Lista archport

Mensagem

Re: [Archport] FW: os recem licenciados em arqueologia

To :   "miriam delgado" <nereidade@live.com>
Subject :   Re: [Archport] FW: os recem licenciados em arqueologia
From :   Alexandre <no.arame@gmail.com>
Date :   Tue, 12 Feb 2008 23:10:38 +0000

Cara Miriam


O seu desabafo calha surgir no mesmo dia em que foi publicada, na
secção de Cartas ao Director do jornal Público, a seguinte carta:


"Neste início de 2008, e após completar um ano desde que concluí a
licenciatura em Psicologia pela Universidade do Porto, decidi fazer um
balanço sobre o que é ser
licenciada em Psicologia no concelho de Santa Maria da Feira. Um
balanço que não é de todo positivo: mesmo com todo o esforço,
persistência e procura, ainda não me encontro empregada. Após a
licenciatura de cinco anos, fi z uma pós-graduação e ainda dois cursos
de formação contínua.
Os nove meses de estágio curricular no Hospital de São Sebastião
[HSS], realizado com toda a minha dedicação e empenho profi ssional e
pessoal, foram a minha primeira experiência de contacto, como profi
ssional, com as instituições feirenses. Neste contexto, pude constatar
a dificuldade de acesso da comunidade feirense aos serviços de saúde
mental, sendo o HSS quase exclusivamente a única oferta pública destes
serviços. Enquanto estudava, não imaginava que o panorama da (não)
empregabilidade na área da Psicologia estivesse caótico, como, de
facto, está.
Desde a conclusão da licenciatura, enviei cerca de 250 candidaturas
espontâneas, das quais mais de 50 para instituições do concelho da
Feira; já foram mais de 600€ nos CTT – pelo menos alguém ganha com o
desemprego de outros!
Em Janeiro de 2007, surgiu uma luz ao fundo do túnel: o Programa de
Estágios Profissionais na Administração Local (PEPAL). No entanto,
todos os autarcas "conhecem", pelo menos, uma psicóloga, mas eu não
"conheço" nenhum autarca... Todos os concursos se revelaram
ilusórios/fictícios e, por vezes, uma mera  formalidade para integrar
psicólogos já pertencentes à instituição!
Este testemunho, além de ser um balanço pessoal, serve também para que
toda a comunidade feirense tenha conhecimento que os psicólogos, de
que tanto necessitam existem e que estão dispostos a trabalhar. No
entanto, as instituições do concelho de Santa Maria da Feira devem ter
outras prioridades que não a Saúde Mental... (...) Face a este
cenário, pondero a possibilidade de emigrar, uma vez que o meu
concelho, o meu país, não precisa de mim e das minhas competências
enquanto psicóloga.
Não posso esperar mais de um país que não valoriza a Saúde Mental e os
seus profissionais... É com mágoa que concluo dizendo que, na área da
Saúde Mental, continuamos a ser o "Portugal dos Pequenitos"…
Susana Paiva, Santa Maria da Feira"


Ora, como se pode verificar, por esta carta, pelo seu testemunho e
pelo que se vê à volta (ainda há umas semanas atrás se queixavam, no
mesmo jornal, os jovens licenciados em Enfermagem de que andavam a
limpar retretes e a vender livros do Círculo dos Leitores para
entreter o desemprego), os tempos não andam fáceis em matéria de
trabalho.

Longe vão os dias em que ser-se licenciado era garante de emprego para
toda a vida, geralmente na Função Pública,com um lugar confortável de
chefe/director, com as respectivas alcavalas, prebendas e
prerrogativas.

O problema é que, finito o maná da União Europeia - que, dizem as más
línguas, serviu essencialmente para subsidiar montes no Alentejo,
jipes topo de gama e viagens à Polinésia Francesa - sobra apenas o
nosso pobre PIB.

