Paredes ocres e pretas ajudam a realçar e destacar
a importância dos vestígios arqueológicos encontrados no Monte Molião e na
baía de Lagos, que se mostram, até 28 de Julho, no Centro Cultural da
cidade, inseridos na exposição «Laccobriga-A ocupação romana na baía de
Lagos».
TEMAS: Arqueologia
Esta exposição, bem como a publicação que a
acompanha, apresentam ao público, pela primeira vez, os resultados dos
trabalhos de investigação que, desde há um ano, se têm realizado no Monte
Molião e na zona da baía de Lagos.
Este projecto de investigação,
com término em 2009, é financiado pela Câmara de Lagos e gerido pela
Faculdade de Letras de Lisboa e pelo UNIARQ (Centro de Arqueologia da
Universidade de Lisboa), com a direcção científica de Ana Margarida
Arruda.
Através dos objectos descobertos durante as escavações
arqueológicas, e agora apresentados, os visitantes farão uma breve
incursão na história da "primitiva" cidade de Lagos.
Na entrada,
uma fotografia aérea de grandes dimensões, datada dos anos 80 do século
passado, mostra o Monte Molião, aquele que parece ter sido o núcleo
inicial da cidade de Laccobriga.
Hoje, uma parte significativa do
mesmo Monte Molião está coberta de urbanizações, pelo que uma foto actual
daria uma perspectiva bem diferente.
Laccobriga foi importante durante o Império
Romano
Durante o Império Romano, Laccobriga terá
assumido um papel estruturante na organização do território da região,
quando, com o fim da guerra lusitano-romana, se colonizaram as terras em
seu redor e surgiram núcleos habitacionais, quer no litoral, junto à baía,
quer no interior, ao longo da Ribeira de Bensafrim.
Esta exposição
mostra os vestígios deixados pelos seus habitantes, durante a ocupação de
Lagos pelos romanos, entre século I antes de Cristo e o VI d.C.
«O
nosso objectivo era mostrar a primeira ocupação da baía de Lagos, antes da
ocupação do centro histórico», explicou ao «barlavento» Elena Morán,
arqueóloga da Câmara de Lagos.
«Temos objectos resgatados desta
primeira fase de ocupação: cerâmicas finas, ânforas de vinho da Itália, de
azeite da Bética, pratos de mesa, bem como moedas».
A cunhagem das
moedas que estão expostas «foi feita na cidade muralhada de Silves, no
Cerro da Rocha Branca, antes do império romano, na época republicana»,
esclareceu a arqueóloga.
Lagos era importante centro exportador de
preparados de peixe
Mesmo depois da queda do Império
Romano, Lagos continuou a ter importância como exportador de preparados de
peixe.
«Este espólio mostra que Lagos, ainda no século VI,
continuava romanizada, com as mesmas tradições de produção de peixe»,
afirmou Elena Morán.
A comprovar a magnitude da cidade enquanto
complexo industrial piscícola, estão os vestígios das fábricas de peixe,
situadas desde o Largo Infante D. Henrique até à Rua 25 de Abril.
Em destaque no Centro Cultural, está uma estatueta de bronze do
deus Mercúrio, símbolo dos comerciantes, encontrada nas necrópoles do
Molião.
Ao seu lado, está um pequeno jarro de bronze, do período
romano imperial, também encontrado no Molião, que representa a cabeça de
um jovem efebo.
Além dos mosaicos recuperados de uma villa na Meia
Praia, é possível ver panelas, colares de contas, chaves, uma roca, um
espelho, uma pinça, e até frascos de perfume em vidro.
Existem
também peças de contexto funerário, como urnas, e uma que, além de ser
pintada, contém ainda restos da cremação.
Além dos vestígios
arqueológicos encontrados no Monte Molião e na Ribeira de Bensafrim, estão
também expostas peças descobertas em escavações em pleno centro histórico
de Lagos, feitas na década de 90, como ânforas. Os tanques de salga estão
representados em fotografias, feitas na altura das escavações
arqueológicas de emergência.
«Só que ainda não sabemos qual era o
peixe utilizado», adiantou a arqueóloga Elena Morán. O artista Jorge
Pereira fez uma ilustração da fábrica de salga encontrada na Rua Silva
Lopes.
Recriação do mundo
dos mortos em plena exposição
No meio da penumbra, está
a parte mais misteriosa da exposição: a recriação do mundo dos mortos.
«Temos um caixão da época romana, feito de telhas. Pertencia a uma mulher
de 20 anos, que foi encontrada na Rua Marreiros Neto. Estavam também junto
a ela objectos fúnebres, como pequenos potes», contou Elena Morán.
Em cima está uma lápide funerária, que pertencia a Lupa, uma
criança de dois anos, que foi recuperada da Avenida dos Descobrimentos.
Uma exposição que conta uma fatia importante da história de Lagos,
em tempos remotos, mostrando espólio em parte inédito para o grande
público, ou que nunca antes "brilhou" tanto como nesta mostra, que pode
ser vista até 28 de Julho, no Centro Cultural.
18
de Maio de 2007 | 15:00 mara
dionísio |
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