Resumo
O povoado pré-histórico do Outeiro Redondo é conhecido na bibliografia arqueológica desde 1967, ano em que o Arq. Gustavo Marques publicou pequena nota do seu descobrimento. No decurso dos anos seguintes, o mesmo arqueólogo realizou sondagens limitadas, em diversos locais da estação arqueológica, recolhendo abundantes materiais que, contudo, nunca chegou a publicar.
Após o seu falecimento, o espólio por si recolhido deu entrada no Museu Nacional de Arqueologia, onde o signatário teve a oportunidade de o estudar detalhadamente, no âmbito de um Projecto de Investigação plurianual, superiormente aprovado pelo Instituto Português de Arqueologia, por si dirigido.
Foi ao abrigo deste Projecto que se efectuaram, até ao presente, três campanhas arqueológicas, em 2005, 2006 e 2007, as quais puseram a descoberto diversas estruturas habitacionais e um notável dispositivo defensivo, constituído por pelo menos duas linhas de muralhas, que envolveriam a parte mais alta do cabeço, encimado por um afloramento rochoso. O aparelho construtivo destas muralhas, assume por vezes aspecto ciclópico, integrando blocos calcários de várias centenas de quilos, e apresenta soluções construtivas inovadoras, de modo a garantir a estabilidade das estruturas, edificadas em encoste de assinalável declive, na parte voltada para a baía de Sesimbra.
Do ponto de vista da cronologia absoluta, as datações de carbono 14 já realizadas permitem situar a construção e utilização deste recinto fortificado entre cerca de 2700 e 2200 a.C.
Ao longo dos cerca de quinhentos anos de ocupação, que poderia não ser permanente, observou-se evolução na tipologia dos artefactos de uso doméstico, com destaque para as produções cerâmicas, permitindo enquadrar, do ponto de vista cultural, as sucessivas presenças humanas, no Calcolítico Inicial da Estremadura, pela presença de abundantes recipientes com decoração canelada, e no Calcolítico Pleno da Estremadura, caracterizado pela abundante ocorrência das características decorações em "folha de acácia" e em "crucífera".
Os restantes elementos da cultura material indicam contactos comerciais com diversas regiões, de onde provinham as matérias primas utilizadas na sua confecção: o sílex, oriundo da região de Lisboa e de Rio Maior, utilizado para o fabrido de abundante e diversificada panóplia de artefactos de pedra lascada (furadores, raspadores, pontas de seta, elementos de foice); as rochas anfíbolíticas, oriundas do Alentejo, necessárias para a produção de machados e enxós de pedra polida; e, enfim, o cobre, também oriundo do Alentejo, representado por serras, anzóis, sovelas e lingotes em bruto.
Esta realidade indica uma população francamente aberta ao exterior, mas que não deixava de explorar metodicamente os recursos naturais disponíveis no entorno imediato do povoado, como mosta a abundância de restos de fauna caçada (veado, javali e auroque) e a intensa exploração do, litoral, evidenciada pela presença de inúmeras conchas de moluscos, bem como rstos de peixe. Ao mesmo tempo, praticava-se uma agricultura cerealífera (presença de elementos de foice e de mós manuais) e a criação de gado (ovelhas, cabras, porcos e bovinos), com base nos restos faunísticos recolhidos.
No conjunto, os resultados até agora já obtidos do estudo das estruturas, da estratigrafia e dos materiais arqueológicos recuperados nos últimos três anos de escavações, fazem deste povoado fortificado da Idade do Cobre, um dos mais importantes da Pré-História da Estremadura e sul do actual território português.
Mais informação disponível em
www.cm-sesimbra.pt a partir de 01 de Março.
--
Rui Marques