Ora, o nosso PIB tem origem numa coisa chamada produtividade -
basicamente, pega-se em matéria-prima, olha-se para ela com olhos de
designer ou de engenheiro e acrescenta-se-lhe mais-valias, vendendo-a
a outrém por um preço superior ao custo da matéria-prima, do
combustível gasto no seu processamento, dos salários pagos e de outros
pequenos pormenores mais, como as sempre nacionalmente ignoradas
externalidades (culturais, ambientais e quejandas). É assim que se
gera riqueza, riqueza essa que se vê cada vez mais por um canudo
porque, por exemplo:

- abatemos a nossa frota de pesca e arrancámos as nossas oliveiras a
troco de alguns patacos da UE (patacos esses que se gastaram em jipes,
como vimos mais acima, jipes esses cuja venda enriqueceu o PIB dos
países que os produziram, etc.);

- os nossos emigrantes na Venezuela e na França reformaram-se e agora
não enviam para cá as remessas que enviavam porque desistiram
finalmente de cá voltar, deixando a "maison" a ganhar pó em Courais de
Cima;

- o turismo do Al(l)garve mudou-se para outras paragens, ainda
paradísiacas, onde a mão-de-obra é ainda ao preço da chuva e onde não
há (ainda) mamarrachos por sobre as dunas primárias - agora, no
Al(l)garve há apenas algumas cabeleireiras de Manchester e alguns
electricistas de Stansted em aldeamentos a um sexto-de-gás, lançando
já as vistas sobre a costa do Sudoeste Al(l)entejano, naquilo que irá
ser dentro em pouco o último território a ser algaraviado...;

- a construção naval resiste apenas em Viana, a Setenave fechou, a
Lisnave, também...

- a Siderurgia, a indústria pesada, a Sorefame, a Efacec, foi um ar
que se lhes deu. E, depois, nem Sines é a terra rica em fosfatos de
Marrocos, nem o estuário do Sado tem o brent da Noruega...

- e claro, há que construir uma mão cheia de estádios de futebol, e
que agora estão às moscas, há que fazer os IP's por onde passa um
carro de hora a hora, há que construir ("porra") o Alqueva, para nele
fazer campos de golfe, resorts de turismo náutico e terrenos irrigados
para os espanhóis comprarem e cultivarem, há que contar com os caças
F-16, que têm que ser "upgradados" para que, quando caírem nos
pinhais, possam dar destroços com bom ar, há os submarinos que têm que
vir para Portugal (toda a gente sabe que os submarinos são os mais
difíceis de atingir na batalha naval, porque só têm um quadrado), há
que pagar as centenas de estudos legais que o Governo encomenda a
escritórios de advogados apesar de empregar centenas de juristas nos
seus quadros....

E o PIB, onde fica? Quem é que o gere? Confesso que é dúvida que me atormenta.

Afinal, por todo o lado vejo gente a tentar vender tudo e mais alguma
coisa a toda a restante gente: enciclopédias, time-sharing, seguros,
créditos bancários, seguros de saúde, acesso netcabo, cartões de
telemóvel, carros novos (e usados, de qualidade, pois claro), casas
com 10% de vista para o mar, num qualquer Parque dos Príncipes ou
Quinta das Encostas Floridas (a dar para a Brandoa ou para a
Picheleira) e cada vez menos vejo pessoas que produzam realmente algo.

E essa dúvida atormenta-me porque um dos dramas de haver menos PIB é o
de haver menos impostos. Porque, se não há dinheiro, corta-se no
supérfluo. E, cortando-se nas despesas, corta-se na receita do estado:
deixamos de andar de carro, não se paga o imposto de circulação, a
pipa de massa que é o imposto petrolífero, os 21% de IVA de cada vez
que se às compras,  para além de que um ordenado mais baixo significa
menos IRS nos cofres. Havendo menos receita de impostos, há menos
dinheiro do Estado para coisas tão essenciais como a saúde e tão
"supérfluas" como a Arqueologia - é por isso que entidades do Estado
(Estado esse que se arroga o direito de gerir, promover e salvaguardar
o património cultural) estão neste momento demitidas de operar porque
não há, pura e simplesmente, dinheiro! (quiçá, foi todo para os
submarinos)

Compreendeu agora porque é que há menos emprego e porque é que ele
atinge tudo e todos, não só os arqueólogos?



Agora, indo a pontos mais concretos:

ponto 1) quem opta, no secundário, por seguir arqueologia não pensará
certamente (eu não pensava pelo menos) que teria emprego garantido.
Quem quer emprego garantido no final da sua formação vai para mecânico
ou para médico ou para engenheiro informático de redes e sistemas. Ao
Estado não cabe dar emprego a licenciados; cabe-lhe, quanto muito,
encerrar cursos que não tenham procura;

ponto 2) quando ataca os docentes universitários por utilizar os
alunos em escavações suas, esquece-se que é muito mais ingrato dar
formação a alunos que começam do zero do que usar mão de obra
especializada - e olhe que há gente que participa de bom grado, de
forma voluntária e desinteressada nesses projectos, a troco apenas de
tecto e comida.

