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RE: [Archport] Destruição de vestígios arqueológicos em Tomar


•   To: "'ozecarus'" <ozecarus@sapo.pt>, <Archport@lserv.ci.uc.pt>
•   Subject: RE: [Archport] Destruição de vestígios arqueológicos em Tomar
•   From: "Filipe Castro" <fvcastro@tamu.edu>
•   Date: Wed, 27 Sep 2006 17:03:58 -0500

Ha varios anos, durante um jantar de amigos (no tempo do Cavaco e do relatorio Porter) um dos yuppies que estava em Portugal a trabalhar no relatorio Porter disse-me que os politicos portugueses nao eram nem melhores nem piores que os dos paises desenvolvidos (eu acho que ele nao conhecia o Alberto Joao Jardim…), mas que os empresarios eram maioritariamente ignorantes, arrogantes e incapazes de pensar a longo prazo.

 

Alias disse-me uma coisa interessante: que lhe parecia que a escola em Portugal destruia a independencia e o espirito empreendedor e que as pessoas com educacao superior tinham tendencia para procurar “seguranca” a trabalhar para outros.

 

Mas enfim, como em Portugal mandam os empresarios e os clubes de futebol acho que e mais ou menos normal que estas coisas acontecam.  Os empresarios dao as ordens, os politicos evitam pensar na realidade, falam de futebol o mais que podem no horario nobre da televisao, e tentam seguir o exemplo do Jorge Coelho e amealhar algum para os filhos enquanto podem.

 

E o resultado e que Portugal e o pais em que os empreiteiros se atreveram a pedir a cabeca do Joao Zilhao, porque ele tentava fazer cumprir a lei, em que o governo a entregou sem pestanejar e onde (quase) ninguem se indignou.

 

Acho portanto natural que o IPA se encolha e deixe os empreiteiros e os presidentes da camara “desenvolverem o pais” em paz e harmonia. 

 

Nem me parece que ninguem no IPA pudesse contar com a solidariedade da classe, na hipotese (implausivel) de o IPA (ou o IPPAR) decidir um dia tomar uma decisao corajosa e embargar uma obra ao abrigo da lei.   :-)

 

Eu lembro-me que quando o Francisco Alves fez frente ao Santana Lopes e ao Gomes da Silva (e ao Cavaco!) por causa da lei criminosa da caca aos tesouros, se contaram pelos dedos os arqueologos que vieram a publico defender a arqueologia contra os doutores Arrojas da SEC.  :-)

 

Filipe Castro

 

 


From: archport-bounces@lserv.ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@lserv.ci.uc.pt] On Behalf Of ozecarus
Sent: Wednesday, September 27, 2006 3:58 PM
To: Archport@lserv.ci.uc.pt
Subject: [Archport] Destruição de vestígios arqueológicos em Tomar

 

Caros archportianos(as)

 

É com tristeza e mágoa que noticio a destruição de vestígios arqueológicos em Tomar, junto ao Pavilhão Municipal de Tomar.

 

Para quem não saiba ou não se lembre, a construção deste Pavilhão e parque de estacionamento subterrâneo, da responsabilidade da TomarPolis, viu-se envolto em grande polémica, pela destruição de uma boa fatia da antiga cidade romana de Seilium.

 

Cerca de 3/4 do desaterro foi efectuado sem acompanhamento arqueológico. Quando a OZECARUS, Lda. chegou ao local para fazer o acompanhamento arqueológico, deparou-se com um corte onde se encontravam grande quantidade de muros romanos ceifados pelas máquinas.

 

As medidas de minimização ditadas pelo IPA, traduziram-se na escavação de uma boa área (paralela à Rua do Centro Republicano), tendo sido posto à vista, parte de um santuário dedicado às àguas, com paralelos na Gália e em Espanha. A outra metade, como já depreenderam, desapareceu com os trabalhos de desaterro.

 

A partir desse momento qualquer vala aberta foi precedida de escavações arqueológicas que vieram a revelar várias casas romanas em volta do santuário.

 

No dia 26 de Setembro de 2006, demo-nos conta que estavam a abrir uma grande vala de saneamento no centro desta rua, apenas com acompanhamento arqueológico.

 

A vala encontra-se a mero 1,5 m de distância das ruínas que escavámos. O corte que dá para a vala que se está a abrir, apresentava duas calçadas (uma de Época Moderna e outra Medieval) sobre o pavimento de rua romano que rodeava o santuário, datado do séc. I d.C.

 

Como calculam, contactámos de imediato o IPA, pois achámos estranho que a 1,5 m das ruínas romanas se estivesse a abrir uma vala sem serem efectuadas sondagens prévias, como é de lei e a prudência aconselha.

 

O arqueólogo da empresa contratatada (de que não revelo o nome, por enquanto) não encontrou qualquer vestígio arqueológico. Pudera! Com uma giratória gigante a escavar estruturas frágeis, não admira!

 

O que me admira, e me deixa triste, é que o IPA Central foi contactado de imediato por nós, a quem solicitámos a paragem da obra, para averiguar que vestígios existiam no corte.

 

A resposta foi lacónica e cordata. Iam lá mandar os seus técnicos para averiguar. Mas pelo que sabemos, as deligências estão a ser feitas muito lentamente, e qundo lá chegarem já não há nada para contar.

 

Vocês sabem que quantidade de terra retira uma máquina dessas num dia?

 

Só vos digo (e tenho conhecimento de causa) que são muitos e muitos metros cúbicos de terra.

 

Apresentámos ao IPA toda a documentação que elucida bem a destruição que está a ocorrer.

 

O IPA tem o relatório preliminar dos trabalhos que aí efectuámos. O IPA tem o nosso parecer para musealização do que resta do santuário.

 

A área está vedada com um muro de betão e o arqueólogo que está a fazer o acompanhamento, da borda da vala que está a acompanhar, pode voltar-se para trás e ver os muros romanos.

 

Alguém cometeu um erro grosseiro, e o que exigimos ao IPA é que proceda a um inquérito rigoroso, para apurar responsabilidades. Quem é que autorizou estes trabalhos, sem ter em conta os trabalhos arqueológicos que ali foram feitos? A empresa que acompanha os trabalhos tinha conhecimento dessas escavações?

 

O que é que consta do Plano de Trabalhos? (O qual já pedimos ao IPA, mas sem resultados, pois mandaram-nos pedi-lo por ofício. Maldita burocracia!).

 

Não estou a exigir mais do que o que o IPA nos costuma exigir, a nós, arqueólogos profissionais, que passamos a vida a acompanhar máquinas daquele calibre.

 

E que muitas vezes nos persegue, atafulhando o nosso local de trabalho, numa imensidão de cartas e cartas, para explicarmos isto e aquilo, num tom inquisitorial, ofendendo por vezes, a dignidade e profissionalismo de quem dá o seu melhor pela Arqueologia.

 

Como o Archport não comporta ficheiros anexos de algum tamanho, estou à disposição para ceder fotos e plantas, que ilustram o que acabo de expôr, a quem se mostrar interessado.

 

Podem fazê-lo para ozecarus@sapo.pt

 

Carlos Batata, arqueólogo

 

 


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