[Archport] As Boas Festas do Igespar
A Prenda de Natal
A noite estava calma. O frio lá fora convidava à lareira. O Pai Natal
não tardou a chegar. No sapatinho estava o despedimento de todos os
profissionais de arqueologia do Igespar (ex-IPA), mantidos em contrato
de avença desde 1997.
Sem qualquer aviso prévio, sem os 60 dias a que tinham direito por
contrato (o único direito quem tinham para além de receberem todos os
meses o seu ordenado), através de SMS, telefonema de amigos, os
avençados do IPA souberam no dia 27 e 28 de Dezembro, que dia 2 de
Janeiro não poderão regressar ao serviço.
O País fica sem arqueologia preventiva e fiscalizadora. O "malfadado"
Vale do Côa fica sem prospecção, investigação, actividades com
escolas, contabilidade. A arqueologia deixa de ser subaquática. Os
livros da biblioteca do Instituto Arqueológico Alemão ficam sozinhos.
A arte rupestre nacional já tinha deixado de existir.
Mas perguntarão os co-listeiros, o que é que isso interessa? Nada.
Interessa saber quem vai ser a direcção do BCP, quantas exposições do
Berardo e do Ermitage vamos ter em 2008, quantos quadros italianos
vamos comprar, quanto vamos gastar no Natal e no Ano Novo em telemóveis.
As ideologias morreram. Podemos agora encher uma gaveta de ideologias
e fechamo-la bem fechadinha. Na gavetinha fica a vontade de uma
sociedade mais justa. Se lhe chamarem comunista, eu gosto, se lhe
chamarem socialista eu gosto, se lhe chamarem social-democrata eu
gosto. Não gosto é desta que temos agora.
Um bom ano para todos. Especialmente à Direcção do Igespar que teve a
distinta lata de o desejar aos funcionários que agora despedem sem
qualquer aviso prévio. Afinal a praça da nobre aldeia do Couço
continua activa. Os jornaleiros explorados de ontem são os mesmos
jornaleiros explorados de hoje.
Marta Mendes, ex-avençada do IPA