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Caros archportianos (as)
Lamento ter de responder a uma empresa desta forma
e por este canal tão prestigiado, mas é importante que todos os interessados
tenham conhecimento do direito de resposta que me assiste.
Em relação ao Ponto 1, o
signatário apenas teve conhecimento casual desta obra, no dia 26 de Setembro de
2006, desconhecendo que empresa ali estava, quem era o dono de obra e se tinha
acompanhamento arqueológico.
É natural que tendo efectuado escavações
arqueológicas de uma estrutura tão importante, ficasse preocupado que estivessem
a abrir uma vala daquelas dimensões, a uns escassos 1, 5 metros de distância,
sem quaisquer trabalhos prévios (sondagens ou escavação arqueológica). Por isso
foi contactada a Extensão do IPA em Torres Novas, que disse desconhecer a obra,
em que rua se estava a realizar e que só tinha recebido do IPA Central uma
autorização genérica de uma obra na margem esquerda do Nabão, tendo sido o
signatário a indicar-lhes o local preciso.
Ponto 2 - Não é política da
OZECARUS emiscuir-se nos trabalhos que estão a ser realizados por outras
empresas ou arqueólogos independentes.
Ao contrário do que afirmas, Valera, não era a mim
que competia dirigir-me ao arqueólogo que estava a efectuar o acompanhamento. O
que é natural que aconteça (e é o que acontece na maior parte das vezes) são os
que vêm a seguir que pedem informações aos que fizeram trabalhos arqueológicos
anteriormente no mesmo local.
E a OZECARUS sempre forneceu (e fornece) da
melhor vontade os dados que lhe solicitam. Mas isso não aconteceu,
pois não, Valera? Porque não lhes foram solicitados. E ambos sabemos
porquê.
A afirmação de que o arqueólogo do
acompanhamento nada encontrou, é da autoria do mesmo. Contactada a Extensão
do IPA em Torres Novas, no dia 26-09-2006, esta contactou o dito arqueólogo que
referiu nada ter encontrado.
Ponto 3 - Efectivamente, a vala já
não estava a ser aberta junto às estruturas romanas. Já tinha passado por elas.
Tu não estavas lá, porque eu ter-te-ia reconhecido de imediato. Mas garanto-te
que a vala tinha uma profundidade de cerca de 3 m, tendo cortado as margas
calcárias, onde assentam as estruturas romanas.
Sabias que por cima das margas calcárias existe uma
ocupação pré-histórica? O IPA de Torres Novas sabia, mas como,
aparentemente, não foi consultado pela Direcção não se pôde pronunciar
sobre o Pedido de Autorização.
Ponto 4 - O que é falso é
afirmares que " (...)Toda a escavação foi feita, portanto, em terras
recentemente revolvidas, não existindo quaisquer vestígios arqueológicos.
(...)".
O colector que está a ser
substituído é de diâmetro muito inferior às manilhas que ali estão a colocar.
Espreitei muita vez para dentro desse colector, sei a profundidade a que
está colocado e sei a quantidade de água que corria dentro
dele.
Ponto 5
- O IPA não acorreu de imediato, como disseste. E sabes porquê? Porque
tinha o jipe na oficina e não se podiam deslocar. Efectivamente, foram
contactados no dia 26, mas só no dia 27 à tarde é que se deslocaram ao local,
como o confirmei com a Extensão no dia 27.
Ponto 6 - Afinal sempre haviam
estruturas?
Ponto 7 - Os cortes que
desenhámos, a 1,5 m da vala que estão a abrir, demonstrou a existência de duas
calçadas (uma de seixos, de Época Moderna) e outra medieval que pavimentavam
toda a rua. Não as encontraram? Junto às margas calcárias, um pavimento de seixo
miudo, de Época Romana, que se projectava para a Rua do Centro Republicano. Não
a encontraram? Sobre as margas calcárias existe ocupação pré-histórica. Não a
encontraram?
Ponto 8 - É costume fazerem-se
ameaças quando não se conseguem dobrar os adversários ou quando se quer
silenciá-los. Infelizmente, estou muito habituado a esse tipo de ameaças. É um
risco que se corre quando se procura defender o que é correcto.
Ponto 9 - A ERA encontra-se muito
desactualizada no que respeita às relações profissionais do visado com a
APA.
Conclusão:
Até agora respondi letra a letra à exposição da
ERA, mas é importante tecer as algumas considerações finais sobre o sucedido, de
modo a enquadrar melhor os infelizes acontecimentos.
No meio desta bagunça toda e do "disse que disse",
a entidade que agiu mais correctamente nesta história toda foi o Dono de Obra.
Com efeito, tenho acompanhado muitas obras em Tomar, e mesmo antes disso, já
verificara que sempre se preocuparam em cumprir a lei, ou seja, sempre lançaram
concursos para que as obras fossem arqueologicamente acompanhadas. Se alguma vez
falharam (e no caso do Pavilhão Municipal de Tomar isso aconteceu e é do domínio
público), deveu-se mais, diga-se, em abono da verdade, por falta de
acompanhamento por parte do IPA do que por falha própria.
No caso da destruição dos vestígios arqueológicos
da Rua do Centro Republicano, há aqui uma evidente falha de comunicação entre o
IPA Central e a Extensão de Torres Novas, ao aprovarem um Plano de Trabalhos de
um Pedido de Autorização para Trabalhos Arqueológicos sem contemplar as
medidas de minimização adequadas que, no meu entender, deveriam ser, para
respeitar o texto da lei que o IPA tão zelosamente faz cumprir, sondagens
arqueológicas seguidas de escavação caso se justificasse.
No dia 26-09-2006 enviei de imediato ao IPA
Central, documentação que demonstrava a perigosidade da realização dos trabalhos
daquela forma. Pedi que parassem os trabalhos.
Pedi que me enviassen uma cópia do Pedido de
Autorização. Ainda estou à espera.
Não quero fazer juízos apressados. Como cidadão e
como arqueólogo tenho direito a ver essa documentação e de estar na
posse de todos os elementos para poder avaliar o que aconteceu de uma forma
justa e honesta.
Tentei respeitar a privacidade de quem estava
a fazer o acompanhamento arqueológico. Mas não pensem que respeitar a
privacidade é passar de largo e fingir que não aconteceu nada.
O que aconteceu é grave e repetiu-se precisamente
no mesmo local onde há um ano atrás, uma boa parte da cidade romana de Seilium,
desapareceu sem que houvesse possibilidade de efectuar o registo do que ali
existia.
E o que ali existia, sabemos hoje que se tratava de
um santuário dedicado às águas talvez consideradas pelo romanos, como
medicinais. Ali rebentavam vários olhos de água, e um deles, pelo menos, foi
canalizado, através de uma belíssima conduta romana para prováveis tanques onde
os romanos se banhavam.
Em volta desenvolviam-se bairros romanos de que
encontrámos várias estruturas. Encontrámo-los junto ao Estádio Municipal e na
Rua do Centro Republicano, precisamente onde começaram a abrir esta
vala.
Carlos Batata, arqueólogo
OZECARUS, Serviços Arqueológicos, Lda
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