Caros archporiamos,
Perante a ultima polémica do pagar para escavar, gostaria de dizer que acho efectivamente inadmissível que qualquer instituição de Ensino Publico que tenha previsto no currículo académico a realização de trabalho de campo, contando esse trabalho como créditos para a Licenciatura, possa cobrar por essas escavações o que quer que seja, uma vez que os alunos pagam propinas!
No entanto, existe por todo o mundo uma coisa chamada ?Campos de Trabalho de Arqueologia?, em que se dá formação e em que efectivamente as pessoas pagam para escavar. Existe, inclusivamente, um autêntico turismo arqueológico neste sentido, pessoas que não são estudantes de Arqueologia, simples entusiastas e curiosos que querem aprender, ou simplesmente ter umas ferias diferentes. Nesses casos, sou totalmente a favor do pagamento de uma taxa de participação, quer pela formação que é dada (estou a falar de formação efectivamente, com calendarização de aulas), quer pela alimentação e estadia. Um quadro destes faz parecer que estamos a capitalizar a Arqueologia, mas existindo um controle do rigor científico do trabalho, por parte da tutela, parece-me uma forma inteligente de capitalizar a Arqueologia. Isto porque se faz Arqueologia de investigação tendo meios financeiros para a fazer, em que o dinheiro pago é canalizado para o projecto. Parece-me que tem de haver mais projectos autárquicos, de associações, empresas, centros de estudos, e Universidades, mas que não dependam exclusivamente de Bolsas do FCT e do financiamento do IGESPAR. É exactamente aqui que entra o ?provincianismo?, ou seja, gostamos da nossa terra, do sítio onde nascemos? Então façamos alguma coisa por ela, procuremos formas de financiar a investigação, apostar na inovação, aliarmo-nos à museologia, ao ambiente, e ao Turismo Histórico e Cultural! Façamos a Arqueologia chegar às pessoas, para que elas cheguem a nós, e com elas os Museus, os verdadeiros centros de investigação, e o Turismo.
Não quero com isto desresponsabilizar a tutela, o seu papel dinamizador é e tem de ser ainda mais importante, e deverá ter um papel cada vez mais sólido na fiscalização e controle da qualidade científica do trabalho, parece-me, no entanto, essencial que cada vez mais consigamos trabalhar sem depender economicamente dela.
Obvio que há sempre ?bons? e ?maus? profissionais, o que eu acho que não pode continuar a haver são os chamados arqueólogos de primeira e de segunda, arqueólogos que fazem investigação e aqueles que fazem acompanhamentos de obras e minimizações. Fazer um acompanhamento ou uma minimização, é muitas vezes considerado ?chato? pelos recém-licenciados, a questão aqui é que se diz: ?não foi para isto que estudei?, o problema é esse mesmo, as faculdades não nos preparam para esse trabalho, mas afinal ele existe, está previsto na Lei, é muito importante, e dá trabalho a 75% (ou mais) dos arqueólogos em Portugal.
Mas a arqueologia não pode continuar, exclusivamente, a andar ?à boleia? das obras públicas, e de um ou dois tostões dados a um ou dois arqueólogos para fazerem investigação.
Porque, um dia, e para esse dia não falta muito, o ?boom? das grandes obras públicas, que alimentam as dezenas de empresas de Arqueologia que proliferam por aí, vai acabar!
Sónia Bombico
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