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Cavalaria Ligeira. Recebi ontem, como um coice, a notícia de que o demitido primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes assinou um protocolo para a instalação na sede do Instituto Português de Arqueologia de uma escola de equitação. A cerimónia decorreu na presença de numerosas individualidades, mas os jornalistas foram proibidos de entrar. Misturar política cultural com cavalgaduras é chocante, mas não constitui, infelizmente, grande surpresa no actual panorama político português. Quando Durão Barroso assumiu a chefia do governo, uma das primeiras medidas anunciadas pelo seu Ministro da Cultura foi a fusão IPA / IPPAR. O governo estava então em pleno afã dietético, já que o emagrecimento do estado era a tarefa número um decretada pela ministra das finanças. Mas cedo Pedro Roseta se apercebeu de que a fusão não eximia o estado das suas obrigações legais em matéria de salvaguarda do património e que uma reformulação do IPPAR no sentido de este reabsorver a tutela sobre as intervenções arqueológicas e assumir a gestão integrada dos dois patrimónios saía mais cara do que deixar estar tudo como dantes. Partidários das teorias da conspiração afiançavam que os motivos secretos da anunciada fusão eram os lobbies das autarquias, sempre incomodadas com os entraves que o IPPAR punha à livre proliferação de mamarrachos pelo Portugal profundo, e dos empreiteiros (o famoso lobby do betão). Corroborando estas teses conspirativas, o primeiro borrão de lei orgânica para o novo instituto a surgir da fusão ?esquecia? despudoradamente a possibilidade de embargo administrativo actualmente prevista para o IPPAR. Quanto ao IPA, este constituía uma espinha atravessada na garganta de certos sectores do PSD desde o processo do Côa, e era um filho prematuro (ainda na incubadora, para utilizar uma metáfora em voga no ?politiquês" nacional) do governo Guterres, pelo que urgia acabar-lhe com a raça. Assim, e, na impossibilidade de proceder, sem contestação, à fusão dos dois institutos, optou-se pela asfixia financeira. Após a animada tomada de posse do governo Santana, a nova Ministra da Cultura apressou-se, em visita ao Parque Arqueológico do Côa, a declarar que a ideia de fundir o IPPAR com o IPA estava definitivamente arredada dos corredores do poder. A Associação Profissional de Arqueólogos enviou uma carta de boas vindas à Dr.ª Bustorff em que pedia uma audiência para apresentar as expectativas da classe. Esperamos receber, até ao próximo dia 20 uma resposta. Qualquer cidadão atento às questões do património, independentemente das suas convicções políticas, concordará que esta foi a legislatura horribilis da arqueologia portuguesa: sendo esta uma área onde o investimento público estava já entre os mais baixos de quantas estão sob a tutela do Ministério da Cultura, o subsídio em 2004 para novos projectos de investigação em arqueologia foi de ? 0 ?; os cortes orçamentais no Instituto Português de Arqueologia, que no ano anterior tinha tido dificuldades em honrar a totalidade dos seus compromissos remuneratórios, foram de cerca de 20 %, pelo que neste momento só há dinheiro para pagar salários até ao início do verão; as extensões territoriais do instituto, que garantem a fiscalização dos trabalhos arqueológicos por todo o país e a inventariação dos sítios arqueológicos, tarefas indispensáveis a uma gestão responsável do território, estão à mingua de pessoal e a extensão de Viseu, uma das que têm maior área a seu cargo no país, encontra-se mesmo vazia por a única funcionária que resistia estar de licença de parto; as publicações do IPA, que vinham constituindo um meio fundamental para a divulgação dos trabalhos científicos que a comunidade ia produzindo, foram interrompidas. A 1 de Agosto de 1999 o Instituto Arqueológico Alemão decidiu extinguir a sua delegação em Lisboa. Estabeleceu-se, então, um protocolo para a cedência em regime de comodato da biblioteca deste instituto, a maior na área de arqueologia existente em Portugal, ao Instituto Português de Arqueologia. Ora, a ironia do destino encarregou-se de colocar o nosso demitido primeiro-ministro a assinar o protocolo de acomodação na sede do IPA das alimárias de alta escola no edifício originalmente previsto para depósito e consulta dos couros mais leves que envolvem os volumes da supracitada biblioteca. A bosta das montadas não cobriu ainda o chão da biblioteca do IPA, mas, pelo andar da carruagem, os preciosos volumes de arqueologia arriscam-se a cavalgar para Madrid a galope forçado. Definitivamente, toda esta história cheira mal. Pela Direcção da Associação Profissional de Arqueólogos, O Presidente, Sérgio Fiadeiro Guerra Carneiro ___________________________________________________________ ALL-NEW Yahoo! Messenger - all new features - even more fun! http://uk.messenger.yahoo.com
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