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Eu resolvi ser arqueólogo
aos 35 anos, ou coisa assim. Antes tinha sido engenheiro civil (acabei o Técnico
em 1984) e depois fiz um MBA, e só depois e que trabalhei com arqueólogos em
Portugal, durante um espaço de tempo curtíssimo, aliás, nos anos noventa. Depois vim para aqui estudar
e acabei por decidir ficar para sempre (depois das dificuldades todas que sofri
a tentar trabalhar aí). Trabalhar aqui nos EUA tem
sido uma experiência excepcional. Não porque as pessoas aqui sejam mais sábias,
mais inteligentes, ou mais bem organizadas do que os portugueses. Acho que há três coisas óptimas
aqui: A primeira é que os
americanos dizem tudo o que têm a dizer uns aos outros. Berramos e
esgadanhamo-nos nas reuniões, e depois vamos todos almoçar juntos. Não há
facas a voar no escuro quando se vira as costas. A segunda diferença é que
isto é uma coisa muito próxima de uma meritocracia. Não tenho aqui na
universidade nenhum chefe estúpido, bronco ou preguiçoso, a odiar-me porque eu faço
troca deste presidente ou do outro, a perseguir-me porque eu faço parte de uma
rede de protecção dos GLBTs e tenho posters no meu gabinete e no meu laboratório,
etc., por aí a cima, até ao presidente. E a minha universidade foi considerada
a universidade pública mais conservadora dos EUA no ano passado. A terceira coisa é talvez
a mais importante e a que faz mais diferença entre as minhas experiências em Portugal
e aqui: os americanos não são invejosos e congratulam-se a sério com os
sucessos dos colegas. O nível de colaboração e entreajuda entre nós é uma
vantagem enorme sobre outros grupos, porque nos faz funcionar como uma equipa.
Passamos a vida a mandar fotocopias de artigos uns aos outros, temos grupos de discussão,
almoços em que apresentamos as nossas ideias uns aos outros e um armário com
todas as bolsas que foram aprovadas fotocopiadas para tirarmos ideias e frases
que funcionaram. No fim do verão mandamos CDs com as fotografias das escavações
uns aos outros e em imensos casos revemos os artigos uns dos outros antes de os
submeter. Em todo o caso, devo
dizer que, embora agora não tenha qualquer contacto com arqueólogos em
Portugal, até há três anos tinha e acho que há uma geração mais nova que é
bastante diferente de algumas das pessoas com quem eu trabalhei aí, e de quem
agora fujo como o diabo da cruz! J Filipe Castro Texas, EUA From: Caro Colega! Sou arqueólogo e apesar de pertencer à classe não posso negar as
críticas que tem vindo a fazer à arqueologia Portuguesa! Aliás... Não posso
estar mais de acordo com elas! Agrada-me o facto de alguém tomar a palavra (revoltada... e com razão!)
e fazer dela "protesto" de descontentamento! O meu bem-haja e já agora continue, porque só discutindo e aclarando
(por vezes "iluminando" quem tudo quer ignorar) é que se
"constrói"! De alguém que espera poder fazer realmente arqueologia séria, Os melhores cumprimentos João Machado |
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