ponto 3) as universidades cobram o que cobram porque também elas andam
aflitas, com a corda na garganta. Quando perguntava um professor meu,
de Economia: "porque é que há médicos que levam 200 euros por uma
consulta?" a resposta surgia pouco depois: "porque há pacientes que
estão dispostos a pagar 200 euros por essa consulta". Conclusão:
enquanto houver alunos dispostos a pagar 800 contos por um curso que
os habilita a trabalhar numa caixa do Pingo Doce, as Universidades
continuarão não só a oferecer esse curso como também a cobrar propinas
escandalosas por ele;

ponto 4) se pensa em ir para o estrangeiro trabalhar em Arqueologia,
pense duas vezes: isto está mau em todo o lado;

ponto 5) estas cartas, estes desabafos, aqui, nesta lista, é chover no
molhado. Aqui, estamos todos já catequizados. Sugiro que escreva ao
Ministro da Cultura, ao Primeiro-Ministro, ao Presidente da República,
aos Grupos Parlamentares da Assembleia. Esses é que são os decisores,
esses é que são os (ir)responsáveis pela actual situação, situação
que, mais do que pessoas, coloca em perigo um património que é de
todos e das gerações futuras (e que, ao contrário das matas e das
avezinhas, é único e não renovável)

ponto 6) se decidir fazer o ponto 5), escrever a quem de direito, pelo
amor de Deus, recorra pelo menos a um corrector ortográfico. Este
correio que nos enviou, cheio de erros e num português confuso e
atabalhoado é uma vergonha, não só para si, como para a Universidade
que a licenciou.



