[Archport] Em Nome do Bom Gosto

["Nuno Garcia" <nunoedgarcia@gmail.com>]

Caríssimo José d'Encarnação,

 

A oportunidade dada aos arqueólogos e a todas as entidades ligadas ao mundo da Arqueologia para discutirem temas polémicos ou trocarem informações inerentes ao meio científico em questão, foi, indubitavelmente um passo em frente para a Arqueologia nacional. Esse avanço positivo deve-se ao Archport.

 

A verdade, dolorosa porventura, é que dei por mim, demasiadas vezes na minha opinião, na expectativa de ver chegar uma resposta "picante" a um anterior post mais ou menos provocador ou, talvez, "malcriado". O meu empenho, semelhante à angustia de um adolescente em frente à TV aguardando mais um capítulo do "Big Brother" ou de um qualquer programa do género, desejoso de sentir a notável "vergonha alheia", qual injecção de adrenalina, de forma a combater o tédio do dia-a-dia, foi quotidiano.

 

Assim, passei os meus últimos dias…

 

A forma como foi tratada a questão das condições de trabalho a que estão sujeitos muitos dos nossos colegas – esclavagismo moderno para uns, mera contabilidade financeira para outros ou, para os mais felizardos, circunstâncias normais da vida – assassinou, por vezes, o BOM GOSTO (não só a gramática, como sugeriram alguns). Porém, dada a premência do tema, a necessidade de os seres humanos viverem com dignidade e o desespero mais que compreensível de muitos dos colegas, levou-nos a suportar estoicamente alguns dos contornos que a discussão tomou. Pode parecer pedantismo, todavia, muitos archportianos deixaram de participar por isso mesmo, eu inclusive.

 

A gota de água foi a "troca de galhardetes" entre duas empresas de Arqueologia. Entre o ataque irritantemente frontal e o desprezo olímpico, quase ameaçador, aproveitou-se para lapidar o nosso BOM GOSTO em nome do enorme ego dos intervenientes.

 

Rogo-lhe, portanto, que, da mesma forma que o lápis azul censurou os pobres anónimos – certamente anónimos para poderem continuar a contar com as migalhas que ganham – censure, também, estas questiúnculas entre empresários/arqueólogos. Destilar ódio publicamente é igualmente um atentado ao BOM GOSTO de cada um.

 

Sem outro assunto,

 

Nuno Garcia