[Archport] IGESPAR 2008
AGRADEÇO A DIVULGAÇÃO DA SEGUINTE MENSAGEM VIA ARCHPORT:
Caros Colegas:
A leitura das recentes reacções à não renovação em tempo útil dos
contratos de avença dos arqueólogos e outros técnicos do IGESPAR
suscita-me alguns comentários, que me permito por à consideração da
comunidade arqueológica.
1. A situação criada é extremamente grave e lamentável, podendo levar
à paralisação de uma parte muito significativa da actividade do
IGESPAR, com as inevitáveis consequências nos órgãos da administração
central, regional e local, e na actividade empresarial.
2. A reacção de indignação das pessoas directamente afectadas é
perfeitamente compreensível, sendo legítimo que tomem as atitudes que
entenderem convenientes para serem plenamente ressarcidas dos seus
direitos.
3. Importa, no entanto, ter consciência que a situação agora criada é
o resultado de uma série de circunstâncias, cujas origens remontam à
própria criação do recém extinto IPA, em 1997; ao não preenchimento
dos seus quadros técnicos, enquanto havia condições económicas e
políticas para o fazer (i.e., antes da demissão do Ministro Carrilho
e, consequentemente, do Director Zilhão); à anulação e não reabertura
do concurso para arqueólogos do IPA; enfim, à entrada do IPA num lento
processo de agonia, após a demissão de Zilhão/Monge, que se prolongou
por 7 penosos anos, de "gestão corrente", em que os problemas, longe
de ser resolvidos com coragem e determinação, se foram agravando, num
verdadeiro efeito de bola de neve, com total desprestígio da
instituição.
4. Importa, no entanto, referir, a determinação e o total empenho
pessoal de João Pedro Ribeiro que, nos últimos 9 meses tudo tem feito
para, numa missão quase impossível, resolver as situações resultantes,
por um lado, da situação herdada, e por outro, da desastrosa política
de desinvestimento do Estado em todas as área consideradas não
imediatamente lucrativas, de desvalorização da função pública e de
desarticulação e enfraquecimento dos orgãos da administração central a
que se tem assistido nos últimos dois anos, em nome de uma pretensa
modernização e racionalização, que não tem outros objectivos senão a
redução cega e articial do défice público.
5. Sugerir ou até exigir a demissão imediata de J.P.Ribeiro, como
alguns pretendem, à semelhança do que outros fizeram, num passado
recente, quando verificaram a inconsequência da fuga para a frente que
haviam tentado, e deixaram de ter cobertura política para a sua
estratégia de confrontação institucional, afigura-se extremamente
injusto. Só o próprio, como Homem honrado, livre e determinado que é,
deverá tomar as decisões que melhor entender, quando muito bem entender.
6. A situação de precaridade de emprego dos chamados "avençados" , que
agora chegou ao fim, há muito se afigurava insustentável. Importa,
agora, exigir do Governo a pronta resolução da situação, mediante a
abertura imediata de um concurso público, com um juri idóneo e
independente, e a celebração de contratos individuais de trabalho com
todos aqueles que demonstraram ter competência técnica e comportamento
ético consentâneo com as funções que desempenharam, nalguns casos ao
longo de quase uma década, aproveitando a ocasião para separar o trigo
do joio...
7. Com efeito, só com funcionários competentes e inteiramente
dedicados à causa pública, contratados a tempo inteiro, e em regime de
exclusividade, poderá o IGESPAR desempenhar as amplas funções que lhe
estão cometidas no domínio da gestão do património arqueológico.
8. Caso tal não aconteça, dentro das próximas semanas, decerto que o
próprio JP Ribeiro tomará as atitudes adequadas. Será então necessário
denunciar o incumprimento pelo Estado Português das suas
responsabilidades em relação ao património arqueológico, à revelia da
legislação portuguesa, das directivas comunitárias e das convenções
internacionais que ratificou.
9. Resta-me desejar que o ano de 2008 seja o ano da clarificação e da
revitalização da Arqueologia Portuguesa, para bem de toda a comunidade
arqueológica. Poderá parecer utópico, mas que seria da Humanidade sem
esperança e sem utopias ?
José Morais Arnaud
30 de Dezembro de 2008