Em 12/02/08, miriam delgado <nereidade@live.com> escreveu:
>
>
>
>
>  ________________________________
 From: nereidade@live.com
> To: archport-request@ci.uc.pt
>  Subject: os recem licenciados em arqueologia
> Date: Tue, 12 Feb 2008 14:57:18 -0100
>
> Em primeiro lugar gostaria de felicitar o Archport por ser dos poucos sítios na internet onde se faz divulgaçao da actividade arqueológica entre outros assunto de grande interesse.
>
> Seguidamente ,falarei de um dos principais problemas da arqueologia Portuguesa. muito neta lista de discussao se tem dito sobre os vários problemas da arqueologia em Portugal ,mas temo-nos sistematicamente esquecido de um fulcral: os recém-licenciados em arqueologia em Portugal de que ninguém fala, mas se for possível toda a gente explora e quanto mais melhor. Se bem que para estes cidadãos já e normal pois, durante o curso acontece-lhes o mesmo pois trabalham para os senhores doutores fazem-lhe as prospecções entre outras actividades, que os senhores doutores aproveitam para as suas teses de 8 e 10 volumes sem agradecerem a ajuda que tiveram.Bem sendo muito franca as vezes estes senhores doutores agradecem se o aluno durante o curso souber dar a volta ao docente talvez acabam por arranjar um pequeno posto ou  seja algo que cientificamente designamos por 2 processos:  o de "dar graxa" e de "cunha".embora se saiba que estes 2 processos "científicos" sao puníveis por lei com os nomes pomposos de favorecimento, trafico de influência, entre outros palavrões jurídicos que não sao para aqui chamados.Se bem que a certos investigadores que vão pela usurpação de descobertas e exploração pura e dura e nem por isso arranjam um "tacho" a isto lesado, ja vem de longe e alguns dos que hoje sao os chamados grandes investigadores da arqueologia portuguesa se meterem a mão na consciênciaconsciencia descobrirão no seu passado atitudes menos próprias. antigamente a maior parte da arqueologia portuguesa era feita pelos denominados arqueólogos amadores hoje em dia e feita pelos estudantes das Universidades, o que não e mau, mas o valor destes estudantes deveria ser reconhecido.
>
> Mas, voltemos ao assunto recém-licenciados. O que faz afinal um jovem recém licenciado em Arqueologia em Portugal?
> Bem a resposta parece-nos hoje em dia óbvia, o mesmo que a maioria dos outros recém-licenciados, trabalhar em centros comerciais, e hipermercados!!!!Infelizmente, já nem isso hoje em dia e certo, pois tem vindo a criar-se uma nova moda neste nosso maravilhoso pais o denominado excesso de habilitações!!!!Seria aqui também intressante expor o papel das Universidades neste Pais das Maravilhas, sim aquelas instituições que durante  4 anos  (hoje em dia 3 anos) exploram o pobre estudante,  com propinas cada vez mais altas,  e professores que obrigam a comprar livros e livros quanto mais caros melhores, fotocopias , resmas de fotocopias que no  fim do curso chegam para ocupar uma estante. Se bem que hoje em dia o papel das fotocopias no ensino esta em rico devido aos direitos do autor. Mas, o estudante que tem que se desenrascar, ja que ninguém o faz por ele graças a Deus tem aderido ao e-book, senão pobres pais.
>
> Ouve-se por ai dizer que qualquer  dia  voltamos ao tempo de Salazar em que so os mais ricos estudam. bem pessoalmente acredito que já tivemos mais longe disso do que estamos actualmente.
> Embora existam os aclamados serviços da  Acção Social, muitas vezes não sao os que mais necessitam que mais recebem.
>
> Bom, voltando  as Universidades  que formam, ou melhor, cobram dinheiro durante 3 ou 4 anos  e no fim do curso o que fazem?
> Bem em primeiro lugar cobram 15 euros por um certificado de habilitações que so é valido se for aacompanhado pelo denominado canudo ou carta de curso que custa a modica quantia de 135 euros ,fazendo as contas para se ser licenciado ao fim de 4 anos e quase cerca de 800 contos em moeda antiga só para proprinas ainda sao precisos mais 30 contos para se ser licenciado para aquilo que se estudou.Assim sendo, o aluno paga tudo caladinho e não ha cá reclamações, e no fim de todo o processo com o perdão da palavra leva um pontapé no  cu, e nem direito a um cartão de biblioteca  ou das fotocopias tem direito é ex aluno. Por isso, se calhar e melhor  nem falarmos  de a opção de estágio, para um curso como arqueologia que e denominado de prático a coisa fica muito feia. em suma, a universidade forma e não se importa se há ou não há emprego se o aluno tem estagio ou não o que é preciso e dinheiro entrar e quando não entra ai é que a porca torce o rabo.
>
> Como atrás referimos as lojas do centro comercial e os hipermercados já não vão na onda do recém-licenciado,este pobre coitado que se farta de mandar currículos para câmaras e empresas e so recebe cartas das câmaras com historia de concursos públicos  e falta de dinheiro, entre outros aspectos e das empresas nem sim nem não, não há resposta. pensa o recém licenciado isto ta tramado em arqueologia, vamos ter de mudar de área e mete-se no telemarketing ou na promoção de produtos! e começa a trabalhar com os maravilhosos inigualáveis recibos verdes.
>
> De vez em quando la aparece um emprego numa empresa de arqueologia quase sempre também com o critério dos recibos acima referido e com outros 3 que os recém licenciados tambem adoram , o ter carta, viatura própria como e houvesse dinheiro e  a mítica expressão 2 anos de experiência.
>
> De repente o recem licenciado olha para o calendario e ve que ja passou meio ano e que a palavra adequada para ele ja nao é recem licenciado, mas sim desempregado ou trabalhor independente se estiver no telemarcketing ou algo do género. E surge-lhe o pensamento eu se realmente quero arqueologia não é aqui! e tenta a sorte no estrangeiro e muitas das vezes tem sucesso.
>
> E agora pensando bem que pais e este que gasta dinheiro em formação superior, que acaba por ser um investimento a fundo perdido, ja que depois de acabarem o curso as pessoas tem de trabalha para o estrangeiro, pois se ficam cá acabam por vender enciclopédias as portas, não e que vender enciclopédias não seja digno ,porque é!!! Mas sera isto justo??? E quem responde a isto?
>
>
> com os melhores cumprimentos,
> recém licenciada a quase 6 meses.
> Ex vendedora de enciclopédias
>
> P.S- desculpem os erro mas acho que da para passar a mensagem
>
>
>
>
>
>
>
>  ________________________________
 Express yourself instantly with MSN Messenger! MSN Messenger
>  ________________________________
 Express yourself instantly with MSN Messenger! MSN Messenger
> _______________________________________________
>  Archport mailing list
> Archport@ci.uc.pt
> http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport
>
>


Mensagem anterior por data: [Archport] FW: os recem licenciados em arqueologia Próxima mensagem por data: Re: [Archport] FW: os recem licenciados em arqueologia
Mensagem anterior por assunto: [Archport] FW: os recem licenciados em arqueologia Próxima mensagem por assunto: Re: [Archport] FW: os recem licenciados em arqueologia