Quer queiramos, quer não, o espírito de Indiana Jones, ou de Lara Croft, ou seja de que personagem for, existe e representa, no imagário popular, a Arqueologia, tout court - aliás, existe, entre outros, um artigo interessante que lida exactamente com esta questão e cuja leitura recomendo (HALL, Mark (2004) Romancing the stones: archaeology in popular cinema, in
European Journal of Archaeology, vol. 7(2), pp. 159-176.
Na minha opinião, cabe aos arqueólogos, mais do que denegrir ou combater esse espírito, fazer exactamente o oposto: aproveitá-lo em seu favor - mas sem prescindir do rigor científico e sem fazer quaisquer concessões em termos de folclorização ou alienação do património.
À comum das pessoas, aos destinatários finais do trabalho de um arqueólogo, não interessa saber quantos cravos tinha aquela tábua de resbordo, ou que as pastas da sigillata X têm mais ENP´s que as das sigillata Y. Interessa-lhe, isso sim, saber a história do seu lugar, da sua vila, do seu concelho, das terras que visita enquanto turista. Interressa-lhe mais ver as moedas em ouro ou os entesouramentos encontrados num qualquer castro do que ver as tampas dos silos ou 300 fragmentos de ânfora Haltern 70 de um putativo naufrágio do qual não há reconstruções ou imagens virtuais, interessa-lhe mais ver a reconstituição de uma aldeia medieval do que cirandar por um corredor que tem expostas dezenas de aras votivas, áridas e pétreas...
Enquanto o arqueólogo continuar a alienar a população em geral, a arqueologia continuará a andar desamparada...
Em 13/01/08, vasco mantas<
vgmantas@yahoo.com> escreveu:
> Prezados Archportianos(as)
>
> Como é sabido, as ruínas da villa romana de S. Cucufate, seguramente uma
> das ruínas romanas mais importantes da Península Ibérica, encontram-se
> fechadas ao público por não terem sido renovados os contratos dos dois
> guardas do sítio.
> Quer isto dizer que os problemas dentro do IGESPAR não se limitam ao caso
> dos avençados, compreendendo situaçõesde todos os tipos. Assim, os cidadãos
> ficam privados do direito de acesso a um monumento classificado (o que,
> aliás, não é caso único, embora por razões diferentes...). Se o IGESPAR não
> tem capacidade para responder aos encargos financeiros decorrentes do
> pagamento aos guardas das estações arqueológicas que tutela, uma vez que o
> Estado se demite das obrigações que lhe são próprias, então seria preferível
> transferir a referida tutela para o município da Vidigueira, que não
> deixaria, certamente,de acarinhar o monumento.
> É evidente que o IGESPAR, não dispõe dos meios necessários para intervir
> como e onde deve. Se assim fosse, por exemplo, a torre sudoeste da Porta Sul
> da muralha da Ammaia já teria sido reparada há muito, o que não aconteceu,
> mantendo-se o perigo de derrocada da referida estrutura. Mas enfim, chegou a
> altura de reconhecer que a Arqueologia Portuguesa está doente e a necessitar
> de urgente tratamento.
> Entretanto, ou talvez por isso mesmo, ainda há minutos a RTP, numa peça a
> propósito de escavações em Loulé, falava no "espírito de Indiana Jones"...o
> que reflecte a concepção vigente entre a maioria dos portugueses a propósito
> da arqueologia, a qual consiste numa mistura de aventura, caça ao tesouro,
> show off e outras barbaridades onde também já se instalou o sistema da
> superstar.
> Que se me perdoe esta longa intervenção, ditada em parte por preocupações
> antigas e pela recordação do trabalho árduo em S. Cucufate, que serviu de
> Escola Prática para muitos jovens estudantes e arqueólogos , trabalho que
> sempre considerámos um serviço ao País, e que, por isso mesmo, deve estar
> disponível para todos os cidadãos.
> Cordiais saudações
> Vasco Gil
> Mantas (FLUC)
>
> ________________________________
> Be a better friend, newshound, and know-it-all with Yahoo! Mobile. Try it
> now.
>
>
> _______________________________________________
> Archport mailing list
>
Archport@ci.uc.pt>
http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport>
>