Davide Delfino.
Eu tenho sessenta e seis anos cumpridos de muito trabalho.
O Davide está a oportunistamente aproveitar-se de estar a responder-me aqui, seguro de que é casa sua.
Muitos dos arqueólogos que aqui estão conhecem-me e privaram comigo em múltiplos contextos. E sabem que eu não sou uma criança, sou um velho, um ancião se preferir.
Reitero em que está a mentir e em que está a fazê-lo levianamente, porque será confrontado com o teor dos seus depoimentos e os do Gustavo Portocarrero.
Será também confrontado com tudo o que omitiu ao longo de toda esta trapalhada.
Quando o Delfino iniciou o seu ''raisonné'' encontrou a para o efeito denominada ''Colecção Estrada'' acondicionada num espaço para o efeito projectado e edificado por mim, devidamente inventariada, os objectos devidamente acondicionados. Recolhi-os, preparei-os para acondicionamento, inventariei-os e liguei o inventário ao depósito de forma que em dois minutos passasse do inventário para o acondicionamento de cada objecto. Fi-lo com a informação de que dispunha e só por isso o Davide e os seus colegas puderam determinar, no acervo, o que era a tal ''colecção Pessoa''. Transmiti-lhe toda a informação de que dispunha.
Fiz tudo em três anos. E o Senhor João Estrada pagou-me mil Euros por mês, doze mil por ano. Mas pôde investir na qualificação do espaço e dos equipamentos que o transformaram num pequeno museu modesto mas digno. Onde todos poderiam, a partir de então, estudar, submeter todos os objectos ao seu itinerário crítico.
Diga-me o que realizou desde que tomou para si este encargo? Para lá de elaborar para a polícia o seu sumário relatório que verá em breve a luz do dia sob a designação pomposa de ''Raisonné''.
Explique-me então porque razão eu não posso perguntar-lhe, com toda a frontalidade, quem lhe pagou e quanto, para fazer o seu relatório, garantindo que uma colecção retornava ao domínio obscuro liberta dos agravos que o seu estatuto patrimonial lhe impõe.
Se a colecção Estrada vier a ser resgatada como falsa pelo seu domínio obscuro, poderá passear livremente pelo mercado. Sabe porquê? Porque tanto os colecionadores como os ''marchants'' estar-se-ão nas tintas para o Davide Delfino. Eles sempre acharam que sabem mais destas coisas do que os arqueólogos. Na maioria dos casos têm razão, não porque sabem mais, mas por razões que lhe exporei em breve aqui ou noutro foro público.
Obviamente eu quero continuar e continuarei. Mas o Davide, se não quer faz parecer que sim.
Porque eu vou demonstrar-lhe até que ponto vou abusar da sua paciência. Até ao ponto em que abusou da minha.
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Manuel de Castro Nunes