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[Archport] Boas notícias para a arqueologia subaquática?

Subject :   [Archport] Boas notícias para a arqueologia subaquática?
From :   Alexandre <no.arame@gmail.com>
Date :   Sun, 2 Mar 2008 09:34:30 +0000

Público, 2 de Março de 2008. Teresa Firmino

Portugal compra robô submarino que desce aos 6000 metros



Portugal juntou-se ao restrito clube mundial dos países com robôs
submarinos que mergulham a 6000 metros.

O ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, assinou a 21 de
Fevereiro o despacho que autorizou a compra do aparelho, que está a
ser construído pela empresa norueguesa Argus Remote Systems. O
contrato de compra foi assinado anteontem, sexta-feira, em Bergen, na
Noruega.

Portugal passa a ser um dos poucos países do mundo com um veículo de
operação remota (ROV) capaz de atingir essas profundezas oceânicas. A
partir de agora, não só o fundo do mar de toda a Zona Económica
Exclusiva (ZEE), como o da futura área que vier a estar sob jurisdição
de Portugal na sequência da extensão da plataforma continental, ficará
ao alcance directo dos cientistas portugueses.

O ROV não é tripulado: estará ligado por um cordão umbilical a um
navio, de onde será comandado à distância, e por onde se acederá em
tempo real à informação recolhida. O aparelho foi comprado por cerca
de três milhões de euros, pela Estrutura de Missão para a Extensão da
Plataforma Continental (EMEPC) – um grupo científico, na dependência
do ministro da Defesa, incumbido de provar que a parte continental do
território português se prolonga para além das 200 milhas naúticas da
zona económica exclusiva.

Se a prova for convincente, Portugal poderá alargar-se – mas apenas
pelo leito e subsolo oceânicos, tal como estabelece a Lei do Mar das
Nações Unidas. Enquanto na ZEE os países podem explorar o que existe
na coluna de água e no solo e subsolo do mar, na plataforma
continental alargada "apenas" terão jurisdição sobre os recursos do
solo e subsolo, seja petróleo, gás, metais ou recursos biológicos e
genéticos com aplicações farmacêuticas e industriais. Até 13 de Maio
de 2009, o projecto de extensão da plataforma portuguesa terá de estar
concluído: a documentação científica terá de ser entregue na Comissão
de Limites da Plataforma Continental, criada pela Lei do Mar.

Desde meados de 2005 que a  EMEPC trabalha no alargamento do chão
marinho, reunindo dados geológicos, geofísicos, hidrográficos,
sísmicos, entre outros, que provem que a plataforma se prolonga,
efectivamente, para lá das 200 milhas.

Para isso, é preciso saber onde é que os fundos marinhos deixam de ter
características continentais e começam a ter características
oceânicas. Mas determinar onde se situa essa transição não é fácil e
exige inúmeros levantamentos oceanográficos, em redor da ZEE de
Portugal Continental, da Madeira e dos Açores. Esses levantamentos têm
sido feitos pelos navios oceanográficos D. Carlos I e Gago Coutinho,
da Marinha, e por navios fretados ao estrangeiro.

Olhos e mãos lá em baixo

A ideia de comprar um ROV surgiu depois de uma missão oceanográfica
nos Açores, em Maio de 2007: "Ficámos animados com os resultados, mas
chegámos à conclusão de que precisaríamos de outros tipos de amostras
para a proposta de extensão da plataforma", conta o chefe da EMEPC,
Manuel Pinto de Abreu.

Orientada para a recolha de amostras geológicas e geoquímicas, nessa
campanha arrastou-se um balde metálico pelo leito do mar que, ao fim
de umas quantas milhas, ia sendo içado para o navio. "Uma indefinição
destas sobre o local das amostras não é boa para fundamentar a
proposta de extensão da nossa plataforma. Poderemos estar a cometer
erros sobre o contexto geológico das amostras."

Um ROV resolveria o problema, porque seria como ter olhos e mãos lá em
baixo: poderiam ver-se as amostras a apanhar, tirar fotos ao local e
saber o sítio exacto da recolha, refere Pinto de Abreu.

