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[Archport] E assim vai a Arqueologia em Portugal......


•   To: archport@list-serv.ci.uc.pt
•   Subject: [Archport] E assim vai a Arqueologia em Portugal......
•   From: "rebeca.sousa sousa" <rebeca.sousa@gmail.com>
•   Date: Tue, 15 Feb 2005 16:21:48 +0000

De facto ser profissional em Arqueologia em Portugal é uma verdadeira
aventura, quase tão dura e dificil quanto aquelas vividas pelos nossos
antepassados nas conquistas feitas por esse mundo fora! O fascinio de
que se reveste esta ciência é sem dúvida enorme, e penso que quem é
realmente um apaixonado pela Arqueologia e teve formação nesta área se
tornou uma pessoa muito mais sensivel e começou a ver o mundo de forma
diferente.
Ainda durante a frequência do curso pude constatar que os incentivos 
financeiros para levar  a cabo projectos de investigação em Portugal
nesta área eram poucos ou nenhuns, a própria frequência de uma
liceciatura em Arqueologia assim nos deu indicadores disso mesmo, pois
em trabalhos de campo que tivemos que realizar, foi do nosso bolso que
saiu o dinheiro para as deslocações e respectivas despesas em
alojamento e alimentaçãos a localidades a cerca de 100 ou 200 km da
faculdade para obtemos uma classificação. Foram no entanto estas
experiências que nos deram o contacto com as nossas raízes culturais,
o património e os tão pedagógicos relatos de populações que constituem
hoje em dia um valioso testemunho vivo de todo um passado.
As frequentes histórias em torno de empresas de arqueologia que muitos
dos meus colegas relatavam, que não tinham verbas para pagar a tempo e
horas pelo trabalho, muitas vezes duro, desempenhado; as rivalidades e
a falta de ética por muita gente entitulada de arqueologo, que colocam
interesses financeiros em primeiro plano, não dando o devido
tratamento e respeito ao património, fazem qualquer um meditar sobre
se este era o futuro pelo qual lutaram.
Em termos de emprego, ou se trabalha em empresas de arqueologia por
periodos que tanto vão de 1 mês a 1 ano, tendo para isso que ter a
disponibilidade de andar de terra em terra, em condições salariais e
de trabalho muitas vezes precárias ( chegando-se ao cúmulo de colocar
trabalhadores sem formação e habilitações a orientar escavações
havendo arqueólogos no local para o efeito) ou então tem que se ter
uma cunha e tenta entrar numa câmara municipal. De facto os concursos
públicos de admissão de arqueologos para autarquias até têm sido
frequentes, no entanto as pessoas que são admitidas  já estão
previamente escolhidas. Já tive a oportunidade de concorrer a uma
série de concursos e chega a ser patético e irónico o que sucede. A
decisão é feita numa entrevista, é aqui que se pode manobrar um
concurso, e acontecerem coisas como: entre 4 candidatos em que 2
possuem mestrado e experiência relevante na área, um outro tem cerca
de 5 anos de experiência na área de arqueologia em autarquias e outra
tanta em trabalhos diversos, e um cadidato que só possui cerca de 2
meses de experiência e uma licenciatura, quem  é o escolhido? O que
tem cunha, e que por acaso até era o que menos habilitações e
experiência tinha! Para quê dispender tempo e dinheiro em formação
para depois vermos coisas destas acontecerem?
Além disso as pessoas que colocam no júri das entrevistas têm-se
revelado tudo menos profissionais, senão vejam: como é possível que
alguém responsável pelo património de uma Câmara Municipal, que por
acaso até fica muito próximo de Foz Côa pode numa entrevista
profissional alegar que as gravuras do Côa deveriam ter sido
"retiradas" e colocadas num Museu e assim ter sido construida a
barragem? Eu ao ouvir isto quase caí da cadeira, mas depois até achei
piada imaginar o cenário de arqueologos e trabalhadores a "recortar"
as gravuras e a colocá-las numa linda vitrine de museu! Será que estes
senhores sabem o que é património? Já ouviram falar de musealização de
paisagens?
A continuar assim, as entidades autárquicas não contratam pessoas para
preservar o património mas para o destruir.
Num país tão pequeno acontecem grandes barbaridades em torno da
arqueologia, agora até escolas equestres são mais importantes que o
pouco que já resta do IPA. Onde é que isto vai parar............


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