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Re: [Archport] A verdadeira Revolta da Provincia!!

Subject :   Re: [Archport] A verdadeira Revolta da Provincia!!
From :   M. Emília Azevedo <emilia_simas@hotmail.com>
Date :   Fri, 26 Oct 2007 17:23:21 +0100


Caros Archportianos

Antes de mais gostava de saber porque razão esta troca de ideias começou por ser a "revolta da provinncia" e agora passou a ser "A verdadeira Revolta da Província!!"? Além disso e dada a abrangência dos interlocutores, essencialmente queixosos, porque como é óbvio os que estão bem calam-se, e os que esperam vir a estar também, parece-me que a revolta ultrapassa a pressuposta "província" e passa a ser do País, a não ser que a nível arqueológico sejamos mesmo uma " provinncia" ( com erro e tudo... ). Perante tantas opiniões e acumulado de desilusões de vários intervenientes à cerca da Arqueologia em Portugal, fico estarrecida e indignada,isto porque cada vez que se toca num assunto rebenta uma bomba e pressente-se uma grande e generalizada insatisfação. Porém, é preciso perceber que em Portugal a Arqueologia é uma jovem adulta no auge das suas ilusões, e muito bem, teve o seu " boom" nos anos 80, influenciando os jovens daquela época e que neste momento detém o poder da mesma. Ou seja, existe uma elite, que por sua vez se vai rodeando de outras elites e assim se está. Mas atendendo a que já estamos no século XXI, com sete anos passados, e perante a consciência da população dos actuais jovens arqueólogos, com tanta cultura, informação, poder de comunicação e actuação, é difícil compreender como é possível tanta irregularidade, quando tudo ainda está num aparente começo... Existe, a meu ver, o factor histórico da Arqueologia, que se prende com o facto de ser o "hobby" das elites, e nunca a base da sua sobrevivência económica. Agora essa perspectiva tende a inverter-se, mas com uma enorme dificuldade, sobretudo para a actual geração que faz Licenciaturas específicas para a actividade, e não trazem, nem arranjam qualquer apadrinhamento no seu percurso académico, que lhes dê saída profissional directa para Câmara, Museu ou Instituto ( mesmo assim com carácter precário, porque agora o Estado já não emprega senão com contratos ), ou ainda investigação ou escavação de longo prazo. Mas há sempre as empresas, cuja história é muito recente, que fornecem "mão de obra/fiscal" aos grandes empreiteiros, porque aqueles que podem fugir a essa obrigação, certamente que o fazem, sem qualquer problema ainda, e que são a fonte de rendimento, mais ou menos regular, dos novos profissionais. Entram aqui os licenciados e os técnicos, que bem pagos ou mal, a tempo ou com atraso, tem os " recibos verdes " para passar,os respectivos impostos para pagar, o equipamento, a responsabilização individual perante o Instituto, o seguro pela actividade que exercem, a " Medicina no Trabalho " individual, e pretendem fazer uma vida dentro do que socialmente podemos designar de "normal ", com comida, roupa ( de marca ou não ) carro e casa, e talvez um cinema, um teatro, uma exposição, um colóquio, umas Jornadas, no Norte, Centro ou Sul do país, enfim... e constituir família... talvez? E estes têm um percurso sinuoso a percorrer, mas há percurso certamente. Assim para se ser arqueólogo com dignidade, tem que se ter um suporte financeiro confortável, venha ele de onde vier, seja de se ser funcionário público ( no vasto leque de funções que existem), dos pais, duma reforma, de fortuna própria, do cônjuge, enfim... tudo menos do trabalho directo, que existe mais, como voluntário e como acompanhamento de obras, e aí o prestigio só o sustentado pelo " ego " individual, e que temos que considerar que tem o seu peso... mas nunca pelo aspecto económico/financeiro. Esta minha opinião prende-se com o facto de ter chegado, ou melhor aproximado, tardiamente ao ambiente arqueológico e ficar surpreendida com o que se constata e com o que se pressente, face à qualidade e dimensão do que se divulga e veicula em matéria de Arqueologia.

