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[Archport] Apesar de você MST ....

To :   Archport Arqueologia <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] Apesar de você MST ....
From :   msabreu@utad.pt
Date :   Thu, 10 Jul 2008 02:19:14 +0100

Caros Colegas,

Quando se está longe olha-se para Portugal como um jardim à beira mar plantado. O sol brilha mesmo durante a noite, o céu de Lisboa é mais azul do que todos os outros e até a humilde sardinha se transforma na melhor das iguarias.

Sonhamos com aquele monumento nacional chamado "pastel de Belém" e pensamos que numa manhã de nevoeiro os “Filipes” vão acabar por se ir embora.

Depois abrimos o computador e lemos uma a trás da outra mensagens quase impossíveis de se entender.

O nosso Primeiro Ministro quer deixar obra e portanto decide fazer um novo edifício mastodôntico numa das zonas nobre da capital. Não pede opinião aos portugueses e não há concurso de ideias, planos alternativos, --- NADA!

Esquece-se ainda de avisar quem ocupa o espaço do que lhe vai acontecer…

Como “engenheiro” que é gosta de mostrar “o cimento” e portanto nada melhor que depois de anúncios de barragens, aeroportos, mandar fazer um Museu. O dinheiro esse, neste caso, não é um problema, vai busca- lo aos jogos de azar .. ups, sorte!.

Devo a este ponto dizer que não conheço o projecto e não tenho ideia se a obra arquitectónica é meritória ou não. Não me interessa que o arquitecto seja competente segundo o Siza Vieira. Assusta-me este decidir tudo vindo de cima sem discussão. Se para comprar a mais pequena coisa numa entidade do Estado se tem fazer um concurso, não devia se fazer o mesmo nesses casos?

Dizem que Salazar por ocasião da exposição do Mundo Português também derrubou diversas casas, mesmo ai ao pé dos “pasteis de Belém”. Eram outros tempos, não se protestava e, muitos, diz-se sem possibilidade de defender as suas casas preferiram mesmo o suicídio.

Quanto li a mensagem sobre a vigília organizada ‘a frente do ex-IPA confesso que senti uma certa melancolia. Lembrei-me das horas (dias..) que passei à frente do Museu Nacional de Arqueologia, entre a primavera e o verão “quente” de 1995. Recordei-me do apoio do Francisco Alves e de quando ao fim da tarde, o saudoso Mário Viegas. passava pelas nossas tendas para, com o seu fantástico sentido de humor e oportunidade, nos animar. Lembrei-me de todos os outros que apareciam para assinar a petição ou só, simplesmente, para trocar ideias. Revi as faixas que os alunos da escola de Foz Côa nos tinham mandado – “as gravuras não sabem nadar”. Tudo isso parece-me muitas vezes que aconteceu noutro tempo, numa época que poucos ainda recordam.

De repente nem de proposito estava em com esses pensamentos quando chegou a mensagem Tiago Fontes e tudo voltou a ficar vivo – presente.

Aquando das cerimonias do casamento de D. Duarte de Braganca, eu própria pedi ao Miguel de Sousa Tavares (um dos convidados) para assinar a petição para a salvaguarda das gravuras do vale do Côa, ele disse-me que era favorável “às barragens” porque o pais necessitava de água para irrigação…

Ao ler o que MST escreveu no Expresso fico pasmada não com a sua posição, tem todo o direito de mudar de ideias e preferir agora que a barragem do Sabor não seja construída, como também tem aliás o direito de achar que as gravuras do Vale do Côa são “tacanos rabiscos” mas não posso deixar de exercitar o meu direito à indignação pública “por aquilo que penso ser “ uma total ignorância dos factos e a uma fuga à verdade.

Coitado! Aquele que pensa que sabe tudo e tem opinião sobre tudo, não só nunca viu as gravuras como ainda não entendeu que as gravuras do Vale do Côa são hoje património mundial com igual estatuto das Pirâmides, da Ultima Ceia do Leonardo ou da muralha da China. E que o Museu já está quase feito!

Muitos dos que participam hoje nas discussões da archport são jovens e portanto e’ natural que não se recordem do orgulho que foi ver o nome de Portugal associado, em todo o mundo, a uma das decisões mais importantes da história da Arqueologia.

E se para muitos Portugal chama-se, cá fora, Cristiano Ronaldo ou Mourinho, no mundo da arqueologia Portugal é sinónimo de Vale do Côa.

Nos últimos anos parece-me existir em Portugal um crescente “mal estar” do publico em geral versus os arqueólogos. Estranho pois entre os canais mais populares de televisão estão aqueles que apresentam documentários de Arqueologia. Os livros de arqueologia vendem-se muito bem e filmes são um êxito (ok Indiana Jones talvez não seja o melhor dos exemplos). Os nossos cursos universitários de arqueologia são reconhecidos como entre os melhores da Europa e temos hoje centenas de profissionais competentes.

Penso que todos, principalmente com a ajuda dos mais jovens, temos que fazer um esforço para que seja restaurada a ligação que já existiu pois creio que não faz sentido fazer arqueologia se não é a pensar na sociedade enfim em todos.

E se todos sentimos um SABOR amargo, o Côa, diga o que disser o senhor MST (e companhia) é e será SEMPRE um ponto de referencia entre a comunidade arqueológica mundial ------- SÓ um dos 878 sítios classificado com “outstanding universal value” da Lista do Património Mundial.

Com cordiais saudações arqueologicas


Mila
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/(*?*)\

Mila Simões de Abreu
Departamento de Geologia - Unidade de Arqueologia
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Apartado 1013
5000-911 Vila Real (Portugal)

Ph: +351 259 350186   Fx: +351 259350480
e-mail: msabreu@utad.pt (mailto:msabreu@utad.pt)

URL:
http://www.europreart.net
http://www.utad.pt/~origins (in Portuguese)

SOS ROCK ART - Please sign the Petitions
- to save the Dampier rock art go to http://mc2.vicnet.net.au/users/ dampier/ and click on "Petition" - to help the FUMDHAM - Capivara go to http://www.petitiononline.com/ fumdham/petition.html
Thank you!



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