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[Archport] Descoberta perto de Almodôvar a mais extensa inscrição em escrita do sudoeste

Subject :   [Archport] Descoberta perto de Almodôvar a mais extensa inscrição em escrita do sudoeste
From :   "Alexandre Monteiro" <no.arame@gmail.com>
Date :   Mon, 15 Sep 2008 10:59:53 +0100

Descoberta perto de Almodôvar a mais extensa inscrição em escrita do sudoeste

Público, 15.09.2008, por Carlos Dias

Investigadores classificam o achado como "excepcional", sublinhando
que os 86 caracteres decifráveis da estela funerária agora descoberta
poderão permitir reconstituir o seu texto

Uma equipa da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa descobriu
na última sexta-feira, na estação arqueológica da Mesas do Castelinho,
em Santa Clara-a-Nova, no concelho alentejano de Almodôvar, uma estela
funerária em xisto datada da primeira Idade do Ferro, situada entre os
séculos VIII e V a.C.

O arqueólogo Rui Cortês disse ao PÚBLICO que o vestígio arqueológico
agora descoberto é de "excepcional importância", por se encontrar
intacto e por apresentar um total de 86 caracteres que abrem as portas
para que a chamada "escrita do Sudoeste" venha a ser decifrada.

A estela funerária não se encontrava numa necrópole e foi descoberta
por mero acaso pelos arqueólogos envolvidos em mais uma campanha de
escavações na Mesa do Castelinho, numa zona já prospectada, numa rua
romana, com as inscrições viradas para baixo. Do conjunto das 16
estelas que se encontram depositadas no Museu da Escrita do Sudoeste
de Almodôvar (ver caixa), a que acaba de ser descoberta "é um exemplar
muito vistoso e apelativo e com um texto enorme".

A estela de maior relevo anteriormente descoberta num território da
serra do Caldeirão que abrange parte do Baixo Alentejo e do Algarve,
conhecida com Estela de S. Martinho, apresenta 60 caracteres
epigrafados e também foi descoberta por acaso. O achado foi feito
durante os trabalhos de escavação para a instalação de um tanque de
água num local onde não havia mais pedras.

A pedra encontrada ficou então abandonada até que o proprietário do
terreno revelou a Rui Cortês, na sequência de um trabalho de
investigação que o arqueólogo efectuava em Silves, que tinha em
determinado sítio uma pedra "com letras".

A "escrita do Sudoeste", também conhecida como tartéssica, "é a mais
antiga da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa", explica
o arqueólogo. Na sua origem encontra-se a influência fenícia nos
tartessos, nome pelo qual os gregos conheciam a primeira civilização
do Ocidente, que se terá desenvolvido nas actuais regiões da Andaluzia
espanhola e do Baixo Alentejo e Algarve.

Tal como a maior parte das outras escritas paleo-hispânicas, à
excepção do alfabeto greco-ibérico, a escrita tartéssica apresenta
signos que representam consoantes e vogais, como os alfabetos, e
signos que representam sílabas, como os silabários.

A sua utilização é conhecida entre os séculos VIII e V a.C. no
Sudoeste da Península Ibérica e envolveu os povos que habitaram,
durante a primeira Idade do Ferro, as regiões do Baixo Alentejo,
Algarve, Andaluzia ocidental e Sul da Estremadura (estas duas últimas
no actual território espanhol). A escrita dos tartessos, que receberam
influências culturais de egípcios e fenícios, é distinta das dos povos
vizinhos, é mais complexa e permanece indecifrável até à actualidade.
Os seus textos apresentam-se quase sempre da direita para a esquerda
sobre estelas. O achado agora descoberto vai ficar exposto no Museu da
Escrita do Sudoeste de Almodôvar a partir do dia 25 deste mês.

A Câmara de Almodôvar abriu ao público em Setembro de 2007, no antigo
cineteatro municipal, um museu onde estão expostos os vestígios de uma
das maiores e mais importantes concentrações de "escrita do Sudoeste"
da Península Ibérica. O novo espaço museológico apresenta um espólio
de 16 estelas achadas no concelho de Almodôvar. Ao todo, conhecem-se
75 exemplares deste géneros em território português e 90 na Península
Ibérica. As estelas funerárias ali exibidas são pedras tumulares de
xisto com inscrições da Idade do Ferro.


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