonautas, garantiu ontem por telefone que os bens leiloados estão integrados nesta segunda categoria e que Moçambique ficou com "as melhores peças recuperadas, com os artefactos únicos e com as jóias", hoje depositados no Museu Nacional de Marinha.
Rejeitando qualquer rótulo de "caçador de tesouros", Sandizell diz que o trabalho desenvolvido pela Arqueonautas em Moçambique, à semelhança de anteriores campanhas em Cabo Verde, "é o único meio de proteger o património naufragado dos saqueadores", explicando que 15 dos 18 navios localizados tinham já sido pilhados.
A nau de onde as taças leiloadas foram retiradas não está ainda identificada, embora, segundo Sandizell, o essencial tenha sido resgatado na época do naufrágio. "Não estamos a saquear nada. Esta é a única forma de sermos mais rápidos do que os ladrões e de proteger esta herança, já que Moçambique não tem meios para a manter 'in situ'."
Para Filipe Vieira de Castro, doutorado em arqueologia náutica e professor na Universidade do Texas, EUA, a Arqueonautas não se dedica à salvaguarda do património mas "à destruição de sítios arqueológicos subaquáticos com o fim de vender os artefactos recuperados no mercado de antiguidades".
Esta acusação faz parte de uma carta que Vieira de Castro enviou ao ministro da Cultura, Pedro Roseta, em Abril de 2002, alertando para "a destruição de um navio português da Carreira da Índia, afundado nas costas de Moçambique" e dando conta de uma situação semelhante julgada no Supremo Tribunal americano e que conferiu a Espanha todos os direitos sobre o património recuperado em duas embarcações naufragadas nas águas da Virginia.
Um ano depois, e sem ter recebido resposta do Ministério da Cultura, o arqueólogo escreveu também ao primeiro-ministro. "Também não tive resposta. É lamentável", diz Vieira de Castro. "Só posso desejar que esta situação sirva para abrir os olhos dos nossos políticos."
O gabinete de Roseta diz apenas: "Pretendemos preparar em parceria com o Ministério dos Negócios Estrangeiros uma proposta de acordo com o Estado de Moçambique que permita evitar situações futuras."
O ano passado, a Cultura rejeitou um pedido da Arqueonautas e da Património Internacional para a realização do leilão destas peças em Portugal. Os pareceres negativos dos directores do Instituto Português de Arqueologia, do Instituto Português de Museus (IPM) e do Centro de Arqueologia Náutica e Subaquática foram determinantes. Reconhecendo que, juridicamente, nada podia ser feito contra o leilão de ontem, os especialistas evocaram a legislação portuguesa e a Convenção para a Protecção do Património Cultural Subaquático, aprovada pela UNESCO em 2001. "Não faria sentido darmos um parecer positivo à realização em Portugal de um leilão com peças que não deveriam ser vendidas. É uma questão de princípio", disse ontem Manuel Bairrão Oleiro, director do IPM.
A Arqueonautas propôs ao IPM oferecer uma série de peças recuperadas em Moçambique a um museu português. O instituto está ainda a analisar a questão.
http://jornal.publico.pt/publico/2004/05/20/Cultura/C03.html
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