A equipa fez então as contas ao custo de uma missão com um ROV naquela
zona, a Sul dos Açores, e concluiu que a compra sairia mais barata do
que o aluguer. Por dia, o aluguer custaria 100 mil euros: "Se tudo
corresse bem, precisaríamos de 45 dias de trabalho. Assim, poupamos
dinheiro e ficamos com o ROV".

O veículo deverá ser entregue em Agosto e o baptismo de mar está
previsto ainda para 2008. "Decidimos comprar um ROV de 6000 metros,
porque permitirá ir a todos os buraquinhos do espaço de interesse
nacional. Com este equipamento, a comunidade científica nacional vai
poder ir onde quiser", diz Pinto de Abreu. Até agora, os ROV em
instituições científicas portuguesas ficavam-se pelos cerca de 500
metros, como o do Instituto Hidrográfico. Se se optasse por um ROV de
4000 metros, grande parte das profundezas da ZEE portuguesa
continuaria fora de alcance do robô. Mas o veículo escolhido permitirá
visitar 97 por cento do fundo oceânico da Terra. "Uma das questões que
se punha era: 'Então e a nossa capacidade de exploração do mar?'. Cá
está ela", diz Pinto de Abreu.

"Passamos a estar num clube muito restrito relativamente aos países
que chegam a essas profundidades." França, Noruega, Alemanha, Reino
Unido, EUA e Japão são os outros países que, oficialmente, têm robôs
submarinos para 6000 metros.

Nos próximos anos, o ROV português será utilizado principalmente no
projecto de extensão da plataforma, que, depois de analisado pela
Comissão de Limites da Plataforma Continental, deverá estar encerrado
em definitivo por volta de 2012, nas previsões de Pinto de Abreu. Até
lá, a comunidade científica será convidada a dizer que dados gostaria
de ver recolhidos pelo robô: sempre que for possível, nas missões da
EMEPC, os pedidos serão atendidos, garante o seu responsável. Quando
terminar o projecto da plataforma, o que acontecerá ao ROV?

"Há-de ser entregue a uma entidade nacional no âmbito do mar",
responde Pinto de Abreu.

Uma das áreas que passam a  estar ao alcance directo dos
investigadores são as fontes hidrotermais de profundidade dos Açores,
únicas na Europa, onde existem formas de vida adaptadas a condições
extremas. Aí podem existir moléculas úteis à Medicina e indústria ou
recursos minerais. Têm sido visitadas amiúde por navios, submarinos e
ROV estrangeiros, desde a descoberta das primeiras fontes dos Açores,
em 1992. "Portugal deixa de estar dependente dos outros para
investigar as fontes hidrotermais. Deixa de ser um passageiro das
missões científicas estrangeiras, para ser o actor principal",
sublinha Pinto de Abreu, chefe da Estrutura de Missão para a Extensão
da Plataforma Continental. Além da investigação científica e
prospecção de recursos naturais, o novo ROV poderá ainda entrar em
acção em caso de acidentes com navios (o petroleiro Prestige, afundado
em 2002, ao largo da Galiza, foi inspeccionado por um ROV norueguês).
T.F.


BI do ROV português

Nome comercial: Argus Bathysaurus XL, derivado do nome da empresa
construtora e da designação científica do peixe-lagarto de ambientes
profundos; XL é a versão para grandes profundidades.

Nome português: Ainda não tem, mas a equipa que o vai operar nos
próximos anos irá lançar um concurso de nomes para alunos do ensino
secundário, em que o prémio será a participação numa expedição
científica com o ROV.

Dimensão: 2 metros de comprimento, 1,70 de largura e 1,80 de altura.

Peso: Mais de duas toneladas. Tudo o que envolve a sua operação, desde
o pórtico que o ergue até ao contentor de comando e controlo, cabe num
camião TIR, pelo que o ROV pode ser utilizado em qualquer navio.

Instrumentação: Câmara digital de alta definição; sonar; luzes com
alcance de 20 a 30 metros; dois braços manipuladores em titânio para
cargas até 100 quilos; garrafas para amostras de água; aparelho de
medição da condutividade, temperatura e profundidade; medidor das
correntes; aspirador biológico; cesto para recolha de rochas;
testemunhos cilíndricos para amostras geológicas; e um sniffer, um
nariz que cheira metano na água (indício da presença de fontes
hidrotermais ou de depósitos destes hidrocarbonetos, uma fonte de
energia do futuro). T.F.


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