Olá a todos.
Gostaria de partilhar esta pérola de opinião
douta e sustentada por parte de um dos mais reputados opinion makers de
Portugal, Miguel Sousa Tavares publicada no Expresso de 5 de Julho de 2008,
na sua primeira parte sobre Foz Côa:
"1 A história
das gravuras de Foz Côa e da futura barragem do Sabor é uma lição exemplar
dos malefícios da demagogia, servida na política. Guterres tinha acabado de
chegar a primeiro-ministro e, dos disponíveis dos Estados Gerais, foi buscar
para ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho (que, depois e quando a nave
socialista começou a meter água, foi o primeiro a saltar fora e, desmentindo
a máxima de Guterres de que 'Roma não paga a traidores', acaba por ser
compensado com o melhor tacho de todo o Estado português - o de embaixador
na UNESCO). Juntos à época, Guterres e Carrilho resolveram inaugurar o
mandato com uma decisão grandiosa: cancelava-se a barragem de Foz Côa, já em
construção, e a benefício da preservação de uns tacanhos rabiscos numas
pedras, que alguns 'sábios' e alguns oportunistas decretaram ser gravuras
paleolíticas. E nem a desfeita causada pela maior autoridade mundial na
matéria - que, levado a ver os rabiscos, sentenciou que o suposto
Paleolítico teria entre trinta e trezentos anos - abalou o entusiasmo e a
determinação dos então governantes em jurar que, a partir daí, o património
cultural teria prioridade sobre tudo o resto.
A barragem
prevista foi, pois, suspensa e, quanto às gravuras, sabe-se o que aconteceu:
as prometidas excursões de milhares e milhares de portugueses e europeus
previstas jamais aconteceram; o novo modelo de 'turismo cultural', que ali
se iniciaria, foi nado-morto; não aconteceram os trabalhos científicos
anunciados nem o interesse mundial naquela fantástica descoberta. Em
contrapartida, arranjou-se uns lugares vitalícios para funcionários do
Paleolítico e, vá lá, vá lá, desistiu-se de lhes fazer a vontade gastando
mais uns milhões num museu sem conteúdo e sem qualquer viabilidade
económica. Mas a barragem fazia falta à EDP e fazia falta à regularização do
curso navegável do Douro. Por isso, não avançando Foz Côa, avança a barragem
do Sabor, cuja construção Sócrates acaba de adjudicar.
Acontece que o Sabor, para quem não conhece, é,
talvez, o mais bonito rio de Portugal, o mais preservado, o mais selvagem.
Se passassem nas televisões um filme sobre os rabiscos de Foz Côa e outro
sobre o curso do Sabor, as pessoas ficariam chocadas ao perceber aquilo que
se decidiu preservar e aquilo que se decidiu destruir. O suposto Paleolítico
derrotou o presente e o futuro. A invocada cultura afogou a beleza - um
contra-senso filosófico que nem o dr. Carrilho conseguiria explicar. Nós
destruímos os rios (e em nome do 'ambiente', como explicou Sócrates) e
depois gastamos dinheiro a construir, e ainda bem, fluviários para explicar
às criancinhas o que é um rio. O problema é que, se as "gravuras não sabem
nadar", os rios não sabem protestar. E é assim que se governa, quando o mais
fácil é ceder à demagogia."
Saudações
a todos,
Tiago
Fontes.