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Re: [Archport] O vil metal

To :   "Ricardo Gaidão" <caioviator@yahoo.com.br>
Subject :   Re: [Archport] O vil metal
From :   "Alexandre Monteiro" <alexandre.monteiro@gmail.com>
Date :   Thu, 11 Oct 2007 21:06:31 +0100

Bom, se calhar esta resposta é uma tréplica às minha dúvidas, que iniciaram esta cadeia de emails... tal como nos jornais, um email, desprovido de linguagem facial e de tom, pode conduzir a crispações desnecessárias. Permitam-me explicar. A notícia original, da Lusa, era esta (bem menos desenvolvida do que a surgiu no Público de hoje)

"Arqueologia
Descoberto em Mêda tesouro romano do século IV
2007-10-10 14:48:00 Lusa

"Um tesouro romano do século IV, com 4526 moedas de cobre e bronze, foi encontrado no sítio arqueológico do Vale do Mouro, Coriscada, concelho de Meda, no âmbito de uma campanha a decorrer desde Julho, informou hoje o arqueólogo responsável. As moedas estavam dentro de um saco de serapilheira, escondido numa parede, "juntamente com objectos de ferro. Provavelmente, a casa teria pertencido a um ferreiro", disse António Sá Coixão. (...)

Quem escondeu as moedas executou "um alinhamento de pedras, colocou as moedas no interior de um saco de serapilheira, deitou uma camada de terra e, por cima, disfarçou com ferragens diversas (uma foice, uma picareta, argolas para lareira, duas chaves, etc) e mais terra, para as pessoas pensarem que era uma tulha de ferreiro". (....)"

 
O que me chamou realmente a atenção, não foi o tesouro ou o seu achado. Foi o estar envolto numa serapilheira. Ora, serapilheira, para mim, é um tecido onde se ensacam batatas - apesar da etimologia latina apontar para tecido feito de junco. Logo, 4500 moedas envoltas em serapilheira conjura logo na minha mente um entesouramento feito por um pastor, um ferreiro ou um pedreiro hodiernos. Se estivessem dentro de uma ânfora.... outro galo cantaria na minha mente. ;)
 
Em todo o caso, o que eu escrevi era um remoque às afirmações jornalisticas, não era uma crítica ao arqueólogo. Por experiência própria, sei o quão estúpido se pode parecer quando as nossas citações, completas, eruditas e cientificamente comprovadas, são reduzidas a 3 ou 4 parágrafos de jornal, descontextualizados e com os destaques dados àquilo que pareceu ao jornalista generalista, o mais sumarento (aliás, recordo com prazer as correcções dadas por um arqueólogo - de que não recordo o nome - a um artigo feito no mesmo público sobre as escavações da Chaves romana e que estava prenhe de imprecisões, visões e efabulações do jornalista).
 
Por isso mesmo terminei o meu email escrevendo: "aguardemos pela notícia mais detalhada para satisfazer a curiosidade" - notícia, entenda-se, da escavação, escrita pelo arqueólogo responsável. Só essa conta para apreciação da comunidade.
 
Alexandre










Em 11/10/07, Ricardo Gaidão<caioviator@yahoo.com.br> escreveu:
> Desculpem o facto de expressar de forma directa e incisiva. Sinceramente
> fico bastante triste por constatar, mais uma vez, a rapidez com que alguns
> arqueólogos fazem julgamentos na praça pública. Por isso, já que tanta gente
> se manifestou prontamente, também penso ter direito a deixar algumas
> considerações pessoais:
>  
> Convém relembrar que se trata de uma notícia de jornal. Logo a informação é
> sintética e simplificada. Pode parecer estranho, mas (felizmente) nem todos
> os arqueólogos  costumam explicar o trabalho que desenvolvem, assim como os
> achados realizados, com um paleio científico, chato e hermético para o comum
> dos mortais. O objectivo da impressa é divulgar a informação de forma
> acessível, e não ser a transcrição de uma conversa recheada de termos
> profissionais, que nem o próprio jornalista compreende.
>  
> Quanto às condições do achado, a notícia explica perfeitamente o contexto e
> a forma de descoberta. Supostamente seria um esconderijo num muro, onde as
> moedas estariam ocultas com outras peças metálicas.
>  
> Este tipo de esconderijos muitas vezes apenas se encontram por mera sorte,
> de outra forma ninguém se teria dado ao trabalho de os utilizar no passado.
> Assim a única forma de os topar, é através da desmontagem de estruturas.
> Raramente esta ocorre nas condições sonhadas, mas suponho que a descrição
> patente na notícia faz menção às características do esconderijo.
>  
> Quanto à mencionada "serrapilheira", vale a pena referir que é possível a
> sua sobrevivência ao longo dos séculos, sob condições excepcionais. Uma
> delas é a saturação do tecido por material bioicida, como por exemplo,
> óxidos de cobre, geralmente resultantes da degradação de moedas.
> Vale a pena referir que em no museu de Silves (salvo erro) se encontrava em
> exposição um pequeno pote com moedas de cobre, que através de uma reacção
> semelhante permitiu preservar a tampa original em cortiça. As minas romanas
> de Aljustrel (Vipasca), também  forneceram um importante espólio em madeira
> e fibras vegetais, conservadas graças aos compostos de cobre existentes na
> mina.
>  
> Eu próprio participei numa escavação onde se encontrou um tesouro monetário
> romano, cuja degradação permitiu conservar algumas fibras do saco original.
> Será que também sou "detectorista" ou mentiroso?
>  
> Acho que vale a pena mencionar que não conheço o arqueólogo em causa, mas
> como colega apenas posso pensar dele o melhor até prova em contrário. Aos
> investigadores interessados no tesouro sugiro que façam como tantos outros e
> esperem pela sua publicação ou entrem em contacto, de forma profissional,
> com o arqueólogo responsável. Garanto que será sempre melhor que avançar
> teorias via Archport.
>
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