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Re: [Archport] Direitos e deveres???


•   To: "arqscarvalho@iol.pt" <arqscarvalho@iol.pt>
•   Subject: Re: [Archport] Direitos e deveres???
•   From: "Alexandre Monteiro" <alexandre.monteiro@gmail.com>
•   Date: Tue, 26 Sep 2006 00:37:23 +0100

Para além dos direitos e deveres há também algo chamado risco, gosto, vocação e gestão das expectativas. Se eu não tivesse optado por ser técnico avençado do IPA - e, lá está, tive que pagar o meu próprio IRS, o meu IVA, a minha segurança social e o meu seguro profissional, não estando de qualquer modo vinculado ao Estado - seria quiçá hoje professor do quadro de nomeação definitiva do ensino secundário.
 
No entanto, abdiquei de perfazer dois anos de tempo de serviço lectivo, desperdiçando os 4 que já tinha pelo privilégio de poder 'aventurar-me' na arqueologia subaquática. Claro que o estrangulamento crescente de que o IPA e o CNANS têm vindo a ser alvo - cada vez menos dotações orçamentais, não há quadro de pessoal, há fusões e confusões cabonde - levaram-me ao destino previsto: a rescisão, passados dois anos, do meu contrato.
 
Foi pena? Foi, claro. Fiquei desempregado e tive que me fazer à vida. Durante dois anos trabalhei em algo que, apesar de ser interessante, era extremamente mal remunerado. E claro, nada relacionado com a arqueologia. 
 
E, passados outros dois, anos, estou efectivo em algo que é bem pago, com um bom sistema de saúde e melhor protecção na reforma - mas, também, nada a ver com a arqueologia, que continuo a fazer, como hobby, produzindo investigação.
 
Moral da história? Não há. Ou, melhor, há. Não acredito em desemprego. Há sempre uma caixa de supermercado, um call-center, um mediador de seguros à espera de um doutorado, de um mestrado, de um licenciado. Mal pagos, é certo, precários, mas existem. O que não existe em Portugal é uma cultura de rigor e de cidadania - porque razão há tanto arqueólogo sem ocupação (em rigor, também os há empregados, alguns das autarquias e das direcções de serviço, mas que se fazem por desocupar)?
 
Porque é que há tanto doutorado a viver dos biscates dos projectos de média duração da FCT, muitas das vezes saltando de estudo em estudo, não porque seja relevante fazê-lo em termos científicos, mas porque é preciso fazê-lo para pagar as contas no final do mês?
 
Porque, por vezes,  Portugal continua a ser, ainda, um país rural, em que os que mandam - os directores, os chefes, os políticos - são apenas licenciados ou nem isso, que continuam a temer o conhecimento e os que são mais qualificados que eles. Ou tão só porque, por vezes, o facto de se ser doutorado não é equivalente a ser-se bom profissional - há, vistas de as haver visto, pessoas que fazem mestrados em técnicas de detecção remota e nunca as aplicaram, ou viram ser aplicadas, no terreno, efectivamente detectando o que quer que seja...
 
 
 


 
2006/9/26, arqscarvalho@iol.pt <arqscarvalho@iol.pt>:

 

Caros colegas:

 

Tenho assistido a esta troca de mensagens, vulgo "galhardetes", sem nada dizer.

De facto, é inqualificável o tipo de acusação difamatória anónima, a que todos tivemos acesso.

Quanto a isso, nada mais se deveria, a meu ver, acrescentar, pois é dar força e importância a quem não merece qualquer resposta, devido ao seu anonimato.

Mas, não posso deixar de me manifestar após a leitura da mensagem enviada pela colega Maria Araújo, a quem me dirijo, sem qualquer intenção, obviamente, de atacar pessoalmente:

 

O facto de subscrever as afirmações do Prof. Encarnação (que eu própria subscrevo) parece-me excelente. E só o pode fazer aqui, neste fórum, porque vive, precisamente, num estado de direito, em que a liberdade de expressão ainda é um DIREITO de todos os cidadãos.

Quando diz que a sua indignação é isenta está a ser paradoxal, visto que desconhece, como afirma, o funcionamento empresarial e os seus defeitos ou virtudes.

As parcas condições de trabalho em Portugal, devem-se a múltiplos factores, sendo um deles, de facto, o pequeno mercado de trabalho existente na área da arqueologia.

Agora, deixe-me fazer esta pequena ironia: O Prof. Salazar estaria, certamente, surpreendido, se estivesse vivo, com as preocupações sociais e laborais que incute nas políticas e ideologias por ele praticadas. Acha mesmo que "ganhar bem e gastar ainda mais" é uma apologia salazarista???

Acha mesmo que é a "cegueira" que nos faz "pedir mais direitos"? Não será a "fomeira"? Ou mesmo as "divideiras" que todos têm que pagar ao fim de cada mês? E, já agora, porque é que ao reclamar direitos se está a negligenciar os deveres e a ética profissional? (Aqui sim haverá um pouco de mentalidade salazarista).

Recordo também que os sindicatos, esses "malvados", não existem só no domínio público. São até muito comuns em todas as áreas profissionais. Por acaso, e a avaliar, pelo estado laboral da arqueologia, espelhado neste fórum, estamos realmente a necessitar de um. Mesmo com salários "chorudos"! Talvez fosse boa ideia verificar os vencimentos dos sindicalistas, antes de insultar pessoas que realmente trabalham e lutam para deixar trabalhar os outros. De facto, considero que têm razões para se preocupar com os salários dos arqueólogos, se considera que os sindicalistas auferem "chorudos" salários.

Embora lhe pareça incrível, tanto no estado como no meio empresarial privado, há bons e maus trabalhadores e gente com mérito e sem mérito em ambos os lados da arqueologia.

Os ordenados baixos de mestres e licenciados não são um mal das ciências humanas. Infelizmente, atravessam praticamente todas as áreas científicas.  

Passando aos tribunais: deve saber que o acesso à justiça é, quase sempre, bem pago, lento e moroso. O problema é tão grave que, temos acompanhado a difícil reforma do sistema judicial e a luta que os SINDICATOS de juízes e restantes trabalhadores afectos a este sistema, têm levado a cabo nos últimos anos. Sabe que os juristas dos sindicatos são uma oferta GRATUITA aos trabalhadores neles inscritos?

Termino dizendo que concordo com o: trabalhem e deixem trabalhar os outros. Acrescentando, preocupem-se, lutem e defendam os direitos a que todos devíamos aspirar e cumpram com os vossos deveres éticos e profissionais.

 

Com os melhores cumprimentos,

 

Susana Carvalho

Arqueóloga



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