Estamos a falar de memória e
de ocupação humana com milhares de anos... não seriam uns anos debaixo de água
(para quem não sabe, o prazo de durabilidade de uma barragem é de umas dezenas
de anos que nem chegam a ser centena) que iriam prejudicar esse saber e essa
memória. Por vezes é preciso ter um conhecimento mais alargado, que
ultrapasse a "quintinha" dos arqueólogos, que na maior parte das vezes pouco
mais sabem do que umas técnicas de escavação... quando as sabem, é
claro.
As questões do património,
da paisagem e do desenvolvimento, necessitam de mais conhecimentos e de mais
abertura de espírito e sobretudo muito mais experiência que a de manejar
o colherim.
J Cruz
----- Original Message -----
Sent: Thursday, July 10, 2008 2:10
AM
Subject: [Archport] RE: Opinião Expresso
Miguel Sousa Tavares
Caro Filipe, É com
alguma tristeza que leio a sua opinião. Tristeza, por um lado, porque
revela que ainda não nos livrámos das ideias de muita gente em ver o museu
como os antigos "gabinetes de antiguidades", em que a exposição
descontextualizada das peças era levada ao extremo, quer em quantidade, quer
em péssima qualidade; por outro lado, porque ainda há quem não compreenda
a verdadeira importância da arte do Vale do Côa, integrada num parque natural
e representando, internacionalmente, um dos principais complexos de arte
rupestre. Quanto à veracidade das datações,
remeto-o apenas para o simples caso do Fariseu, em que um painel gravado se
estendia verticalmente ao longo das camadas estratigráficas escavadas (isto,
sem falar das restantes técnicas de datação utilizadas no Vale do Côa e das
ocupações humanas aí encontradas e contemporâneas às
gravuras). O que o complexo
patrimonial do Vale do Côa nos apresenta não é material que possamos desligar
do sítio. Se ali existe um importantíssimo conjunto artístico, é porque deriva
de uma ocupação também de grande valor e inserida num espaço
propício. Portanto, penso que não
seria uma barragem que iria valorizar mais o património natural do Côa, como
defende, já que submergiria parte da nossa memória (não falo de portugueses ou
ibéricos, mas de toda a Humanidade). A "defesa do Sabor e do Côa", como
pretende, está, na minha opinião, a ser bem gerida pelo PAVC e pela sua
política de sustentabilidade e só quem não visita o parque e não compreende o
objecto histórico como estando inserido num contexto em que os factores
circundantes impelem para a criação de História, não consegue entender esta
questão. Contudo, opiniões valem o que
valem, e a minha é apenas a de um simples iniciado nesta
área. Saudações. Carlos Martins.
Date: Thu, 10 Jul 2008 00:38:55 +0100 From:
filipe.bmoniz@gmail.com To: Archport@ci.uc.pt Subject: Re: [Archport]
Opinião Expresso Miguel Sousa Tavares
Como é óbvio não conheço o trabalho desenvolvido na totalidade, só
conheço as publicações daí a opinião anterior. Pelos escritos o importante são
os auroques, a comparação do estilo com outro sítio que possui contexto
arqueológico e o aparecimento de dois bocados de silex esbatidos numa sondagem
que serviram sem sombra de dúvidas por parte dos escritores para fazer as
gravuras. A partir disto e aplicando um estilo quase lírico monta-se uma
história em que se poderá ou não acreditar, restanto no fim mais dúvidas
que certezas. Aceito as gravuras, aceito quem as defende, mas espero por
provas a sério justamente por não ser especialista na área. Se a única coisa
importante ali é a arte é como eu digo, serre-se o xisto e leve-se para um
museu. Estou no fundo a defender o Sabor e o Côa, não há património que pague
a impunência da natureza. A não construção da barragem não deveria ser por
causa das gravuras mas sim pela beleza do que já rareia, do que é quase
selvagem.
As gravuras de Foz Côa são para mim ainda uma acto de fé. Espero que um
dia deixem de o ser.
filipe
Instale a Barra de Ferramentas com Desktop Search e ganhe EMOTICONS para o
Messenger! É
GRÁTIS!
_______________________________________________ Archport mailing
list Archport@ci.uc.pt http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport
|