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RE: [Archport] A cavalo em Tróia: mais lenha...


•   To: <archport@list-serv.ci.uc.pt>
•   Subject: RE: [Archport] A cavalo em Tróia: mais lenha...
•   From: "Filipe Castro" <fvcastro@tamu.edu>
•   Date: Thu, 15 Sep 2005 08:45:10 -0500

Como eu e o Paulo Monteiro somos estranhos ao mundo profissional da arqueologia portuguesa, não sei se o moderador deste grupo quererá que continuemos aqui a mandar as culpas de todos os males do mundo para cima da classe.  :-)

 

Por favor digam-nos se não preferem que eu e o Paulo continuemos a criticar os arqueólogos em privado.

 

Mas eu acho que é bem verdade o que ele diz.  Desde pequenino que me lembro de ir com o meu pai, por montes e vales, para ver ruínas ou sítios arqueológicos, e depois chegávamos e havia uns tapumes, sem nenhuma indicação do que se passava, e mais nada.

 

Aqui nos EUA toda a gente sabe quem é o João Zilhão, e nos encontros de arqueologia subaquática toda a gente sabe quem foi o arqto. Lixa Filgueiras.  Mas mais ninguém.  Há tempos reparei que os mapas do atlas histórico da Pinguin não têm sequer Portugal no século XIII. 

 

Eu não tenho quase nenhum contacto com quase nenhuns arqueólogos portugueses, mas cada vez que vou aí sinto que os arqueólogos são uma classe completamente balcanizada, sem interesses comuns claramente definidos, separada por ódios radicados em diferenças de opinião política com mais de trinta anos, onde se tem de pertencer a um grupo para se existir, onde reina o secretismo e as pessoas fazem coisas horríveis umas às outras só porque podem.

 

É natural que a nossa classe política desconheça tudo sobre a importância da arqueologia, do património, do estudo do passado, etc.  

 

E é natural que por isso escolham sempre um(a) ministro(a) da cultura que não faça muitas ondas e escolha directores e presidentes para os institutos e direcções gerais conhecidos, “de boas famílias”, com a coluna vertebral flexível e sem grandes ambições de mudar as coisas e desatar a arranjar problemas com os oligarcas que mandam nos políticos.  E os nossos oligarcas são muito piores que os nossos políticos!  Lembram-se do “Relatório Porter”?  A conclusão estava escrita com imensa elegância, mas podia-se resumir mais ou menos assim: os banqueiros e os industriais portugueses são, na generalidade, uns gebos.  Ponto final.

 

Enfim, se tiverem seis horas para lerem os meus emails, posso contar-vos histórias sobre as aventuras dos meus alunos a tentarem investigar em Portugal.  :-)

 

Não quero com isto dizer que não haja pessoas excelentes, competentes e responsáveis, nos arquivos, nas repartições, nas direcções gerais e até no IPPAR!  Mas não são, infelizmente, a regra.

 

E perante o vosso silêncio (um bocadinho jesuítico?), calo-me respeitosamente.

 

Filipe Castro

Texas, EUA

 

 


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