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RE: [Archport] Trabalho digno. Finalmente rebentou a bronca!...


•   To: andregregorio@hotmail.com, archport@list-serv.ci.uc.pt
•   Subject: RE: [Archport] Trabalho digno. Finalmente rebentou a bronca!...
•   From: Hélio Reis <helio_ark@hotmail.com>
•   Date: Thu, 28 Sep 2006 10:30:35 +0100

Bom dia.

Façam as contas:

Renda de um quarto: 125? (mínimo)
Prestação do carro: 250?
Segurança social: 150? (não sei se estará actualizado)
Gasóleo: 150? (com alguma sorte)
IRS: 200? (sim, eu sei que uma parte é devolvido em Setembro)

A soma destas parcelas resulta em 875?. Isto serão as despesas mínimas de alguém que esteja a realizar um acompanhamento arqueológico, sabe Deus onde, para uma empresa que não fornece carro, e não paga despesas. Todos sabemos que na média um arqueólogo ganha cerca de 1100 euros por mês, mas vamos imaginar que ganha 1250 como alguns (poucos) casos que eu conheço.

Este arqueólogo que ganha 1250 euros por mês fica então com 375 euros no bolso depois de pagas as despesas básicas. Nada mau, pensarão alguns. Agora somem-lhe mais 10? de telemóvel (mínimo), despesas de relatório mensal (10? mínimo), e comida (afinal temos que comer) no valor de 150? por mês (esse arqueólogo come pouquito). Dos 375? ficamos com 205?, aos quais temos que retirar cerca de 50 euros para seguros (o carro tem que ter seguro contra todos os riscos porque foi comprado a crédito e este valor é o mínimo dos mínimos), ficando assim com 155? e ainda temos que pagar água, luz e gás no valor mínimo de 30?. E assim ficamos com 125??

125? é quanto poderá poupar um arqueólogo que ganha 1250? por mês (reparem que o IRS está por baixo) e ainda terá que pagar do seu bolso a máquina fotográfica, as botas, o colete e o capacete, mais cartas militares (se o dono de obra não lhe fizer cópias) e saber que provavelmente nunca receberá ao dia certo (ou semana certa e por vezes nem sabe o mês). Não tem subsidio de desemprego, férias, subsidio de natal nem sabe se depois de amanhã não ficará sem trabalho durante semanas ou meses?

Façam as mesmas contas para alguém que ganha 1000 euros!

Enquanto trabalhei para uma empresa de arqueologia considerei-me um privilegiado. Sempre tive trabalho, sempre recebi a horas e sempre me pagaram as despesas relacionadas com o trabalho (alojamento, gasóleo, despesas de relatório e até o telemóvel quando telefonava do meu). Estas despesas nunca foram inferiores a 250? mensais.

Somem ao primeiro que caso que relatei o facto de não existir qualquer apoio cientifico a pessoas que acabam de sair da universidade e o caldo está feito!
Claro que eu posso estar enganado e não existirem empresas de arqueologia que exploram o animal que trabalha, mas eu só vejo Mercedes e jipes de um dos lados?


O dinheiro não é tudo, mas todos temos que comer e viver dignamente!

A vida não é perfeita nem é justa, e o mundo pertence aos mais fortes, mas a formiga só sobrevive porque vive em comunidade e em grupo.

Hélio Reis

P.S. Achei bonita a reacção dos ?colaboradores? de uma das empresas visadas, até a maneira de responder teve uma matriz comum, o que reforça o espírito de grupo. Pena só responderem 3 ou 4 elementos num universo de várias dezenas!



From: "Andre gregorio" <andregregorio@hotmail.com>
To: archport@list-serv.ci.uc.pt
Subject: [Archport] Trabalho digno. Finalmente rebentou a bronca!...
Date: Wed, 27 Sep 2006 20:54:13 +0000



Para não correr o risco de me tomarem por um "cobarde anónimo", apresento-me desde já. Chamo-me André Gregório, sou arqueólogo, trabalho profissionalmente em arqueologia à 5 anos, sempre no contexto da arqueologia comercial.

Gostaria de deixar algumas questões para a reflexão da comunidade arqueológica, para que se possa fazer uma discussão sobre a nossa profissão, a nossa realidade profisional e social.

Assim, quando comecei a trabalhar, em 2001, comecei por ganhar 9 mil escudos por dia como técnico assistente de arqueólogo. Era fora da minha área de residência e por isso tive alojamento e refeições pagas. Todo o material de escavação foi providenciado pela empresa contratante. O equipamento de segurança (capacete, botas, luvas e impermeáveis) foi também fornecido pela empresa.
Hoje para a mesma tarefa já é difícil arranjar quem pague estes valores...


Em 2003 fui responsável por um acompanhamento de obra. Recebia 1500 euros por mês.

Este mês, foi-me proposto um trabalho como arqueólogo responsável por um acompanhamento. O vencimento proposto foi de 1000 euros por mês. Informei-me com alguns colegas que estão a trabalhar e apercebi-me que este valor está a ser praticado por bastantes empresas.

Em três anos significa uma redução de mais de 30% nos salários propostos.

Este caso pessoal serve para alertar as pessoas para a clara degradação da situação sócio-profissional dos profissionais da arqueologia. Quem escolheu, como eu, a arqueologia como profissão e como modo de vida, não o fez certamente para enriquecer.

Mas também não fiz voto de pobreza!...

É uma profissão tão digna, respeitável e merecedora de justo pagamento como qualquer outra!...

Houve quem dissesse neste fórum que dava a cara (mas não deu o nome) e que"quem está mal que se mude". Eu digo, QUEM NÃO SE SENTE NÃO É FILHO DE BOA GENTE.

Defendo a criação de uma nova entidade de natureza sindical que se preocupe em defender a dignidade profissional e social dos profissionais da arqueologia.
Garantir direitos, boas condições de trabalho, acabar com a precariedade dos vínculos apenas poderá aumentar a qualidade do produto oferecido pelas empresas.


Sobretudo quando a arqueologia tem dado tanto dinheiro a ganhar.

Para concluir,gostaria de me dirigir pessoalmente à colega Maria Araújo.
O facto de estar casada com um advogado não a faz estar lá muito bem informada. Sabia que as regras do apoio judiciário mudaram e tornaram-no praticamente inacessível a quem não fôr indigente?
E é conhecedora do novo código das custas judiciais? Sabe quanto custa meter uma acção judicial?
Em caso de conflito laboral entre um trabalhador independente e a entidade contratante,as custas judiciais são insuportáveis para quem receba os vencimentos médios que se pagam na arqueologia comercial.
Não, os tribunais não são acessíveis à generalidade dos trabalhadores independentes.


Finalmente, gostaria de ouvir a Sra. Célia Aniceto pronunciar-se pessoalmente em relação à polémica em que é visada. Porque ler mensagens sucessivas de assalariadas dessa empresa defendendo a entidade patronal é,no mínimo, estranho, uma vez que nenhuma delas foi visada pela crítica.



Respeitosamente,

André Gregório

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