Caros,
Uma das principais razões que me levou a optar pela investigação geoarqueológica, para além da óbvia apetência preferencial, foi precisamente a percepção da desunião global da comunidade dos arqueólogos portugueses. E nem sequer vale a pena escondê-la.
Fomentada desde muito cedo no meio académico – nem sei muito bem por quem nem porquê – a disputa pouco saudável e nada fomentadora do espírito científico de partilha informativa depressa começa a ser desenvolvida por muitos daqueles que se acham capazes da investigação. Ainda alunos, boa parte dos futuros intervenientes na Arqueologia resolvem enveredar pelo caminho da intolerância e do desacato, que nessa altura, sabemos, ainda é pouco significativo mas, admitamos, tristemente grave.
Como exemplo, podemos tomar as críticas sussurradas entre cadeiras confortáveis de anfiteatros a trabalhos apresentados por pessoas que, sem ter apoio de organismos centralizados e poderosos, sujeitam o seu trabalho a rejeições prematuras e precipitadas – mas pejadas de motejo de claque adversária.
Todos os trabalhos de má qualidade devem ser criticados. Têm de ser criticados em prol do desenvolvimento! Mas os seus autores devem ser aconselhados e conduzidos. Nunca enxovalhados!!!
Como não podia deixar de ser, a minha religiosidade resume-se à prática consciente do respeito pelo próximo. Por isso, e em tempos de ensino básico, nunca defendi a disciplina da Religião e Moral. Mas talvez fosse importante que se leccionasse no ensino Superior um cadeira de ética e partilha de valores científicos comunitários. Talvez se evitassem disputas ridículas reveladoras de mau carácter e, mais importante, se evitasse a desunião que se verifica neste preciso momento. Desde a altura em que percebi o que era uma Ordem profissional e um Sindicato que me questionei acerca da inexistência desse tipo de associações para todos as profissões existentes em Portugal.
Que diabo! Não estamos todos a defender o património!? Não estamos todos a "lutar" para que se desenvolva, paralelamente à investigação, uma campanha de valorização crescente e constante daquilo que nos caracteriza enquanto país?
Não me iludo em relação à impossibilidade do acordo constante entre praticantes desta arte da História. Não vivemos numa ilha de Moore.
Esta epístola, menos relacionada com as últimas opiniões da revolta dos despedimentos no IGESPAR, IP. apenas pretende manifestar desagrado. Um desagrado de vergonha. Um desagrado de tristeza para com uma ciência que pressuporia pessoas maiores de valores e de atitude para com a certeza da injusta remuneração futura.
Mas já que o O Homem é um animal político, e uma vez que não vamos deixar de desacordar em muitos assuntos, ao menos que nos unamos numa causa merecedora de sufrágio.
Uma pessoa faz diferença. Dez pessoas fazem um grupo. Cem fazem uma Associação.
Mil...
...Fazem a Ordem!