Acho pena que a
arqueologia subaquática ainda seja uma actividade para diletantes e “exploradores”.
Estas noticias infelizmente sucedem-se, com “exploradores” a
apresentarem as “suas” escavações “arqueológicas.” O Sr. Goddio deve ser uma
pessoa extraordinária e dizem-me que e simpatiquíssimo, mas que eu saiba não é arqueólogo
e por isso, na minha opinião, não devia dirigir escavações arqueológicas. Como especialista –
e baseando-me no livro sobre a escavação “dele” do navio espanhol San Diego – achei o trabalho apresentado
uma tremenda oportunidade perdida para se perceber melhor como eram construídos
estes navios, que eram talvez as maquinas mais sofisticadas do tempo deles. O ênfase nos artefactos e
nos “tesouros” retirou a importância devida ao registo rigoroso do
contexto em que os artefactos foram encontrados e, sobretudo, ao estudo dos
restos do casco, que me parecem – a julgar pelos fraquíssimos desenhos e
fotografias publicados – tão ou mais importantes que os do conhecido
navio inglês Mary Rose. Julgo que a arqueologia subaquática
devia ser deixada aos arqueólogos. Creio que todos nos congratulamos
por não haver “exploradores” entre os cirurgiões nos serviços de urgências
dos nossos hospitais e não percebo porque é que ninguém se importa que a arqueologia
subaquática continue a ser um passatempo de aristocratas e de milionários (ou
dos caçadores de potes e de porcelanas que andam por Moçambique a espatifar restos
de navios portugueses incrivelmente bem preservados e que dizem que me querem
mandar matar por eu ter dado uma opinião técnica sobre a actividade deles). Como não sou egiptólogo não
posso julgar o trabalho do Sr. Goddio no campo da egiptologia, mas como arqueólogo
náutico acho o trabalho dele no campo da arqueologia náutica tremendamente
fraco. Considerando que as escavações
são por definição actividades altamente destrutivas, não acho que o
diletantismo deva ser encorajado. Mas enfim, os políticos franceses,
como quase todos os políticos do nosso tempo, são ignorantes e selvagens, e se
calhar esta versão populista da arqueologia já é o futuro da arqueologia: recuperar
estátuas de faraós e pratos de porcelana da China, ou desembrulhar múmias em
directo para o Discovery Channel. Se calhar o futuro não é das
pessoas que se preocupam com as minudências dos métodos e da teoria da Arqueologia,
ou as que tentam reconstruir o passado de uma forma séria, baseando as suas deduções
no estudo paciente de artefactos sem valor de mercado. Ainda há poucas semanas não
consegui fazer perceber a um historiador (e professor universitário) porque é
que não se deve vender os artefactos “repetidos” das escavações arqueológicas.
E há dois anos uma pessoa
com enormes responsabilidades no Ministério da Cultura disse-me que se não fossem
os caçadores de tesouros quase que não havia artefactos para os museus. Um dia, se tiver tempo,
escrevo outra vez aqui o que penso do trabalho (miserável) dos arqueólogos no
que diz respeito à educação dos colegas de outras áreas, dos políticos e dos
jornalistas. :-) Filipe Castro Texas From:
archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf Of José d'Encarnação Da Lettre d'informations
culturelles - Nouvelles de Clio (Janeiro, nº 66),
transcrevo, com a devida vénia, a informação acerca de uma deveras interessante
exposição patente no Grand Palais, em Paris, até 16 de Março próximo. ..............
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