[Archport] Notícia Jornal Público
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Oeiras
Vila romana pode vir a ser área de interesse arqueológico
08.08.2008 - 19h09 Nicolau Ferreira
O
património do Concelho de Oeiras pode vir a ficar com mais uma área de
interesse arqueológico. Durante Julho foi feita a prospecção da vila
romana de Leião, perto de Porto Salvo, conhecida desde a década de
setenta do século passado.
"Trata-se de uma zona com 100 metros
por 80, quase a área de um campo de futebol", explica por telefone ao
PÚBLICO João Luís Cardoso, director do Centro de Estudos Arqueológicos
da Concelho de Oeiras.
Apesar de já se conhecer a existência do
local há décadas, o risco de se urbanizar uma área que até agora só
tinha sido cultivada, torna urgente a necessidade de conhecê-la
cientificamente e verificar o grau de importância da vila. "É um local
absolutamente intacto. Não há construção ulterior ao abandono da vila",
explica o arqueólogo que também é professor catedrático da Universidade
Aberta.
Durante o mês de Julho, uma equipa formada pelo Centro
de Estudos Arqueológicos do concelho, pelo GEOTA - Grupo de Estudos de
Ordenamento do Território e Ambiente do por estudantes e professores de
arqueologia estudaram o local. A Câmara de Oeiras apoiou o projecto com
dez mil euros.
Houve recolha de material à superfície e
posteriormente uma empresa alemã contratada, utilizou a técnica do
sonar, para fazer uma sondagem ao solo. "O georadar permitiu a
identificação de estruturas arqueológicas enterradas", disse o
especialista. E o que se viu foram muros ortogonais, que "aparentam
configurar a parte urbana da vila". Para além disso sabe-se que existem
fragmentos de estuque pintados e placas de mármore de revestimento.
À
volta da capital Olisipo, o nome romano da cidade de Lisboa, foram
edificadas muitas vilas, que cultivavam terrenos à volta. Cada vila
romana continha uma parte rural e uma propriedade urbana, onde vivia o
proprietário e que tinha várias construções.
Existem vestígios
que datam de uma altura imediatamente anterior à chegada dos romanos à
região, entre os séculos III e I antes de Cristo. "Estas vilas podem
estender-se até ao século IV ou V depois de Cristo", explica o
arqueólogo. Mas ainda se sabe muito pouco.
Toda a prospecção
feita até agora foi não intrusiva. Em Setembro iniciam-se as escavações
para se perceber o grau de importância do local. Se estiver bem
preservado, para além do valor científico, pode tornar-se numa área de
interesse arqueológico, com importância do ponto de vista cultural e
educacional.
"Tudo indica que pode vir ser uma área de interesse
arqueológico", explica o arqueólogo. Perto da região, o achado só é
comparável à vila romana de Freiria, no Concelho de Cascais e a uma
vila romana que está debaixo de um edifício do século XVIII do centro
histórico de Oeiras.
O relatório final está previsto para
2009. Cabe ao Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e
Arqueológico avaliar se a área deve ser só preservada por registo
documental ou se a sua importância patrimonial e científica justifica a
delimitação de uma área de interesse arqueológico. Nesse caso, qualquer
construção teria de respeitar o traçado da vila romana, que poderia ser
integrada no circuito turístico e cultural do concelho e do país.