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Caros archportianos(as)
É com tristeza e mágoa que noticio a destruição de
vestígios arqueológicos em Tomar, junto ao Pavilhão Municipal de
Tomar.
Para quem não saiba ou não se lembre, a construção
deste Pavilhão e parque de estacionamento subterrâneo, da responsabilidade da
TomarPolis, viu-se envolto em grande polémica, pela destruição de uma boa fatia
da antiga cidade romana de Seilium.
Cerca de 3/4 do desaterro foi efectuado sem
acompanhamento arqueológico. Quando a OZECARUS, Lda. chegou ao local para fazer
o acompanhamento arqueológico, deparou-se com um corte onde se encontravam
grande quantidade de muros romanos ceifados pelas máquinas.
As medidas de minimização ditadas pelo IPA,
traduziram-se na escavação de uma boa área (paralela à Rua do Centro
Republicano), tendo sido posto à vista, parte de um santuário dedicado às
àguas, com paralelos na Gália e em Espanha. A outra metade, como já
depreenderam, desapareceu com os trabalhos de desaterro.
A partir desse momento qualquer vala aberta foi
precedida de escavações arqueológicas que vieram a revelar várias casas romanas
em volta do santuário.
No dia 26 de Setembro de 2006,
demo-nos conta que estavam a abrir uma grande vala de saneamento no centro desta
rua, apenas com acompanhamento arqueológico.
A vala encontra-se a mero 1,5 m de distância das
ruínas que escavámos. O corte que dá para a vala que se está a abrir,
apresentava duas calçadas (uma de Época Moderna e outra Medieval) sobre o
pavimento de rua romano que rodeava o santuário, datado do séc. I
d.C.
Como calculam, contactámos de imediato o IPA, pois
achámos estranho que a 1,5 m das ruínas romanas se estivesse a abrir uma vala
sem serem efectuadas sondagens prévias, como é de lei e a prudência
aconselha.
O arqueólogo da empresa contratatada (de que não
revelo o nome, por enquanto) não encontrou qualquer vestígio arqueológico.
Pudera! Com uma giratória gigante a escavar estruturas frágeis, não
admira!
O que me admira, e me deixa triste, é que o IPA
Central foi contactado de imediato por nós, a quem solicitámos a paragem da
obra, para averiguar que vestígios existiam no corte.
A resposta foi lacónica e cordata. Iam lá mandar os
seus técnicos para averiguar. Mas pelo que sabemos, as deligências estão a ser
feitas muito lentamente, e qundo lá chegarem já não há nada para
contar.
Vocês sabem que quantidade de terra retira uma
máquina dessas num dia?
Só vos digo (e tenho conhecimento de causa) que são
muitos e muitos metros cúbicos de terra.
Apresentámos ao IPA toda a documentação que elucida
bem a destruição que está a ocorrer.
O IPA tem o relatório preliminar dos trabalhos que
aí efectuámos. O IPA tem o nosso parecer para musealização do que resta do
santuário.
A área está vedada com um muro de betão e o
arqueólogo que está a fazer o acompanhamento, da borda da vala que está a
acompanhar, pode voltar-se para trás e ver os muros romanos.
Alguém cometeu um erro grosseiro, e o que exigimos
ao IPA é que proceda a um inquérito rigoroso, para apurar responsabilidades.
Quem é que autorizou estes trabalhos, sem ter em conta os trabalhos
arqueológicos que ali foram feitos? A empresa que acompanha os trabalhos tinha
conhecimento dessas escavações?
O que é que consta do Plano de Trabalhos? (O qual
já pedimos ao IPA, mas sem resultados, pois mandaram-nos pedi-lo por ofício.
Maldita burocracia!).
Não estou a exigir mais do que o que o IPA nos
costuma exigir, a nós, arqueólogos profissionais, que passamos a vida a
acompanhar máquinas daquele calibre.
E que muitas vezes nos persegue, atafulhando o
nosso local de trabalho, numa imensidão de cartas e cartas, para explicarmos
isto e aquilo, num tom inquisitorial, ofendendo por vezes, a dignidade e
profissionalismo de quem dá o seu melhor pela Arqueologia.
Como o Archport não comporta ficheiros anexos de
algum tamanho, estou à disposição para ceder fotos e plantas, que ilustram o que
acabo de expôr, a quem se mostrar interessado.
Podem fazê-lo para ozecarus@sapo.pt
Carlos Batata, arqueólogo
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