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[Archport] Resp.: Revolta da provínncia

Subject :   [Archport] Resp.: Revolta da provínncia
From :   "Alexandre Monteiro" <alexandre.monteiro@gmail.com>
Date :   Wed, 24 Oct 2007 12:32:07 +0100

Caro Rudolfo

Quem escavou e não publicou nem faz tenções de publicar - e hoje em
dia, publicar está à distância até de texto num blog (afinal, não é o
meio de transmissão aquilo que dita a qualidade da ciência produzida,
mas sim a qualidade da metodogia empregue) - efectivamente não só
não-trabalhou como, pior, obliterou para sempre, de forma
irremediável, um fragmento do NOSSO património (regional, nacional, da
humanidade) de forma irresponsável.

As condições que cita - precaridade de emprego, etc. a que eu juntaria
deficiente formação académica e profissional - não deverão
constituir-se em circunstâncias atenuantes para a elaboração de um
trabalho mais negligente ou irresponsável. Relembro mais uma vez que o
exercício da arqueologia em contexto de escavação tem como resultado
final a destruição do documento arqueológico - é como se eu, no
decurso da minha investigação sobre o afundamento da galera "Correio
da Ásia", fosse queimando um a um os documentos manuscritos do Arquivo
Histórico Ultramarino que fosse compulsando.... acho que é para todos
facto iniludível que, se não os publicasse, as informações nele
contidos se esfumariam para todo o sempre.

Outro facto que convém lembrar é que, se alguém é licenciado em
arqueologia, tal não faz com que esse alguém seja arqueólogo. No nosso
meio, muitos bons profissionais da arqueologia não têm sequer formação
de base em arqueologia: serão arquitectos, físicos, geógrafos,
comandantes de marinha, engenheiros civis.... eles são e serão sempre
julgados, tal como os licenciados em arqueologia que pretendam
enveredar pelo caminho da arqueologia séria, científica e rigorosa,
não pelo número de acompanhamento de abertura de valas efectuado (de
que não há amiúde resultados publicados ou mesmo publicitados no bate
boca típico do meio) ou pela quantidade de prospecções ou escavações
putativamente feitas, mas sim pleo corpo científico de dados
coligidos, trabalhados e analisados críticamente - e esse corpo, dê lá
por onde der, tem que ser publicitado e colocado à consideração
crítica dos seus pares.

É assim que todas as ciências, mesmo as ditas humanidades, avançam.
Não saber isso é grave.

Alexandre

Em 24/10/07, rudolfo_dias@iol.pt<rudolfo_dias@iol.pt> escreveu:
> Disse o Sr. Ricardo Abranches que «Infelizmente uma das características dos
> portugueses é queixar-se muito e normalmente no local errado».
>
> Eu acrescentaria que outras características históricas dos portugueses são a
> subserviência e o medo de emitir opiniões críticas e mesmo queixas (na gíria
> "comer e calar"), sob pena de serem vistos como "perigosos revolucionários"
> e "manipuladores das consciências"! Temo que este senhor sofra de alguns
> tiques próprios de Primeiro-Ministro…
>
> Proponho, pois, à comunidade arqueológica que formule uma tabela para a
> graduação de Queixumes (p. ex.: 0-Come e cala; 1-Poucas ondas;
> 2-Medianamente; 3-Assim/Assim; 4-Já começas a abusar; 5-Alto e pára o baile,
> seu "comuna"!) e indique quais os locais mais apropriados para esses
> Queixumes (ex.: uma esquina de rua). Isto para que pessoas como o Sr.
> Ricardo não fiquem muito melindradas.
>
> Lá diz o adágio popular: «Não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu»
> …, isto porque sempre se pode ter o azar de encontrar um desses destemidos
> empreendedores que tanto gostam de alardear o terem subido "a pulso na
> vida", contra ventos e marés, … para as cavalitas dos outros!
> Se calhar o Sr. também é daqueles que respondeu a um inquérito (se viram o
> último Prós e Contras) a afirmar que os 2 milhões de pobres em Portugal
> devem isso à sua "preguiça"…
>
> Quanto às afirmações algo presunçosas do Sr. Alexandre Monteiro, a propósito
> do Curriculum Vitae, devo dar-lhe os parabéns pelo facto de, segundo os seus
> critérios de "trabalho", possivelmente ser ele o único que contribui para os
> 62,4% de taxa de actividade no 2.º trimestre de 2007 (INE, 2007).
> Deduzo então que, efectivamente, muitos de nós nunca tenham trabalhado! Pelo
> contrário, antes temos feito "não-trabalhos", em vários "não-lugares"
> (segundo Marc Augé), onde muitos de nós ganharam "não-calos" nas mãos, a
> cumprir "não-prazos" impraticáveis, para que os "não-empresários" das
> "não-empresas" pudessem continuar a fazer "não-orçamentos" que roçam a
> desfaçatez… E com este "não-trabalho" lá tentámos nós ganhar algum
> "não-dinheiro", a troco de "não-recibos verdes", para pagar as nossas
> "não-obrigações fiscais" e os nossos "não-compromissos" diários e mensais.
>
> A este propósito lhe pergunto: como será o CV de um talhante? Pelo número de
> salsichas ou pernil de porco vendidos? Ou terá de publicar algo sobre unhas
> de porco ou morcelas de arroz? E já agora: aceitam-se publicações no jornal
> Destak ou na Dica da Semana? E quando morrer, será que o meu retrato na
> página na secção de Necrologia do JN serve, para este senhor, como
> publicação?
>
>
> Dixit
>
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> Ter 20 000 euros e tao simples como ir a internet!
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