M. Emília



From: "Jorge Cruz" <jpsc@sapo.pt>
To: <sonia_bombico@portugalmail.pt>, "Archport" <Archport@lserv.ci.uc.pt>
Subject: Re: [Archport] A verdadeira Revolta da Provincia!!
Date: Wed, 24 Oct 2007 13:39:37 +0100

pois... foi mesmo assim, de mansinho, com todas as justificações e desculpas, com uma leitura pela positiva e com a eterna desculpa dos custos e da aprendizagem... que o macaco foi à mãe. Estamos aqui estamos a pagar para trabalhar todos os dias... se é que isso não acontece já em algumas profissões, porque o que se ganha não dá para comer e para pagar as deslocações para o trabalho.
JC
  ----- Original Message -----
  From: sonia_bombico@portugalmail.pt
  To: Archport
  Sent: Wednesday, October 24, 2007 12:55 PM
  Subject: [Archport] A verdadeira Revolta da Provincia!!




  Caros archporiamos,

Perante a ultima polémica do pagar para escavar, gostaria de dizer que acho efectivamente inadmissível que qualquer instituição de Ensino Publico que tenha previsto no currículo académico a realização de trabalho de campo, contando esse trabalho como créditos para a Licenciatura, possa cobrar por essas escavações o que quer que seja, uma vez que os alunos pagam propinas!



No entanto, existe por todo o mundo uma coisa chamada "Campos de Trabalho de Arqueologia", em que se dá formação e em que efectivamente as pessoas pagam para escavar. Existe, inclusivamente, um autêntico turismo arqueológico neste sentido, pessoas que não são estudantes de Arqueologia, simples entusiastas e curiosos que querem aprender, ou simplesmente ter umas ferias diferentes. Nesses casos, sou totalmente a favor do pagamento de uma taxa de participação, quer pela formação que é dada (estou a falar de formação efectivamente, com calendarização de aulas), quer pela alimentação e estadia. Um quadro destes faz parecer que estamos a capitalizar a Arqueologia, mas existindo um controle do rigor científico do trabalho, por parte da tutela, parece-me uma forma inteligente de capitalizar a Arqueologia. Isto porque se faz Arqueologia de investigação tendo meios financeiros para a fazer, em que o dinheiro pago é canalizado para o projecto. Parece-me que tem de haver mais projectos autárquicos, de associações, empresas, centros de estudos, e Universidades, mas que não dependam exclusivamente de Bolsas do FCT e do financiamento do IGESPAR. É exactamente aqui que entra o "provincianismo", ou seja, gostamos da nossa terra, do sítio onde nascemos? Então façamos alguma coisa por ela, procuremos formas de financiar a investigação, apostar na inovação, aliarmo-nos à museologia, ao ambiente, e ao Turismo Histórico e Cultural! Façamos a Arqueologia chegar às pessoas, para que elas cheguem a nós, e com elas os Museus, os verdadeiros centros de investigação, e o Turismo.

Não quero com isto desresponsabilizar a tutela, o seu papel dinamizador é e tem de ser ainda mais importante, e deverá ter um papel cada vez mais sólido na fiscalização e controle da qualidade científica do trabalho, parece-me, no entanto, essencial que cada vez mais consigamos trabalhar sem depender economicamente dela.



Obvio que há sempre "bons" e "maus" profissionais, o que eu acho que não pode continuar a haver são os chamados arqueólogos de primeira e de segunda, arqueólogos que fazem investigação e aqueles que fazem acompanhamentos de obras e minimizações. Fazer um acompanhamento ou uma minimização, é muitas vezes considerado "chato" pelos recém-licenciados, a questão aqui é que se diz: "não foi para isto que estudei", o problema é esse mesmo, as faculdades não nos preparam para esse trabalho, mas afinal ele existe, está previsto na Lei, é muito importante, e dá trabalho a 75% (ou mais) dos arqueólogos em Portugal.

Mas a arqueologia não pode continuar, exclusivamente, a andar "à boleia" das obras públicas, e de um ou dois tostões dados a um ou dois arqueólogos para fazerem investigação.

Porque, um dia, e para esse dia não falta muito, o "boom" das grandes obras públicas, que alimentam as dezenas de empresas de Arqueologia que proliferam por aí, vai acabar!



  Sónia Bombico





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