Caro Filipe, É com alguma tristeza que leio a sua opinião. Tristeza, por um lado, porque revela que ainda não nos livrámos das ideias de muita gente em ver o museu como os antigos "gabinetes de antiguidades", em que a exposição descontextualizada das peças era levada ao extremo, quer em quantidade, quer em péssima qualidade; por outro lado, porque ainda há quem não compreenda a verdadeira importância da arte do Vale do Côa, integrada num parque natural e representando, internacionalmente, um dos principais complexos de arte rupestre. Quanto à veracidade das datações, remeto-o apenas para o simples caso do Fariseu, em que um painel gravado se estendia verticalmente ao longo das camadas estratigráficas escavadas (isto, sem falar das restantes técnicas de datação utilizadas no Vale do Côa e das ocupações humanas aí encontradas e contemporâneas às gravuras). O que o complexo patrimonial do Vale do Côa nos apresenta não é material que possamos desligar do sítio. Se ali existe um importantíssimo conjunto artístico, é porque deriva de uma ocupação também de grande valor e inserida num espaço propício. Portanto, penso que não seria uma barragem que iria valorizar mais o património natural do Côa, como defende, já que submergiria parte da nossa memória (não falo de portugueses ou ibéricos, mas de toda a Humanidade). A "defesa do Sabor e do Côa", como pretende, está, na minha opinião, a ser bem gerida pelo PAVC e pela sua política de sustentabilidade e só quem não visita o parque e não compreende o objecto histórico como estando inserido num contexto em que os factores circundantes impelem para a criação de História, não consegue entender esta questão. Contudo, opiniões valem o que valem, e a minha é apenas a de um simples iniciado nesta área. Saudações. Carlos Martins. Date: Thu, 10 Jul 2008 00:38:55 +0100 From: filipe.bmoniz@gmail.com To: Archport@ci.uc.pt Subject: Re: [Archport] Opinião Expresso Miguel Sousa Tavares Como é óbvio não conheço o trabalho desenvolvido na totalidade, só conheço as publicações daí a opinião anterior. Pelos escritos o importante são os auroques, a comparação do estilo com outro sítio que possui contexto arqueológico e o aparecimento de dois bocados de silex esbatidos numa sondagem que serviram sem sombra de dúvidas por parte dos escritores para fazer as gravuras. A partir disto e aplicando um estilo quase lírico monta-se uma história em que se poderá ou não acreditar, restanto no fim mais dúvidas que certezas. Aceito as gravuras, aceito quem as defende, mas espero por provas a sério justamente por não ser especialista na área. Se a única coisa importante ali é a arte é como eu digo, serre-se o xisto e leve-se para um museu. Estou no fundo a defender o Sabor e o Côa, não há património que pague a impunência da natureza. A não construção da barragem não deveria ser por causa das gravuras mas sim pela beleza do que já rareia, do que é quase selvagem.
As gravuras de Foz Côa são para mim ainda uma acto de fé. Espero que um dia deixem de o ser.
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