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Vestígios romanos em Valpaços

Subject :   Vestígios romanos em Valpaços
From :   Gonçalo Cruz <goncalocruz@mail.pt>
Date :   Fri, 28 Mar 2008 10:43:59 +0000

Caro Filipe,

Não penso que se tenha crucificado publicamente o senhor de Valpaços, acho
até que o aspecto mais criticado foi a actuação do jornal em questão. Na
verdade, o senhor de Valpaços não abriu uma vala e chamou as autoridades
para irem escavar o resto, como referiu. O senhor de Valpaços não precisou
da ajuda de ninguém quando começou a abrir a vala, não abriu a vala para
colocar condutas nem para semear ou construir alguma coisa. E tanto quanto
me apercebi, ele não chamou as autoridades, prestou declarações a um
jornal, o que é diferente. As situações pendentes que referiu, eu
entendo-as como de um âmbito completamente diferente. Uma coisa são
destruições manifestas de particulares, baseadas numa suposta ingenuidade,
que é a questão que se discute aqui. Outra bem diferente, são as situações
de ameaça ao Património Arqueológico por pressões económicas ou políticas,
bem como situações de negligência e de não observância da deontologia
profissional, por exemplo. Estamos portanto a abordar diferentes contextos.

Naturalmente, uma questão como esta de Valpaços, nunca poderia deixar a
comunidade de investigadores indiferente. Uma tomada de posição desta
comunidade não deve ser entendida como uma ?manobra demagógica?. Eu penso
que para acabar com a destruição do Património não se deve começar nem por
cima, nem por baixo, deve-se actuar à medida dos impactos e das situações
que ocorrem, partindo do princípio que se tornam conhecidas. Na verdade,
essa noção do ?povo?, pobre, ingénuo e explorado, é que muitas vezes é
demagógica... Um camponês pertence ao ?povo?, correcto... E um empreiteiro?
E um arqueólogo? E um técnico do Igespar? Não são ?povo? também?...

Sobre o uso de detectores, os sítios protegidos têm que ver com a base de
dados do IPA, porquanto os monumentos que se enquadram na designação de
?sítios arqueológicos?, classificados ou não classificados, figuram nessa
base de dados. Um sítio arqueológico não precisa de ser classificado para
ser considerado como tal. Mas infelizmente na Lei parece que sim. Quando
são classificados, sim, a classificação é publicada no Diário da República.

O uso de detectores pode não ser uma questão de dinheiro. Na verdade, a
ideia que tenho é que a maior parte das pessoas que se dedicam a isso,
fazem-no como lobby, porque gostam de brincar ao Tomb Raider. Até porque um
detector é bastante caro... Seja por dinheiro, seja por diversão,
passatempo ou coleccionismo, para mim essa actividade é de todo reprovável,
como penso que deva ser para os profissionais na nossa área.
Mas sim, concordo que é uma questão muito complexa, e concordo também que
muito há a fazer a nível de educação na sociedade civil, para que estas
situações não tenham que ser punidas, que sejam antes evitadas.
Cordiais saudações.

Gonçalo Cruz
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